A imaginação é um dos recursos que as crianças usufruem para brincar e se divertir. Em alguns casos, o imaginar pode ser a fuga de uma realidade dolorosa. Pensar, fazer de conta, é muito importante no desenvolvimento e na projeção da vida. Neste 20 de março, Dia do Contador de Histórias, o Acorda Cidade conversou com a psicóloga, Priscila de Jesus Lima, para ressaltar a necessidade das narrativas imaginárias no dia-a-dia dos pequenos.
Segundo ela, a imaginação se faz presente em praticamente todas as atividades da criança. É através do lúdico que elas desenvolvem suas capacidades cognitivas, imitando, reproduzindo o que acontece ao seu redor. A fantasia é a elaboração do modo de vida e de acordo com ela, eles brincam de viver.
“O poder da atividade da imaginação contribui significativamente para a formação e percepção do mundo pela criança. E é a partir das brincadeiras que os pequenos criam as suas narrativas e constroem os seus espaços de entendimento do mundo. Pois seus saberes continuam acumulados e a imaginação funciona como uma dimensão em que os novos conhecimentos estão sendo absorvidos e assimilados”, acrescentou.
Neste sentido, ‘fazer de conta’ e contar histórias é essencial para estimular a imaginação, a formação da personalidade através da interiorização dos valores, nas famosas historinhas infantis com moral. Quem não se lembra da história da lebre e da tartaruga, que ensina o valor do esforço de cada um?
Priscila Lima, que é especialista em psicanálise, ressaltou a importância da imaginação no período da infância, que é o tempo de experimentação e destacou os benefícios da prática socialmente e emocionalmente.
“Essas atividades estimulam a imaginação, educam, instruem, ajudam a desenvolver a linguagem. Tem o desenvolvimento de pensar criticamente desses sujeitos e facilitam o aprendizado. A imaginação tem a função psicológica que ajuda no estabelecimento das relações de ordem conceitual e comportamental. Entre os conteúdos representativos e a forma de organização do mundo. Vai colaborar para compreender o real e auxilia para a compreensão do mundo, dos papéis e funções sociais”, pontuou.
Além do desenvolvimento e percepção de mundo, a criança pode utilizar a imaginação como mecanismo de enfrentamento para driblar as dificuldades, limitações e adversidades que a vida pode apresentar, conforme explicação da psicóloga.
“Quando a criança brinca de casinha ou de alguma profissão, normalmente o processo é imitativo dos seus cuidadores, dos pais, dos responsáveis. E a gente entende que ela está ensaiando os papéis da sociedade. A brincadeira em si promove a criança expressar as suas necessidades e anseios. O brincar vem também como uma forma de atuar e dramatizar situações que a criança vivencia. Ou, em alguns casos, a criança está elaborando uma experiência traumática. É o processo de repetir e elaborar”, observou.
Apesar do pensamento ser algo natural, os responsáveis que estão presentes no cotidiano das crianças, devem buscar outras maneiras para estimulá-las.
Seja em casa ou na escola, pais e educadores devem incentivar crianças a brincar, imaginar, ler e contar histórias para que elas possam manifestar, por meio de diferentes linguagens, suas ideias e pensamentos.
Segundo Priscila, a infância é o momento ideal para introduzir narrativas imaginárias, pois elas vão auxiliar na formação das crianças, enquanto cidadãs.
“A criança começa a desenvolver o processo imaginativo com dois a três anos, mais ou menos. O interessante é que aconteça com estímulo. A ideia é permitir que essa criatividade aconteça, fazer com que dê asas a essa imaginação”.
Um dos desafios nesse processo é a tecnologia, as telas e as redes sociais, que atualmente têm tomado muito do tempo das crianças. Inclusive, o uso exacerbado pode atrapalhar o desenvolvimento, as habilidades sociais e de linguagem, além de prejudicar o desenvolvimento cognitivo e afetivo.
Para isso, os responsáveis devem estabelecer limites para uso de telas e adaptar as tecnologias ao que os pequenos já indicam sua preferência, tirando das redes sociais e colocando em aplicativos de artes criativas.
“Podem observar o que a criança gosta, incentivá-la com outras possibilidades ou até mesmo mostrar para a criança que existem outras possibilidades. Por exemplo, fazer móveis de brinquedo, criar um carrinho com caixa de papelão, ou criar uma casinha de boneca”, destacou.
O uso das telas para atividades de desenvolvimento e imaginação
Desenhar no Paint é uma indicação. Mas para as crianças que já dominam a tecnologia, construir castelos e diferentes mundos no Minecraft pode ser fácil e uma maneira prazerosa e divertida de usar as telas em benefício da imaginação. É importante relembrar o tempo de uso.
Priscila trabalha em uma clínica e faz atendimentos levantando abordagens da psicanálise com pais, crianças e educadores, tratando dificuldades.
“Hoje as crianças, de algum modo, estão inseridas numa lógica de que elas querem fazer apenas o que querem, e tem sido muito difícil conseguir exigir regras. Estamos todos inseridos nesse mundo das redes sociais, das mídias sociais, dos jogos, do uso do telefone e das telas. Acaba sendo uso comum entre os pais e as crianças, querendo ou não, acabam fazendo esse processo imitativo”, ressaltou.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade
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