Muitas pessoas enfermas pedem para serem curadas, mas na verdade, não desejam a cura. Isso porque tornaram-se tão dependentes que não conseguem mudar o seu modo de ser e viver. Permanecem presas a vícios, a sentimentos de culpa e perda da autoestima.
VOCÊ quer ser curado? Jesus, com certa frequência, fazia essa pergunta aos enfermos. Foi assim com o homem que estava doente, numa cama, havia 38 anos, em Betesda. Fez pergunta semelhante a Bartimeu, cego e mendigo em Jericó, que clamava dizendo: “Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim!”. Quando foi colocado diante de Jesus, ouviu a pergunta: “Que queres que eu faça?”. (Lc 18.35).
ESSA PERGUNTA pode parecer ofensiva, porque, é claro, que o homem enfermo havia 38 anos e o cego queriam ser curados. A resposta à pergunta de Jesus pode parecer evidente, porém não é tão óbvia como pensamos. A cura requer, às vezes, um longo período de tratamento e exige disciplina, mudança de hábitos e abandono do modo de viver. Precisamos nos levantar, tomar o leito e andar, assumir novas atitudes, seguir adiante não cometendo mais os mesmos erros.
SER CURADO, envolve mais do que recuperar a saúde física, a pessoa precisa mudar outros aspectos da vida. Um paralítico, ao ser curado, não necessitará mais de alguém para carregá-lo. Não poderá mais permanecer em sua cama ou cadeira de rodas mendigando. Terá de trabalhar, cuidar de outros em vez de ser cuidado, deixar de ser dependente e se tornar protagonista de sua história.
NEM TUDO o que queremos estamos dispostos a fazer. Queremos ser curados das ofensas do passado, mas não estamos dispostos a perdoar. Queremos ser curados do isolamento e da solidão, mas não estamos dispostos a caminhar em direção ao outro. Queremos ser curados dos vícios que nos aprisionam, mas não estamos dispostos a nos submeter às propostas que nos levam a cura.
JESUS não apenas quer nos curar, mas também tem o poder para fazê-lo. A cura de doenças, de desequilíbrios mentais e de vícios requer que sigamos o tratamento proposto por Jesus. Ele não apenas curava o corpo, mas também libertava o enfermo das prisões da culpa, rejeição, medo e pecado. Restaurava a dignidade da pessoa. Deus sempre faz a sua parte. Nós precisamos fazer a nossa: cuidar da saúde física e mental.
Dom Itamar Vian
Arcebispo Emérito
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