Quando eu entrei no Ministério Público da Bahia há quase 30 anos fui trabalhar na Chapada Diamantina, em Utinga, uma cidade entre Morro do Chapeu ao norte e a famosa Lençóis ao sul. Morei numa pousada simples, o Hotel da Dona Roxa. Durante os meses que vivi ali, fiz amizade com o filho dela, Luizinho.
Fui o primeiro promotor da comarca, que acabara de ser instalada, e não havia juiz ali. Até 1993, quando lá cheguei, Utinga era termo da Comarca de Rui Barbosa, distante cerca de 80 km. Num tempo ainda sem Internet, as pessoas em geral tinham um conhecimento precário sobre seus direitos e o funcionamento da Justiça. Em Utinga não havia nem emissoras FM, e TV somente se via com aquelas enormes parabólicas de então.
À noite, nas nossas conversas, eu explicava a Luizinho como funcionava a Justiça e quais eram os papéis das autoridades. Enquanto isso eu aprendia sobre as lendas da Chapada, sobre agricultura e o modo de vida do povo da região, que ele conhecia tão bem. Claro que saí ganhando com o que aprendi.
Um dia, Luizinho me atalhou no meio de uma conversa e disse algo assim:
Dotô Vlad, já entendi o que fazem um juiz, um promotor, um advogado e um delegado. Sei que sua caneta pode valer mais do que um .38. Mas aqui quem manda mesmo é o ….
Luizinho era um sábio. Me ensinou algo que, aos 22 anos, eu ainda não sabia.
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