Saúde

'Vacinar crianças é seguro e mandatório', ressalta infectologista de Feira de Santana sobre a covid-19

De acordo com a infectologista, somente a vacinação ajudará a conter a propagação do vírus da covid-19 e o surgimento de novas variantes entre a população.

Laiane Cruz

O Ministério da Saúde anunciou que a vacinação de crianças a partir de 5 anos de idade deverá ser feita em janeiro, mediante autorização dos pais ou responsáveis e prescrição médica. Desde que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso da Pfizer para crianças de 5 a 11 anos, o governo federal tem se mostrado contrário à medida e abriu consulta pública sobre o tema.

Apesar das declarações dadas pelo Ministério da Saúde e o embate político que se travou sobre o assunto no país, especialistas da área científica e da saúde têm se mostrado favoráveis a vacinação para essa faixa etária. E 20 estados já anunciaram que não irão exigir a prescrição médica para imunizar esse público. No Brasil, a vacina autorizada para uso em crianças e adolescentes até o momento é a Pfizer.

Em entrevista ao Acorda Cidade, na manhã desta quarta-feira (29), a médica pediatra e infectologista Normeide Pedreira esclareceu que diversos estudos científicos e a prática da vacinação de mais de 7 milhões de crianças a partir dos 5 anos de idade nos Estados Unidos têm mostrado a eficácia da vacina para essa faixa etária. Para ela, é seguro e mandatório vacinar o público infanto-juvenil.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Podemos citar vários motivos para justificar essa importância. Um deles é que nós temos números preocupantes de internação e mortes de crianças no Brasil, e o país tem se mostrado como o país ou um dos países que mais tem internado crianças com covid e onde tem morrido mais crianças pela doença. Até o início desse mês de dezembro de 2021, ocorreram 34 mil hospitalizações de crianças e adolescentes, de 0 a 19 anos, com 2.500 mortes atribuídas à covid-19 nessa faixa etária. Entre 15 e 11 anos, foram aproximadamente 300 mortes dessas 2.500. E 50% das mortes ocorreram em crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos de idade. Hospitalizados com Síndrome Respiratória Aguga Grave (SRAG) por covid-19 no Brasil tiveram letalidade de 7%, enquanto nos Estados Unidos foi de 0,5%. A mortalidade por covid em menores de 19 anos no Brasil foi de 41 mortes por milhão”, alertou a especialista em saúde.

Ela lembra que países como o Chile e a Argentina já iniciaram a vacinação para crianças a partir dos 3 anos de idade, com a vacina chinesa de vírus inativado. E Estados Unidos, Reino Unido e outros países da Europa utilizam a Pfizer. De acordo com a infectologista, somente a vacinação ajudará a conter a propagação do vírus da covid-19 e o surgimento de novas variantes entre a população.

“Sempre que nós temos uma doença para a qual não existe vacina, entendemos que é uma doença de gravidade, com risco de complicações, hospitalização e morte. E vacinar é a estratégia melhor para conter esses problemas. Foi feito um levantamento sobre quantas crianças morriam no período antes da vacinação para todas as doenças que hoje temos vacinas. O que se observou foi que para nenhuma dessas doenças ocorreram tantas mortes num tempo tão curto, quanto com a covid-19. Isso nos faz afirmar que a covid sozinha matou mais crianças e adolescentes do que as outras doenças, para as quais hoje existem vacinas, antes dessas vacinas existirem”, ressaltou.

Doenças crônicas

A pediatra e infectologista Normeide Pedreira explicou também sobre a possibilidade de vacinar crianças e adolescentes com doenças crônicas. De modo geral, segundo ela, as crianças com comorbidades, as famílias devem ouvir o médico para ver se é o melhor momento, embora os doentes crônicos tenham risco aumentado para complicações e mortes por covid.

“A Sociedade Brasileira de Cardiologia, junto com a Brasileira de Pediatria e o Departamento de Cardiologia Pediátrica estão aconselhando as crianças cardiopatas a serem vacinadas. É claro que tudo tem que ter um aconselhamento da família com o médico, para saber se é o melhor momento, se a criança está estável. Mas a cardiopatia não vai impedir, assim como outras doenças crônicas também não. A princípio, todas as crianças para as quais a vacina está autorizada, ou seja, a partir dos 5 anos de idade, devem se vacinar. Abaixo dos cinco, os estudos ainda estão sendo realizados e a vacina ainda não está autorizada.”

Ela salientou que a vacina autorizada para crianças de 5 a 11 anos é diferente da que está sendo utilizada para o público de 12 a 19 anos, que é a mesma usada pelos adultos.

“A vacina autorizada para 5 a 11 anos, e que está sendo utilizada por alguns países, teve sua formulação feita exclusivamente para esse grupo etário, então é uma dose menor. Os estudos mostraram que com essa dose as crianças têm uma resposta excelente e para não haver confusão entre os serviços de aplicação e vacinadores, esses frascos vêm diferenciados. Então temos frascos com tampa roxa, para pessoas a partir de 12 anos, e com tampa laranja para essa população de 5 a 11 anos. A dose do imunizante corresponde a 1/3 da dose do imunizante para adultos e é menor também o volume a ser aplicado.”

Outro fato a ser observado quanto à vacinação infantil e adulta é com relação à propagação da variante Ômicron, presente em mais de 100 países. De acordo com Normeide Pedreira, já existem diversos estudos em andamento para conhecer os efeitos dessa nova cepa na população e a eficácia das vacinas existentes no mercado. Por outro lado, somente o aumento das taxas de vacinação no mundo será capaz de conter novos casos, hospitalizações, mortes e o surgimento de novas variantes.

“Se circulam menos vírus, também o número de mutações e novas variantes certamente vai diminuir. Então a gente espera que quando se vacinar um grande número de pessoas, incluindo as crianças, isso tenha um impacto na circulação do vírus.”

Epidemia de gripe

Recentemente, o Brasil se viu diante de uma nova epidemia do vírus Influenza, com espalhamento rápido de uma nova cepa, que é o H3N2. Somente na Bahia, já foram registrados 673 casos dessa nova variante da gripe e oito mortes provocadas pela doença.

A grande questão, segundo a infectologista, é que o H3N2 é um vírus que sofreu mutação ao longo do ano, e a vacina existente contra a gripe, não protege contra essa nova cepa. Apesar disso, a vacinação contra a Influenza é essencial para frear a epidemia.

“Essa nova variante que está circulando não é a mesma que contém na vacina. Então por que vacinar? Porque não é só a H3N2 que circula, circulam as outras também que estão contidas na vacina. Então é importante que as pessoas que não se vacinaram ainda tomem a vacina para se protegerem contra essas outras variantes do vírus Influenza, que normalmente sofre muitas mutações ao longo do ano. Esse é o motivo das pessoas terem que se vacinar todo ano, porque todo ano o vírus está diferente e a vacina também muda de acordo com o que vai ocorrendo com o vírus, sua formulação é nova a cada ano”, frisou.

É importante lembrar, que com a evolução da fórmula da vacina contra a gripe, pessoas que são alérgicas às substâncias presentes no ovo já não possuem mais contra-indicação.

“Os alérgicos ao ovo devem ser avaliados individualmente para ver como é essa alergia e que tipo de reação já tiveram. Mas, a vacina contra a Influenza não possui mais contra-indicação para quem tem esse tipo de alergia. Apenas se coloca como precaução que essas pessoas devem permanecer sob supervisão por um tempo depois da aplicação.” 

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