Por Vladimir Aras
Há poucos dias, um juiz de Mato Grosso foi afastado pelo Tribunal de Justiça daquele Estado por supostas “condutas impróprias”. Não sei se é verdade. Mas, segundo matéria do Estado de São Paulo, o juiz costumava beber cerveja no fórum e teria sempre ao seu lado, mesmo nas audiências, uma cadela de estimação, não propriamente dócil. O tal juiz, que ainda seria estagiário, provavelmente enfrentará um duro processo administrativo que poderá resultar em sua expulsão da judicatura. É o chamado não vitaliciamento. Quando isto acontece, o sujeito se vai com o rabinho entre as pernas.
Afesta-de-aniversario-infantil Justiça tem muita gente com problemas. Os psicotestes, quando aplicados (ainda são?), não pegam os desparafusados ou não servem para barrar sua entrada. Juízes, promotores, procuradores, advogados, delegados, em todas as categorias jurídicas há histórias de maluquices, ora engraçadas, ora perigosas. É algo que merece estudo a psicologia dos bacharéis… Excentricidades e manias há de sobra. Há uns anos um juiz do Rio de Janeiro processou um condomínio porque exigia ser chamado de “doutor” pelo porteiro. Um membro do Ministério Público foi flagrado pelado em andanças em sua jurisdição. Um juiz do trabalho costumava usar a toga para dar aulas numa faculdade particular no Nordeste. Noutra praça, um promotor atendia as cidadãs da comarca usando um roupão de banho e perguntava-lhes se cumprimentariam o “órgão” (sic) do Ministério Público. Outro colega dalgum lugar desta grande Pátria, usando as vestes talares do júri, certa vez subiu num banquinho no plenário e, diante dos jurados, fingiu ser o Batman, com sua capa negra esvoaçante. Noutra cidade do sertão brasileiro, um delegado deu voz de prisão em flagrante a um cachorro, porque o pobre canino latia demais nas cercanias da Depol. Alhures, um advogado gordo e bonachão só fazia júri municiado do Código Penal e de um copo de conhaque (podia ser Dreher), “escondido” numa caneca de café. Este eu conheci. Em suma, o foro brasileiro é “uma festa estranha com gente esquisita”. Talvez eu também esteja na lista de alguém, vai saber.
Não conto a comarca, mas numa das tantas em que trabalhei como promotor de Justiça nos rincões da minha amada Bahia, o juiz Fulano certa feita convidou a “gente importante” da cidade para um aniversário em sua casa, na comarca vizinha, 80 km de barro mais adiante.
Ainda novato na carreira do MP, me animei com o que prometia ser uma festança lá naquele fim de mundo. Contudo, fiquei com o pé atrás. O doutor juiz era exótico. Numa das primeiras audiências de que participei sob sua presidência, ele já havia deixado um advogado tão nervoso e desconcertado com uma bronca que lhe deu, que o coitado, um piauiense branco como leite, engoliu uma mosca, literalmente, engasgou, começou a tossir e ficou vermelho como um tomate. Foi um constrangimento seguido de um pastelão. Lembrando deste e doutros comportamentos “diferenciados” de Sua Excelência, resolvi não ir à festividade. Afinal, sou baiano, e pensar na estrada de terra que levava à cidade da festa, já me deu uma preguiça danada. Mas um amigo estava lá e me contou o que os convivas, políticos e o minúsculo high society local, raniversário do próprio juiz, o Dr. Fulano. Não era. Para surpresa geral, após anúncio de honra, entra no recinto a jovem aniversariante, uma belíssima égua mangalarga, cujo nome de batismo infelizmente não posso revelar.
Seguiram-se aplausos e discursos.
É como se todos estivessem diante de um Calígula. E este foi um dos “meus” juízes. Alguns o achavam um “cavalo”. Mas era um visionário. A Lei 12.975, de 19 de maio de 2014, estabeleceu que “Fica declarada raça nacional a raça de cavalos Manga-Larga Marchador“. Podemos celebrar!
E, se você gostou deste post, leia este outro causo sobre “O capinha do tribunal“.