Quando menino, ganhei uma medalha na escola como prêmio ao aluno que sabia ler melhor. Senti-me feliz e estufei-me de orgulho. Quando a aula terminou, voltei para casa correndo e entrei na cozinha como um furacão.
A velha empregada, que estava conosco havia muitos anos, ocupava-se no fogão. Sem nada comentar, fui direto a ela, dizendo-lhe:
– Aposto que sei ler melhor do que você.
E estendi-lhe o meu livro de leitura. Ela interrompeu o seu trabalho e tomou o volume. Examinando cuidadosamente as páginas, terminou pôr gaguejar:
– Bem, meu filho… eu… eu não sei ler.
Fiquei atônito. Sabia que papai estava em seu escritório àquela hora e voei para lá. Ele ergueu a cabeça quando entrei, suando, com o rosto em fogo, e eu lhe disse:
– Imagine papai, a Maria não sabe ler, e é uma velha. Eu, que ainda sou pequeno, já ganhei até medalha. Olhe só.
Estufei o peito para frente, para que ele visse o meu troféu e, comentei:
– Deve ser horrível não saber ler, não é, papai?
Com toda a tranqüilidade, meu pai ergueu-se, foi até uma estante e voltou de lá com um livro.
– Leia este livro para eu ver, meu filho. Foi maravilhoso você ter ganhado a medalha. Leia para eu ouvir.
Não titubeei, abri o volume e olhei para o meu pai cheio de surpresa. As páginas continham o que pareciam ser centenas de pequenos rabiscos.
Mensagem de quinta-feira, 03.06.10