A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), levou o PDT para a sua base aliada, deixando o partido mais distante de apoiar o projeto de reeleição do prefeito João Campos (PSB) no Recife. A adesão mexe com a disputa de forças local entre os dois políticos.
Esse é o segundo partido atraído por Raquel que estava aliado a Campos. O primeiro foi o PSD, que rompeu com o prefeito em agosto de 2023.
Com isso, o prefeito, apesar de ser favorito à reeleição, está mais dependente do PT para conseguir um tempo de propaganda expressivo no rádio e na televisão. Hoje, ele tem o apoio apenas do Republicanos e do PSB.
A federação PT/PV/PC do B tende a caminhar com o prefeito, mas exige indicar um petista para a vaga de vice na chapa. O nome mais cotado para a vaga, caso fique com o PT, é o do assessor do Ministério das Relações Institucionais Mozart Sales. Além dele, o deputado federal Carlos Veras corre por fora.
O PSB resiste a ceder a vice para o PT por causa da possibilidade de Campos ser candidato a governador em 2026, o que exigiria renunciar ao cargo e entregar a prefeitura para o PT.
Ao longo dos últimos dez anos, a relação entre pessebistas e petistas é de múltipla desconfiança e inclui dois rompimentos em Pernambuco.
No PT, a leitura é que há resistência de Campos e do PSB. Caso haja negativa, os petistas prometem apelar à única pessoa que acreditam que jamais ouvirá de Campos um não: o presidente Lula. Se mesmo assim não for possível, o PT admite que não há espaço para enfrentar o PSB e promete responder em 2026, caso o pessebista precise de apoio na disputa estadual.
Em entrevista à rádio CBN Recife em janeiro, Lula falou pela primeira vez sobre o assunto. “Acho que o João Campos tem clareza que é importante uma aliança com o PT. O que eu espero é que ele faça uma boa construção de chapa. Ele tem que se acertar em Pernambuco porque eu não tenho um nome para indicar”, disse.
“Tem duas lições importantes. A primeira é saber se João Campos vai ser candidato a governador em 2026. Aí quem for candidato a vice será prefeito de verdade”, afirmou Lula.
Os petistas de Pernambuco querem deixar o prefeito numa encruzilhada: se sair para ser candidato em 2026, o PT assume o Recife; caso não seja, querem acordo para Campos apoiar um nome do PT para enfrentar Raquel.
Atualmente, a vice-prefeita do Recife é Isabella de Roldão (PDT). A legenda pedetista já recebeu sinais de que a chapa com Campos não vai se repetir em 2024. Além disso, o PSB aceitou a filiação do senador Cid Gomes (CE) ao partido e não vai apoiar a reeleição do prefeito José Sarto em Fortaleza, principal capital governada pelo PDT.
Esses dois fatores levaram a direção nacional do PDT a se afastar do PSB. Em Pernambuco, o acordo de Raquel foi direto com o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, que é presidente nacional licenciado do PDT. Ele indicou um ex-assessor na pasta para ocupar uma secretaria no governo estadual.
Oficialmente, o PDT não rompeu com Campos. O presidente do partido em Pernambuco, o ex-deputado Wolney Queiroz, sinalizou a aliados que segue aliado ao pessebista.
Em Caruaru, o PSB anunciou apoio ao PDT na disputa contra o candidato de Raquel. O município é berço político da governadora. No Recife, a tendência é que o PDT siga com o grupo da tucana, ao menos entregando o tempo de propaganda no rádio e na televisão.
A próxima ofensiva de Raquel, segundo aliados, será no MDB, que é aliado dela e de Campos simultaneamente, mas não tem espaços relevantes no governo estadual. O partido ainda é tido como indefinido nas eleições do Recife.
Desde o início do governo, Raquel tem sido criticada por deputados estaduais em relação à articulação política. A governadora teve atritos sobretudo com o presidente da Assembleia, Álvaro Porto (PSDB). No início de fevereiro, o vazamento de um áudio com críticas do parlamentar a um discurso da chefe do Executivo piorou a situação.
Porém, no campo das articulações partidárias, as movimentações dela têm tido êxito até o momento. As negociações costumam envolver a troca de apoio por secretarias no primeiro escalão do governo. Outro partido que aderiu a Raquel recentemente foi o Podemos.
No entorno da tucana, há a crença de que Campos deverá ser candidato a governador em 2026. Por isso, o governo tenta levar a eleição do Recife para o segundo turno para disseminar o discurso de derrota, já que aliados do prefeito apostam na vitória em primeiro turno para, dependendo do percentual, mostrar força perante a governadora.
O pré-candidato oficial dela será o ex-deputado federal e atual secretário de Turismo de Pernambuco, Daniel Coelho (Cidadania). Além dele, a governadora estimula a candidatura do deputado federal Túlio Gadêlha (Rede-PE), que teve o nome lançado pela sigla no último sábado (2). O plano esbarra no PSOL, que tem federação com a Rede e cogita candidatura própria.
Nos bastidores, Raquel prepara uma ofensiva para ter a exclusividade do MDB, que é aliado de governo e prefeitura ao mesmo tempo. A governadora quer tirar o partido do palanque de Campos. Além da federação PSDB/Cidadania, a base de Raquel conta com PP, PSD, Podemos, PDT e PL. Esses partidos devem ter candidatos próprios ou apoiar nomes indicados pela tucana.
A leitura no governo é que, com a soma dos partidos, a oposição tem, neste momento, mais tempo de propaganda na televisão e no rádio garantido para tentar desconstruir a imagem de Campos na campanha eleitoral.
Para enfrentar as adversidades na TV, aliados do prefeito dizem que ele já reconheceu a necessidade de ter a federação liderada pelo PT em seu palanque, mas quer postergar a definição sobre vice para julho, enquanto os petistas querem resolver o impasse até abril.
No Carnaval, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, esteve em eventos no Recife junto a Campos e outros aliados, incluindo os cotados para a vice Carlos Veras e Mozart Sales.
Fonte: Bahia Notícias, parceiro do Acorda Cidade
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