O I Simpósio de Meliponicultura do Bioma Caatinga está sendo realizado na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), com o objetivo de fortalecer a cadeia produtiva da meliponicultura, reunindo meliponicultores, criadores de abelhas, estudantes, pesquisadores e empreendedores para discutir, a biodiversidade das abelhas na caatinga.
Formações, palestras, rodas de conversas, oficinas e concursos estão fazendo parte da programação que começou na quinta-feira (14) e encerra-se hoje (16), às 18h.
Em entrevista ao Acorda Cidade, a bióloga, Isabel Fróes, contou que o evento é destinado a toda comunidade interessada no desenvolvimento da meliponicultura, que é a produção das abelhas sem ferrão, nativas do bioma caatinga, alinhando sustentabilidade e profissionalização. Isabel disse que elas são totalmente diferentes de outras espécies.
“No Brasil são quase duas mil espécies, sendo que 300 são de abelhas sem ferrão, elas são criadas na meliponicultura, que é o que a gente tá tratando aqui, e na caatinga a gente tem espécies que são endêmicas do bioma, que são exclusivas daqui, como a Mandaçaia, o Melipona Mandacaia, a Munduri. Estamos tratando também a produção com conservação”, pontuou.
Segundo Isabel, foram mais de 500 inscritos visando mostrar que a apicultura tem se fortalecido na caatinga nos últimos 20 anos e nas novas formas de produção que estão surgindo, como a meliponicultura, que tem surpreendido em seus benefícios.
“O mel das nativas sem ferrão, ele tem maior poder antioxidante, maior atividade biológica e cada vez mais a ciência descobre ações específicas terapêuticas desse mel, superior as abelhas exóticas introduzidas, por exemplo”, relatou.
A bióloga diz que a maioria dos criadores que estão expondo no simpósio são da Bahia, mas também há produtores e pesquisadores do Sudeste e do Sul. Além das palestras e da exposição dos produtos, o evento oferece minicursos.
“Quando você participa de um evento como esse, conhece todas as pessoas que estão envolvidas com a meliponicultura, existe uma possibilidade de fazer conexões e contatos muito grande e isso é muito positivo para criadores, empreendedores, para quem está envolvido nessa questão ter acesso a novas informações. Você pode participar de minicursos com pessoas extremamente qualificadas que talvez você não tivesse acesso em outro lugar. Temos desde doutores, a meliponicultores compartilhando toda a sua experiência aqui nesse ambiente”, disse Isabel.
O engenheiro agrônomo do Instituto Federal Baiano, Rogério Alves, palestrou em uma dessas ações. Ele falou que os ‘Meliprodutos’ tem como base, a própolis, o pólen e o mel, mas existem outros componentes nutricionais que estão sendo utilizados pelo mercado.
“Os produtos das abelhas são conhecidos como produtos nutritivos, a exemplo, o samburá, que é o pólen, que você tem muita proteína nele. Tem muito carboidrato, açúcar, então, você tem força e proteína. Tem a própolis que seria o produto terapêutico, aquele que a gente utiliza em algumas afecções e hoje está provado que nessa pandemia foi fundamental para aumento da imunidade”, explicou.
Além do mel que as abelhas podem produzir, doces, perfumes, sabonetes podem ser encontrados no evento. O encontro apresenta uma gama de produtores de diversos locais. O agrônomo que também é coordenador do evento, contou que o mel tem muita água e pode chegar a ter 70% de açúcar, mas o mel brasileiro tem uma especificidade a parte que contribui para a qualidade do produto oferecido.
“Quando a gente fala de abelha brasileira, o mel é o melhor nesse sentido de que ele é um produto que a gente chama maturado, sofreu uma fermentação, mas continua sendo mel e nessa fermentação ele é crescente, ele vira é um produto vivo. Então o mel dessas abelhas sem ferrão é considerado produto vivo, porque ele continua a fermentação e vai formando novos produtos, por exemplo, os compostos fenólicos que vão ajudar a combater células cancerígenas, por exemplo”, explicou.
A própolis é formada através da resina das plantas coletadas e misturada à saliva das abelhas. Segundo o coordenador, são esses componentes que tornam o mel e os outros produtos, como fortes agentes cicatrizantes.
“No combate de células cancerígenas ele é usado normalmente em líquido, em extrato, mas também pode ser feito em spray. É excelente para cicatrização, tem uma ferida, você passar a própolis, com certeza cicatriza. A Geoprópolis, que é Mandaçaia, por exemplo, que ela contém um barro, que tira o extrato líquido e usa para as afecções, no entanto, sobra o barro. Eu uso no combate de doenças de orquídea esse barro, porque ele contém o princípio ainda do antibiótico que seria própolis e contém a areia em que é formada, que logicamente, faz com que as plantas tenham uma camada de resistência que o fungo não vai penetrar”, observou.
O ‘lambedor’, aquele xarope caseiro que as avós costumam fazer em casa, o agrônomo explica como fazer e como tomar. “É só pegar a casca de abacaxi orgânico, colocar própolis e mel e dar às crianças. Mas tem que dar em fevereiro, aqui na região, porque se você vai dar quando já está doente não vai resolver, a gente tem que prevenir”, reforçou.
Rogério disse que para saber se o mel é verdadeiro é necessário verificar no laboratório. Apesar disso, ele reforça que o produto vendido na região tem uma excelente qualidade.
“Nós temos 20 mil apicultores e meliponicultores na Bahia, consequentemente é melhor você adquirir o mel do produtor. Além de ajudar na cadeia produtiva, também vai estar levando um produto bom para saúde. Feira de Santana tem muita gente que produz e vende, não precisa comprar esses que não tem segurança. Fique amigo do apicultor que ele vai te ajudar”, recomendou Rogério.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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