por Vladimir Aras
É um horror sem fim! Mais de 7.500 pessoas foram executadas na guerra contra os “narco” no México, somente em 2010.
Semana passada, 21/ago, 72 migrantes foram mortos numa chacina tão incompreensível quanto brutal. Eram pessoas que tentavam ingressar nos EUA pelo Estado mexicano de Tamaulipas. Levados por coiotes, acabaram sequestrados pelos narcos do cartel Los Zetas e cruelmente fuzilados. Para aumentar o espanto, ontem 27/ago, foi encontrado o corpo do promotor Roberto Javier Suárez Vázquez, designado pelo Ministério Público para investigar o massacre. Supõe-se que também tenha sido morto pelos traficantes.
O México foi loteado por vários carteis das drogas. Os mais famosos e violentos são o cartel de Juárez, o cartel Los Zetas, o cartel de Sinaloa e o cartel do Golfo. A infiltração dessas organizações criminosas na economia e no Estado é alarmante. Mesmo com as Forças Armadas nas ruas, ajudando as forças policiais locais e nacionais, não há expectativa de “vitória” alguma sobre os narcos.
Diante disso, a sociedade mexicana começa a discutir seriamente se não é o caso de legalizar as drogas. O ex-presidente Vicente Fox é partidário da ideia. Mas, para funcionar, a legalização teria de ser total, o que incluiria a maconha e outras substâncias muito mais prejudiciais à saúde, como a cocaína, a heroína e as metanfetaminas. E, como consequência, seria necessária uma rede muito bem montada de saúde pública para atender aos usuários e aos drogaditos, cujo contingente certamente cresceria.
Imagina-se que tal providência teria o mesmo efeito alcançado nos Estados Unidos quando foi revogada a Lei Seca (Volstead Act). Em todo o país, a Era da Proibição (1919-1933) fortaleceu organizações mafiosas, que se especializaram no tráfico de “intoxicating liquors“. Ao fim, a interdição mostrou-se ineficaz, pois o número de consumidores de álcool não se reduziu no período, e os gangsters ficaram ricos e ganharam grande poder de corromper.
É relativamente fácil descobrir alguns dos fatores que contribuíram para esse (narco)estado aterrador. O México é um país pobre como o Brasil. Grande parte de sua população é facilmente recrutável pelos carteis, seduzidos por melhores condições de vida e pelo dinheiro fácil. Para seu azar, o país fica na rota do tráfico entre as nações produtoras de drogas da América do Sul, especialmente a Bolívia, o Peru e a Colômbia, e o maior mercado consumidor, os Estados Unidos.
Estar tão perto dos EUA, onde o consumo de drogas só faz crescer, não ajuda em nada o México. Ao mesmo tempo em que os jornais repercutem o massacre de Tamaulipas, noticiam de Las Vegas que a socialite Paris Hilton foi (mais uma vez) presa por posse de drogas, desta vez cocaína. Onde houver um cidadão norte-americano interessado em drogar-se, haverá um traficante mexicano interessado em atendê-lo. É a economia, amigos.
Some-se a isto um Estado fraco e corrupto e você terá o resultado sangrento e odioso dos últimos anos. Milhões de dólares gastos. Milhares de mortos. E resultados pífios. Será que a repressão às drogas vale todo este sacrifício em vidas humanas?
É preciso romper este ciclo de violência que se sustenta em práticas de corrupção e lavagem de dinheiro . O regime global de proibição às drogas, hoje fundado na Convenção de Viena de 1988, fracassou fragorosamente no Terceiro Mundo. A proibição só tem conseguido duas coisas: enriquecer os carteis e produzir chacinas. México, Colômbia e Paraguai são as baixas mais evidentes. Mas, a julgar pela situação do Rio de Janeiro e de outras grandes cidades do País, o Brasil anda a passos largos para se juntar a esse rol. Neste campo, o direito penal e as cadeias podem muito pouco.
No Brasil, o debate ainda é tímido. Iniciativas como a Marcha da Maconha são logo tachadas de apologia às drogas. Vamos com calma. Não há apenas usuários entre os favoráveis à legalização das drogas. Alguns policiais e agentes da Justiça e da Segurança Pública também são. Para saber mais sobre o movimento contra a proibição, conheça o site da ONG Law Enforcement Against Prohibition – LEAP (aqui).