Política

Para 42% dos brasileiros, governo Bolsonaro agiu mal em crise do óleo

Avaliação negativa foi maior no Nordeste, região mais afetada pelas manchas de óleo; metade da população nordestina considerou ruim ou péssimo a ação do governo

Pesquisa Datafolha divulgada nesta segunda-feira (23) aponta que 42% da população avalia que o governo Jair Bolsonaro teve um desempenho ruim ou péssimo ao lidar com o vazamento de óleo que atinge o litoral brasileiro desde o fim de agosto. Para 31% dos entrevistados, a ação do governo foi regular e para 23%, foi ótima ou boa. A avaliação negativa de governo federal foi maior no Nordeste, região mais afetada pelas manchas de óleo – metade da população nordestina considerou ruim ou péssimo o desempenho de Bolsonaro em relação à crise. O levantamento do Datafolha foi realizado com 2.948 pessoas acima de 16 anos em 176 municípios nos dias 5 e 6 de dezembro de 2019 e mostrou que a maior parte dos brasileiros (92%) tomou conhecimento do desastre ambiental. Até o momento, 972 pontos foram afetados, e mais de cem animais morreram após contato com o petróleo. À Folha de S.Paulo, Mauricio Voivodic, diretor-executivo da ONG WWF-Brasil, afirmou que a resposta do governo federal ao desastre “foi muito aquém da necessária, tanto para a investigação da origem do óleo como nos processos pouco transparentes com que o Brasil conduziu essa gestão”.

“A transparência dá segurança para a população, e a falta dela deixou todos nós muito preocupados e inseguros. Estamos assim até hoje”, completou. A demora do governo federal em agir para lidar com a questão foi notória: o primeiro pronunciamento oficial em rede nacional sobre o vazamento de óleo ocorreu 55 dias após seu início e um site para centralizar informações foi colocado no ar 56 dias depois. Para completar, o presidente Jair Bolsonaro não visitou nenhuma das áreas afetadas. O governo também fez uso de declarações infundadas sobre o assunto. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, por exemplo, insinuou, sem apresentar provas e usando uma imagem antiga, que um navio do Greenpeace poderia ser o responsável pelo vazamento de petróleo. Ele ainda culpou as administrações do PT pela fragilização de órgãos ambientais no Brasil e pelas dificuldades de resposta do Estado em situações de crise. O presidente Bolsonaro também atacou ONGs e reclamou de um suposto silêncio das organizações em relação ao derramamento de óleo. O ápice do descaso por parte do governo com a questão se deu quando Jorge Seif Junior, secretário de Aquicultura e Pesca, afirmou, em uma das lives semanais do presidente que “o peixe é um bicho inteligente” que “quando ele vê uma mancha de óleo, foge”.

A demora na ação pode ser explicada, também, pela extinção pelo governo Bolsonaro, em abril deste ano, de conselhos responsáveis pela resposta a desastres com óleo – foram extintos os comitês Executivo e o de Suporte do Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo em Água (PNC), criado durante o governo Dilma Rousseff (PT). Ainda não se sabe quem foi o causador da crise. Em novembro, a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão em uma agência marítima no Rio, e tinha como alvo o navio Bouboulina, de bandeira grega. Ele apareceu como suspeito em análise da empresa privada Hex Tecnologia. Na última quinta (18), porém, o coordenador-geral do Cenima (Centro Nacional de Monitoramento e Informações Ambientais), Pedro Bignelli, disse em depoimento na Câmara para a CPI do óleo que o Ibama havia rejeitado o relatório da Hex. (Bahia.Ba)

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