Um dia quando saí da escola, vi um colega de classe, chamado Carlos, caminhando para casa. Ele carregava, na mochila, todos os seus livros.
Pensei: "deve ser um C.D.F. quem vai estudar tudo isso num fim de semana". Dei os ombros e segui. Mais para frente vi um grupo de garotos correndo em direção ao Carlos. Eles arrancaram a mochila, o óculos dele e o jogaram no chão. Quando ergueu o rosto pude ver a tristeza nos olhos dele.
Senti pena e corri até ele que tateava o gramado a procura dos óculos. Encontrei os óculos e, ao entregar, disse "aqueles caras são uns babacas".
Ele olhou para mim e disse: "obrigado". Havia um grande sorriso na sua face. Ajudei a apanhar a mochila e fui caminhando com ele para a casa. Fomos conversando e percebi que Carlos era um garoto legal. Perguntei se queria jogar futebol no sábado. Ele topou. E aí começou uma boa amizade que durou pelos quatro anos de escola. Eu nem me lembrava mais como nossa amizade tinha começado. Mas, chegando no dia da formatura, Carlos, que era o orador da turma, começou um discurso que me espantou!
Quando ele subiu no palco, na hora dos agradecimentos, em vez dos pais, professores, ele olhou para mim e disse que só estava ali graças a um amigo. E começou a contar a história do dia em que nos conhecemos. Aquele dia, contou Carlos, seria o último da vida dele. Tinha pensado em pôr um fim na vida solitária e sem amigos. Por isso levou os livros para casa para que a mãe não tivesse que passar por essa dor, depois que ele morresse. Mas, me deu um sorriso e disse: "felizmente eu fui salvo.
Meu amigo me salvou. Eu estava com o nó na garganta diante de todos na platéia enquanto aquele rapaz, hoje popular e forte, falava sobre seu momento de fraqueza. Pude ver também o pai e a mãe dele olhando para mim e sorrindo de gratidão.
Foi só aí que pude compreender que nunca devemos subestimar o poder das nossas ações. Com um pequeno gesto podemos mudar a vida de uma pessoa.