Rose Amorim
Uma manhã na praia de Itacaré – na Bahia – ou uma tarde em um restaurante no Japão. O que parece cenário de férias, agora se confunde com uma rotina intensa de trabalho. Esse é o estilo de vida dos nômades digitais — pessoas que aproveitam a tecnologia para trabalhar de forma remota ao mesmo tempo em que viajam pelo Brasil ou até mesmo pelo mundo.
No estilo de vida trazido pelos trabalhadores viajantes, os espaços tradicionais de emprego, como os escritórios, são substituídos pela flexibilidade e por viagens que prometem imersões culturais. Dessa forma, os nômades fazem uso de novas tecnologias para conduzir seus negócios, trabalhar a distância e produzir renda de qualquer lugar do mundo.
Quem faz das cidades brasileiras o seu local de trabalho é o publicitário Raphael Leão e a profissional de marketing Rayane Alves. O casal de Goiás que está junto há sete anos, já conheceu oito estados e mais de 50 cidades a bordo de uma Kombi Motor Home — veículo adaptado para ser uma casa sobre rodas.
“Em 2017, concluímos a faculdade e saímos dos nossos trabalhos para começar a construir nosso sonho de conhecer o Brasil. Viramos microempreendedores, registramos a nossa agência de publicidade e começamos com nossos primeiros clientes no estilo Home Office”, contou Alves.
Entre os destinos visitados pelo casal estão Florianópolis, Foz do iguaçu, Gramado, Copacabana, Ilhas de Paraty e Itacaré. De acordo com Rayane Alves, o fato de não estar em um escritório, trabalhando no modelo tradicional, contribui para a melhoria do seu desempenho.
“A produtividade aumenta muito porque você consegue trabalhar de forma autônoma. Seguimos uma rotina normal de dias úteis, cumprimos nossas tarefas e nossa agenda sem muitas interferências e pressão”, explica. “Temos uma imensa liberdade, mais flexibilidade de horário, podemos dar uma pausa e estar próximo ao mar ou passear em cidades históricas durante a noite”, completa a profissional de marketing.
O que pensam as empresas
Um levantamento realizado pela Fundação Instituto de Administração (FIA), mostrou que 94% das empresas brasileiras atingiram ou superaram suas expectativas de resultados com o home office. A pesquisa foi feita entre 14 e 29 de abril, com 139 empresas.
Esse cenário reflete as mudanças causadas pela pandemia. Com uma adoção mais ampla do trabalho em casa, o que se viu foi uma flexibilização dos modelos tradicionais. Um exemplo dessa situação é o caso da Huggy — startup de atendimento digital. A empresa implementou o home office desde o início da pandemia e pretende continuar nesse formato.
De acordo com o COO da startup, Willians Oliveira, o home office pode oferecer a possibilidade do funcionário se tornar um nômade digital.
“Para atividades mais simples e bem definidas, a flexibilidade de poder estar em um lugar diferente e a cada período desenvolver o seu trabalho em um local específico é muito válida”, explica.
Ainda segundo Oliveira, a empresa também passou a fazer contratações de funcionários para prestação de serviços à distância. “É uma nova forma de trabalho e as empresas devem se adaptar a esse novo contexto. Acredito que o modelo de trabalho dos viajantes trabalhadores será muito aceito pelas empresas porque o mundo foi forçado a se tornar digital nos últimos oito meses. A nossa empresa, por exemplo, vai ficar em um modelo híbrido no qual os nossos colaboradores poderão trabalhar de onde acharem melhor”, contou.
Um escritório no mundo
Quem já teve a confirmação de que permanecerá no home office, mesmo com o fim da pandemia, já pode pensar em organizar a carreira no nomadismo digital não só nas cidades brasileiras, mas também com viagens internacionais. Países como Estônia, Barbados, Bermudas e Geórgia oferecem um visto específico para os trabalhadores viajantes. A medida tem como objetivo fomentar o setor cultural e incentivar o turismo.