OS TRIUNFOS Romanos constituíram-se no maior espetáculo da antiguidade. Quando um general voltava de uma batalha com uma vitória, o Senado conferia-lhe o privilégio de desfilar pelas ruas da cidade. Porém, ao longo do caminho, a cada 500 metros, um escravo se aproximava da carruagem e lembrava ao vitorioso: “Lembra-te que és mortal”.
ALGO parecido acontecia no ritual da posse de um novo papa. O mestre de cerimônias queimava um feixe de palha e proclamava: “Sic transit gloria mundi” (Assim passa a glória do mundo). General e papa, nos momentos mais solenes de suas vidas, eram convidados a refletir sobre o fim de todas as coisas humanas.
A FRASE “Lembra-te que és mortal” deve ser lida em dois contextos. No primeiro deles, a recordação que ninguém é mais que ninguém. Todos somos iguais em dignidade. O sucesso ou o fracasso, a cultura, a cor da pele, a idade são apenas fatos circunstanciais. Embora carregados de méritos, todos são iguais. Tudo passa, tudo muda e, por vezes, muda muito rapidamente.
NO SEGUNDO contexto, possivelmente o mais explícito, está a recordação da finitude da vida. Somos mortais e, um dia, deveremos ter o encontro com a morte, que não leva muito a sério as estrelas de um general ou a mitra de um papa. A morte admite a última vaidade, um túmulo cheio de esplendor e uma frase que colocará algum dos muitos ângulos da vida.
MAIS do que a morte, deve nos preocupar a vida. A morte tornará definitivo nosso projeto. Vivendo intensamente cada dia, estaremos preparando o grande dia. É o dia sem fim, o Dia do Senhor. Neste dia não valerão os triunfos e a glória, a fama e a riqueza, apenas as boas obras nos seguirão. Cada dia deve ser vivido como se fosse o único e o último de nossa vida. Somos mortais que caminhamos para a imortalidade.
A ETERNIDADE é uma casa que estamos construindo agora para habitar depois. O futuro tem tudo a ver com o presente. É no tempo que construímos a eternidade. Quando soar o apito final, como no futebol, vale o placar do jogo. A eternidade torna definitivo nosso projeto de vida. E com esses sentimentos de esperança e fé que devemos celebrar o Dia de Finados.
+ Itamar Vian – Arcebispo Metropolitano
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