Irreverente, a Filha de Ogum com Iansã, que nunca foi em escola de dança para aprender a dançar e não erra um passo, deixou a modéstia de lado ao receber a honraria: “Eu mereço”. Negra Jhô se emocionou, mas conseguiu fazer um discurso descontraído, embora cheia de significados. “Sem luta não há vitória”, disse Negra Jhô, ao falar da luta por um espaço na sociedade. Agradeceu à família, aos amigos e, especialmente ao vereador Isaías de Diogo. “Sou do Candomblé, ele é evangélico e me respeita”, afirmou. A importância da família em sua vida foi destacada por Negra Jhô, citando os filhos e as irmãs. “Eu visto a minha história”, frisou a cidadã que já era feirense de fato e agora é também por direito. Sobre a celebração do dia da Consciência Negra, ela foi enfática: “A data existe, mas somos negros todos os dias”. E quanto a luta travada pelos negros, Jhô disse que nada vem fácil, “porque mundo é dos mais fortes”. Além do título, a mulher que se orgulha da própria história – até de ter comido muita farinha com açúcar – a homenageada ganhou uma música de Libu do Reggae e dançou, literalmente, no plenário da casa da cidadania.
Histórico
A artesã que trabalha no pelourinho, em Salvador, e se tornou referência em confecção de turbantes, recebeu com um sorriso largo os elogios do vereador Isaías de Diogo,que ao saudar os presentes em nome do legislativo feirense disse sentir-se honrado em prestar a homenagem. “A consciência negra está na mente das pessoas”, afirmou, salientando que “todos são iguais perante Deus” e que por isso não deve haver mais espaço para o preconceito e o racismo. A jovem Ana Beatriz Mascarenhas Gomes Lima, membro do núcleo de cidadania dos adolescentes (NUCA), primeira palestrante da noite, discorreu sobre a história dos negros no Brasil. “Hoje estamos aqui não apenas para comemorar uma data, mas para lembrar de nossos ancestrais que lutaram por liberdade’”, pontuou, citando nomes como Zumbi dos Palmares e Dandara, sua mulher, e Tereza de Benguela, dentre outros. “Continuaremos a lutar, mesmo que queiram apagar todas as nossas histórias”, sinalizou.
Meus passos vêm de longe
“Meus passos vêm de longe”. A citação da ativista Jurema Werneck Sheila inspirou a palestra da assistente Sheyla Klícia Silva da Conceição, que falou sobre a luta dos negros, destacando as experiências de mulheres negras que fizeram a diferença na sociedade diante da realidade do racismo no Brasil, onde o negro ainda é consumido pelo que classificou como “racismo perverso”. Sobre Negra Jhô, a integrante da Rede de Mulheres Negras da Bahia disse que a mesma “é uma das percussoras do empoderamento do cabelo natural”, um marco da valorização da negritude. “Mulher negra tem que dizer nome e sobrenome”, destacou Ivannide Rodrigues Santa Bárbara, membro do Movimento Unificado Negro e da Organização de Mulheres em Defesa da Cidadania, ao se referir à homenageada. “Ela conseguiu superar a sociedade machista, enfrentou, brilhou e serve de referência para grandes nomes de mulheres baianas. Conseguiu espaço, não só comercial no Pelourinho, mas o reconhecimento social”, enfatizou. “Eu sou negra desde a hora que acordo”, afirmou a terceira palestrante da noite.
Presenças
A sessão foi conduzida pelo vereador Alberto Matos Nery, 1º vice-presidente da Casa Legislativa, que compôs a Mesa de Honra ao lado de Edson Borges, secretário municipal de Cultura, Esporte e Lazer, representando o prefeito Colbert Martins da Silva Filho; as três palestrantes da noite; e a homenageada, que foi prestigiada por familiares e amigos que ocuparam o plenário e na galeria, dentre os quais seu filho Kaiodê Tadeu.