Racismo

Jornalista é vítima de racismo dentro de loja em Feira de Santana

Os funcionários da loja chegaram a chamar uma viatura da Polícia Militar.

Foto: Reprodução/Redes Sociais
Foto: Reprodução/Redes Sociais

O jornalista Ferreira Júnior registrou uma queixa de racismo contra uma loja de eletrodomésticos no centro comercial de Feira de Santana, no dia 2 de março deste ano. Ele relatou ao Acorda Cidade, que um fiscal de loja chamou uma guarnição da Polícia Militar, por achar que poderia ocorrer um assalto na loja, naquele momento.

“Eu fui até uma loja de eletrodomésticos aqui em Feira de Santana para fazer uma tomada de preços de um televisor, e também iria dar uma olhada em um celular. Fiquei próximo de uma bancada dos celulares durante 10 a 15 minutos falando ao celular, conversando com o meu irmão, enviando uns vídeos para ele editar, já que ele também é da área da comunicação. Um funcionário se aproximou de mim e perguntou o que eu queria, de uma forma áspera. Eu falei: ‘amigo, estou falando ao celular, daqui a pouquinho serei atendido’. Neste meio tempo, três minutos depois chegou uma guarnição da polícia, com o giroflex ligado e dois policiais adentraram a loja, até senti, ‘será que é algo comigo?’. Desconfiei, mas não tive a certeza no momento. Eu vi que os policiais chegaram por trás, falaram: ‘olha, eu preciso do seu documento agora’, me abordaram, não foram agressivos, não foram ostensivos no momento porque eu me mantive muito calmo no momento”, informou.

Após a abordagem, Ferreira Junior se apresentou como jornalista e informou que iria iniciar uma gravação com o próprio celular, pois já imaginava estar sofrendo racismo pelo tom da cor da pele.

“Fiquei muito tranquilo, muito calmo, apresentei meu RG, carteira de jornalista, e falei, ‘eu sou jornalista, sou uma pessoa da comunicação em Feira de Santana, imagino que isso aqui se trata de um ato de racismo, pelo meu tom de pele, porque fosse alguém branco, acredito que o rapaz não chamaria a polícia, por estar 15 minutos aqui na loja falando o celular’. De imediato esse chefe de fiscalização de segurança, ficou nervoso, foi para o fundo da loja com uma das coordenadoras de vendas. Eu solicitei aos policiais, ‘vou fazer um vídeo para uma prova de que estou sofrendo racismo, não irei filmar o seu rosto, porque trabalho neste segmento, sei que não posso’. Ele disse, ‘você tem esse direito, pode filmar sim’. Por sinal a policial estudou comigo no Assis, ou seja, nós levamos uma vida legal, estudando, trabalhando, saía do bairro Gabriela para a faculdade para estudar, para ser alguém, para nunca fazer algo de ilícito, nunca pegar no que é dos outros, e você ser confundido com um bandido, única e exclusivamente, claramente pelo seu tom de pele. Me senti muito constrangido, humilhado, porque tinham clientes dentro dessa loja”, lamentou.

Ferreira Júnior registrou um Boletim de Ocorrência (BO) no dia seguinte e foi ouvido pela delegada Ludmila Vilas Boas na última sexta-feira, dia 13 de Maio, dia em que é lembrada a Abolição da Escravatura.

“No dia seguinte eu fui chamado para ser ouvido, fui depor no dia 13, sexta-feira passada, justamente um dia tão simbólico para nós negros, que é o dia que se comemora 134 anos da abolição da escravatura, no ano de 1888, e até os dias atuais nós negros, sofremos diariamente atos de racismo. Independente de se tratar de uma pessoa pública, eu nunca tinha sofrido isso, nunca tinha sido tão humilhado, e nesse dia eu me senti assim. Fiquei muito triste com isso, passei um período doente, sem sair de casa, trabalhando pelo celular. A gente precisa trabalhar, principalmente nós que somos autônomos, hoje não presto serviço para nenhuma empresa, não sou contratado por nenhuma empresa, faço meu trabalho para sobreviver, enquanto jornalista, para cuidar dos meu filhos e me senti muito humilhado”, relatou.

O advogado que está acompanhando o caso, Thiago Glicério, informou que todo cidadão que se sentir vítima de um crime de racismo, tem o direito de buscar uma autoridade policial.

“Todo cidadão que se vê em uma situação dessa, vítima de um crime de racismo ou outro qualquer, tem o direito constitucional de buscar e deve buscar autoridade policial para que a autoridade policial faça uma investigação. Estamos ainda em uma fase de inquérito policial, essa é uma fase inicial. O inquérito policial é como se fosse o pontapé inicial, a pessoa leva as informações de um suposto ou possível crime perante à autoridade policial, a qual tem por dever legal e administrativo de proceder uma investigação. Essa investigação colherá as informações necessárias, para que possa no futuro, caracterizar a existência de um crime ou não. No caso concreto, específico, o BO foi lavrado, posteriormente comparecemos na semana passada, na sexta-feira, dia 13 de maio, conforme Ferreira já frisou, uma data que deveria ser comemorativa, a abolição da escravatura em 1888. Todos sabemos que foi uma fase cruel, essa data de comemoração, infelizmente nós estávamos na porta de uma delegacia para mais uma vez defender os direitos do cidadão. Verificamos essa situação, fomos atendidos pela delegada, e os demais agentes”, explicou.

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