Dom Itamar Vian

Mortos que falam

A morte se apresenta como um dos maiores desafios e mistérios de todos os tempos.

Foto: Pixabay
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A morte se apresenta como um dos maiores desafios e mistérios de todos os tempos. É a passagem para a outra vida. Ela é a volta para Deus, donde saímos. Desde o nascimento caminhamos para a morte, mas o cristão sabe que com ela, começa a verdadeira vida: o nascimento para a eternidade.

MORREMOS em prestação. Morremos um pouco a cada dia. No aniversário, comemoramos um ano a mais. Na contabilidade correta, deveríamos contar um ano a menos. A cada ano, a cada dia, mais nos aproximamos do fim da viagem. Mas, essa viagem, não tem quilometragem certa, nem tempo certo de duração. Ela está sujeita a um acidente qualquer e em qualquer lugar. A morte é nossa caroneira e pode assumir o comando a qualquer momento.


ONDE VAMOS
morrer? Não sabemos. A morte está presente em toda a parte. Na terra. No ar. No fogo. Na água. Nas ruas. Nas praças. Nas casas. Nos hospitais. Nas rodovias… Quando vamos morrer? Também não sabemos! Vigiai e orai, disse Jesus, porque não sabeis nem o dia e nem a hora. Quem se deita à noite para o descanso, não tem certeza de se levantar. Quem começa um novo dia, não tem certeza de chegar à noite. Quem começa a construir uma casa, não tem certeza de vê-la concluída…

O FILÓSOFO francês Gabriel Marcel disse: “A morte é bela, se a vida for bela”. Morre-se bem, quando vive-se fazendo o bem. Quando o Papa João Paulo II e a Irmã Dulce foram sepultados, a multidão, até então silenciosa, prorrompeu numa salva de palmas. É, por isso, que a sabedoria antiga afirma: “Há mortos que falam”. Isto é, há vidas vividas de forma admirável que se constituem na mais eloquente mensagem para os que ficam. São uma referência. São modelos a serem imitados.

TODOS nós temos uma missão a cumprir nesse mundo. Ninguém nasce por acaso! Nossa vida é uma peregrinação. É uma romaria. A vida assemelha-se aos rios: todos correm para o mar. Não temos aqui casa permanente. Cada minuto que passa, cada pulsação do nosso coração, é um passo que damos rumo à eternidade. E Santo Agostinho dizia: nosso coração está inquieto, enquanto não descansar em Deus!

O CRISTIANISMO garante ter boas notícias sobre a morte. Para a pessoa de fé, o que parece morte, torna-se vida, vai para a “Casa do Pai”. A morte, para quem acredita em Cristo e para quem fez o bem, é uma recompensa. E São Paulo nos garante: “Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também, os que morrem em Jesus, Deus há de levá-los em sua companhia” (1Ts 4,14). E a vida continua!


Dom Itamar Vian
Arcebispo Emérito
[email protected]

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