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No dia 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, libertando 750 mil negros. Desta forma encerrava-se um longo período da história. Oficialmente, tinha fim a escravidão no Brasil. O processo de extinção da escravidão foi lento e progressivo. Em 1871, era aprovada a lei do ventre livre e, em 1885, foi sancionada a lei dos sexagenários.
ESCRAVIZAR é reduzir outra pessoa a uma propriedade particular. É a coizificação do outro. É reduzir o outro a instrumento de trabalho, à mercadoria que se compra, explora vende ou mata. Mesmo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos e muitas outras leis, a escravidão continua sendo uma das piores violências de um ser humano sobre o outro, de um povo sobre o outro.
“AINDA hoje milhões de pessoas – crianças, homens e mulheres de todas as idades – são privados da liberdade e constrangidos a viver em condições semelhantes ás da escravatura. Penso em tantos trabalhadores e trabalhadoras, mesmo menores, escravizados nos mais diversos setores, em nível formal e informal”. (Papa Francisco).
NA BASE da escravidão encontra-se a convicção de que as pessoas podem ser tratadas como objetos. Os outros deixam de ser vistos como seres de igual dignidade, como irmãos e irmãs. Daí para a mercantilização das pessoas é um pequeno passo. Alia-se a isso a corrupção daqueles que, para enriquecer, estão dispostos a tudo.
A BAHIA, principalmente a região Oeste, está no mapa da escravidão brasileira contemporânea. Ali, nas grandes fazendas do agronegócio, o trabalho escravo tornou-se uma constante. O moderno e o arcaico, a produção e a devastação, a tecnologia e a escravidão andam de braços dados.
ANIMA-NOS a existência, em nosso país, do Ministério Público do Trabalho. De 1995 a 2012, esse Ministério, no combate ao trabalho escravo contemporâneo, inspecionou 3,3 mil estabelecimentos, de onde foram resgatados mais de 43 mil trabalhadores. Tais dados são uma pequena amostra das dimensões do trabalho escravo em nosso país.
A ÚNICA atitude que não pode acontecer é o anestesiamento das nossas consciências e de nossa ética. A escravidão sempre foi e será degradante, humilhante, uma aberração. Nossa tarefa é fazer a sociedade pensar e agir contra essas bestialidades e sempre lutar a favor da vida e dignidade de cada ser humano. Deus revela o que pensa da escravidão: “ouvi o sofrimento do meu povo e desci para libertá-lo”(Ex 3,7-8).
+ Itamar Vian
Arcebispo Emérito
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