Orisa Gomes
O Dia da Saudade, comemorado na quarta-feira (30), foi a deixa para que muitas pessoas recobrassem as memórias e revivessem emoções vinculadas a momentos ou pessoas que marcaram as suas vidas. Mas afinal de contas, por que sentimos saudades? Quem explica é a psicóloga Marina Queiroz, que em entrevista ao Acorda Cidade também ressaltou as maneiras como podemos lidar com esse sentimento doloroso e aproveitar o que ele tem de melhor.
Segundo Marina, a saudade está atrelada à sensação de perda de algo ou alguém que está fora do nosso alcance, do vazio que essa ideia causa e ao fato de muitos não saberem lidar com isso. “É como se tivesse um lugar dentro da gente que só aquilo pode preencher”, afirma.
A maior das saudade
Tida como a maior das saudades, a causada pela morte chega a parecer incurável, mas até nesses casos é possível reverter as sensações de ausência e vazio. De acordo com Marina, embora os meios variem de pessoa para pessoa, uma forma curativa de lidar com esse tipo de saudade é enchendo o coração com a presença de quem se foi, por mais contraditório que isso pareça. “Quando morre um ente querido, a única forma que a gente tem de se despedir daquela pessoa tendo paz é enchendo a vida com aquela pessoa”.
Para exemplificar, a psicóloga relata a experiência que vive diante da ausência material do próprio pai. “Meu pai morreu e a forma que eu tenho de me preencher com a ausência dele é a convicção de que ele está muito presente em mim, nas minhas falas, células, no meu coração. A presença é muito real e nesse sentido ele está tão vivo que eu posso comunicar a existência dele a outras pessoas e então assim é mais fácil se despedir.”
Já quando a despedida de um ente querido é feita com não aceitação de que ele vá, pelo receio do vazio, ninguém tem paz. “Nem a gente fica em paz, nem aquela memória. Mas quando a gente consegue olhar para a pessoa e dizer: ‘eu sou muito grata por tudo que eu vivi com você e tudo que você representa para mim, eu olho para isso com muito amor e com muita honra e por causa disso eu te tomo inteiro dentro do meu coração, você agora vive dentro de mim’. Aí com muito respeito eu consigo deixar o outro ir e eu fico em paz, porque ele está aqui”.
Um coração partido de saudade
“Das lembranças que eu trago na vida/ Você é a saudade que eu gosto de ter…”. E se até o rei Roberto Carlos já teve o coração partido de saudade, que atire a primeira pedra o mero mortal que jamais passou por isso. Também para esta dor, que no ápice das emoções tira até mesmo a vontade de viver, há remédio.
Conforme a psicóloga, o ideal é “olhar” para a pessoa amada que já não quer o relacionamento, guardar tudo de bom que ela deixou e permitir que ela vá em paz, respeitando o livre arbítrio. “O apego não permite isso, identificar até que ponto é amor e apego. Se ama e a pessoa precisa ir, eu tomo dentro do meu coração todos os momentos bons vividos e olho para isso com muito respeito e com muita honra e permito que o outro vá. Ainda que o outro vá e eu passe a ter outros relacionamentos, aquele ainda existe em mim, em um lugarzinho de honra. Não estou mais apaixonada, mas aquele não precisa ser excluído. Eu dou um lugar a ele, ele realmente fez parte da minha vida, fez parte da minha historia, marcou um tempo da minha vida e por isso ele tem um lugar de respeito. Agora eu digo que ele vá e me abro para que coisas nossas venham.”
O que mais causa dor na separação, inclusive de morte, conforme a psicóloga, é que a pessoa acha que precisa esquecer, porque senão vai continuar sofrendo. “Se obrigar a esquecer vai excluir aquela pessoa e exclusão faz mal e gera consequências. O ideal é incluir sempre”, reforça.
Saudade é presença
Como transformar a dor da saudade em alegria? Pelo que relata Marina, só depende da interpretação. “Esse poder de transmutação das coisas, nós humanos temos. Eu morei em vários lugares e tenho amigos espalhados pelo Brasil inteiro e costumo falar com eles e dizer que a saudade deles é a presença deles dentro de mim. E cada vez que eu sinto saudade, e ela é minha fiel companheira, é a presença da pessoa”, pontua.