Por Vladimir Aras
Pelas barbas do profeta! Nem cabelo escapa da criminalidade.
Em 14/out, o centro comercial Orixás Center, em Salvador, foi palco de um episódio embaraçado. Um ladrão roubou de um salão de beleza grande quantidade de cabelos humanos. O assalto foi sofisticado. O larápio conferiu o volume, escolheu as madeixas, as mais longas, sedosas, cacheadas e vistosas, e as acondicionou numa mochila que ele mesmo levou para a cena do crime. Depois fugiu numa motocicleta pilotada por um cúmplice.
É acirrada a concorrência entre salões de beleza, peruqueiros e fazedores de apliques e megahair. Nesse mercado, os cabelos “virgens” (nunca tingidos) são os mais valiosos. A prática se gloablizou. Casos assim têm ocorrido em todo o mundo, sempre em torno da indústria da beleza. Às vezes, os crimes são cometidos contra mulheres, especialmente indianas, evangélicas ou indígenas, que, por motivos distintos, costumam cultivar longas cabeleiras. As vítimas são interceptadas e submetidas, mediante violência ou grave ameaça, a um corte radical. Isto seria o crime do art. 14 da Lei 9.434/97, ou seria roubo (art. 157 do CP), ou mera lesão corporal (art. 129)? Para não alongar a narrativa, deixo essa especulação para depois.
Na Bahia, o ataque foi ao salão, que sofreu um prejuízo de 15 mil reais, o que configura roubo. Os funcionários ficaram de cabelos em pé quando viram a arma do ladrão. Não era tesoura nem navalha. Era um três-oitão.
Qual um exímio barbeiro, o roubador passou a máquina zero na vitrine e no mostruário. Não sobrou quase nada. Os donos do estabelecimento já estavam carecas de saber que aquela região da cidade era perigosa, mas nunca imaginaram tal audácia. O ladrão nem marcou hora e já chegou querendo ser atendido. Enquanto os empresários contam os prejuízos, os investigadores da Polícia Civil estão perdendo os cabelos à procura de pistas. Ainda não encontraram o fio da meada.
As vítimas não puderam fazer um retrato falado do assaltante, nem conseguiram descrever seu penteado. Não se sabe se era chanel, pixaim ou algo mais moderno, do tipo Justin Bieber. Podia estar de peruca. As câmeras de vigilância do centro comercial não registraram o seu look.
O lobisomem, um dos maiores fornecedores do estabelecimento descabelado, está revoltado com a falta de segurança pública na cidade. Atualmente, vender cabelos para salões é seu único meio de vida. Segundo os jornais, Rapunzel também protestou. A associaçãos dos metaleiros declarou-se preocupada com a escalada de eventos.
O detetive Kojak cuidará do caso. O experiente policial prometeu estudar o emaranhado de vestígios e desvendar a autoria do crime ainda que tenha de achar pelo em ovo.
– “Vou catá-lo como um piolho”, disse.
Em resposta aos seus críticos – que o acusam de estar fora de forma e sem audiência no Ibope –, Kojak atacou: – “Vão pentear macacos!”.
Segundo uma fonte do Blog do Vlad, o facínora conhecido como “Edinho Mãos-de-Tesoura” é um dos principais suspeitos dessa trama enrolada. Mas os detetives acreditam que a cabeleireira “Dalila” é a verdadeira mandante do roubo. Seus antecedentes criminais são bem conhecidos. Sansão, sua primeira vítima, jamais se recuperou. A meliante foi vista em Salvador no Carnaval de 2009, mas está foragida desde então. –”Cadê Dalila?”, perguntei ao investigador. Ele se negou a responder.
Até agora ninguém foi preso. Se for pego, o ladrão estilista terá direito a uma aplicação de pena e a um corte de cabelo na prisão. Este tratamento de beleza, com artigos da marca 157, está incluído na estada de 5 anos e 4 meses a que o assaltante faz jus no spa estadual, situado no agradável complexo penitenciário da Mata Escura. Como o tratamento é progressivo, o cliente sairá de lá muito antes de seus cabelos ficarem brancos. Mas isto você já sabe: nossas leis não têm pé nem cabeça.