Agressão

A liga forense de vale-tudo

No corner direito, de vermelho e preto, Prosecutor da Silva, o Acusador. No corner esquerdo, vestindo paletó e gravata, Fulano de Souza, o Ampla Defesa.

Por Vladimir Aras

Parecia campeonato de Ultimate Fighting Championship (UFC) ou de Mixed Martial Arts (MMA). A cena poderia ter ocorrido num octógono qualquer, num torneio de vale-tudo. Mas ocorreu no ringue da Barra Funda. O embate jurídico transformou-se num combate jurídico com bate-boca e vias de fato.

No corner direito, de vermelho e preto, Prosecutor da Silva, o “Acusador”. No corner esquerdo, vestindo paletó e gravata, Fulano de Souza, o “Ampla Defesa”.

O registro visual não é dos melhores. O cinegrafista da “TV Forense”, especialista em artes marciais, digo, registros judiciais, tentou preservar a dignidade da Arena de Têmis, mantendo close apenas no réu. Não conseguiu.
O primeiro round foi monótono. Perguntas anódinas ao réu, acusado de homicídio. No segundo round, o combate esquentou. Conforme as regras da nobre arte, os contendores estavam devidamente trajados com suas vestes talares e trataram-se com muito respeito, sem dispensar o protocolo. Foi mais ou menos assim o contraditório:

– “Eu não tô aqui para agradar“, disse Fulano de Souza, já uma nota acima do tom.

-”Você é bandido!”, veio do lado cá a provocação.

– “Bandido é Vossa Excelência“, Fulano de Souza retrucou.

Devolvendo o golpe, Prosecutor da Silva gritou: – “Vossa Excelência é bandido e pertence à liga do PCC“.

E, em seguida, veio o golpe abaixo da cintura: – “Bandido é Vossa Excelência, bandido é seu pai e sua mãe!”, desferiu Fulano de Souza.

Há uma regra básica no esporte: nunca ponha a mãe no meio da conversa. Isto vale mesmo para o “Ampla Defesa”. O filho atingido partiu para a tentativa de nocaute. “Prosecutor”, que teria sido treinado pelo técnico Massaranduba, foi para cima do oponente, mas não conseguiu “finalizar” o adversário. Apesar das trocas de golpes, a juíza ficou inerte no campo de batalha e não marcou a pontuação. Depois de separados os contendores, as agressões verbais mútuas continuaram. Ninguém foi preso.

A luta vai ser decidida no tapetão do Tribunal de Justiça Desportiva. O combatente do corner direito deve ser desclassificado do próximo confronto. A Liga da Justiça promete providências para a cassação da sua licença. O Conselho Nacional de Monitoramento de Pugilistas (CNMP) deverá se pronunciar. Aposta-se que Prosecutor da Silva será suspenso dos combates forenses por alguns dias, por violação ao Regulamento. Também se espera que a Organização Autônoma de Boxe (OAB) aplique uma advertência a seu membro. Por enquanto, o título de presumivelmente inocente ficou com o réu. Aliás, foi o único que se comportou como um gentleman.
 

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