Por Vladimir Aras
Tudo começou com Mohamed Bouazizi. Este jovem recém-formado de 26 anos desesperou-se quando a Polícia proibiu-o de vender legumes nas ruas da cidade de Sidi Bouzid, no interior da Tunísia. Bouazizi estava desempregado e imolou-se. Foi no dia 17/dez.
Depois disso, vários protestos tomaram as ruas de Túnis, levando à queda do tirano Zine al-Abedine Ben Ali, em 14/jan, na chamada Revolução de Jasmim. Ben Ali estava no poder havia 23 anos, e a insatisfação popular era latente. A morte de Bouazizi, por fogo, fez explodir a revolta tunisiana e acendeu um rastilho de pólvora que se espalhou pelo Magreb, o Norte da África. De lá, a conflagração chegou ao majestoso Egito, onde centenas de milhares de manifestantes pedem a saída do ditador Hosni Mubarak, no poder há 30 anos.
Não adiantou derrubar a Internet. A rede social Twitter serviu para mobilizar a população do Cairo, especialmente os jovens, em busca de liberdade. Os ditadores é que devem começar a ser derrubados pelo levante eletrônico, a partir daquele evento isolado no interior da Tunísia. A alegoria do “efeito borboleta”, relacionada à teoria do caos, parece ser aplicável aqui. Sua construção deriva dos estudos do matemático americano Edward Lorenz, autor do artigo “Previsibilidade: o bater de asas de uma borboleta no Brasil desencadeia um tornado no Texas?” (Predictability: Does the Flap of a Butterfly’s Wings in Brazil Set Off a Tornado in Texas?”), de 1972. Toscamente falando: eventos aparentemente insignificantes podem desencadear consequências extraordinárias.
O clima está quente também na Argélia (Abdelaziz Bouteflika governa o país desde 1999), na Mauritânia (Mohamed Ould Abdel Aziz deu um golpe em 2008), na Jordânia (o rei Abdullah II foi obrigado a mudar o governo) e no Iêmen (Ali Abdullah Saleh está no poder desde 1978). A temperatura está muito acima dos habituais 40 graus.
Que acontecimento emocionante uma revolução! Bem que essa borboleta tunisiana podia abrir suas asas e visitar Havana, Caracas, Trípoli e Riad, para afugentar os ditadores locais e ir também a Teerã, a capital iraniana, para por fim à teocracia dos aiatolás, que aplicam um direito penal sanguinário e desumano (leia o post “O corno confesso e a Sharia” – aqui). Oxalá Ben Ali e Mubarak sejam somente as primeiras pedras do dominó. O tornado da história está por varrê-los.