O exercício do poder implica medir riscos, explorar as oportunidades, barganhar concessões e preservar para si a chave da porta do poder. Assim, pode ser definida a composição da chapa de ACM Neto como candidato ao governo baiano, sem José Ronaldo, que manifestou, várias vezes, o desejo de integrar a executiva.
Com esse objetivo, o ex-prefeito de Feira de Santana gastou toda a sola de sapato possível, acompanhando Neto, articulando lideranças e apoios, tentando tornar viável seu nome, entre a dezena de pretendentes.
Neto, que, certamente, já tinha em mente outras perspectivas, nunca tirou as ilusões de Ronaldo e, se não prometeu, não deixou de alimentar suas esperanças, no melhor estilo do ‘quem cala, consente’.
Sempre disse a amigos que conversam sobre política que Ronaldo só iria ser o vice se Neto não precisasse do cargo para construir uma aliança que garantisse votos, afinal, o eleitor de Ronaldo já está incluído nos simpatizantes do ex-prefeito. Portanto, não se paga caro por aquilo que já se tem.
Ao calcular o que poderia perder com a ausência dos Republicanos ‘um voto de fé’ e com a falta dos eleitores de Ronaldo, Neto resolveu que perderia mais lá do que aqui. José Ronaldo, no entanto, não é um político qualquer. Tem história, contatos, sabe fazer política, tem uma biografia de sucessos. Portanto, é lógico que deve ter recebido várias ofertas e propostas.
Ao escolher uma mulher, ainda que sem vida política, Neto aproveita o marketing e mantém, à sua exclusiva escolha e da família, o centro do poder. Neto já deixou Ronaldo segurar o pepino, quando renunciou à candidatura, no passado. E esse é um débito imenso. Ronaldo, por sua vez, antecipou o apoio a Bolsonaro, após o fim da campanha, o que deve estar na memória.
Mesmo que digam que Neto nunca prometeu nada a Ronaldo, não deixa de haver um cheiro de traição ou, ao menos, de uso e descarte. Claro que Ronaldo sabia dos riscos, afinal, não é exatamente um menor indefeso na política. Tem ciência dos perigos, quando se rompe um acordo.
A dúvida, agora, é se Ronaldo irá romper. Ou aceitar e continuar trabalhando pela vitória. Apoiar o PT, com certa fadiga de material e do qual sempre foi opositor, será difícil, porque seu eleitor é, em essência, antipetista. Poderia ser mais factível uma aproximação com Roma, candidato de Bolsonaro. Não é uma aposta fácil, porque se perder, ficará completamente excluído da política local. Entretanto, deve estar cogitando essa possibilidade, sim.
Ainda assim, passada a ira inicial, é mais provável que alguma forma de composição seja buscada por Neto, afinal, não se pode dizer que ficou bem na fita. E seria melhor que conseguisse manter o apoio de José Ronaldo, ainda que o entusiasmo jamais volte a ser o mesmo.
Feira, evidentemente, perdeu a oportunidade de conseguir uma posição de destaque no Estado. E Ronaldo de coroar a carreira ocupando a vaga de vice, agora, e o cargo de governador, em algum momento futuro. Resta esperar os ânimos esfriarem, para continuar o jogo que está sendo jogado. Neto mediu riscos, explorou as oportunidades, barganhou as concessões e preservou para si a chave da porta do poder. (Por César Oliveira, médico e comentarista político, diretor do Tribuna Feirense)
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