Saúde

Unacon registra queda no diagnóstico nos últimos meses, mas pacientes com câncer mantiveram tratamento

O médico disse ainda que o atraso em um diagnóstico de câncer pode trazer consequências graves para o paciente.

Rachel Pinto

Com a pandemia do novo coronavírus, as recomendações de isolamento social e os receios da população de contrair a covid-19, muitas pessoas têm deixado até mesmo de cuidar da saúde e outros aspectos importantes. É o caso de quem tem suspeita de câncer ou até mesmo o diagnóstico confirmado e vem atrasando o início do tratamento por diversos motivos secundários à pandemia.

Na Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon), de Feira de Santana, por exemplo, o número de pacientes que buscam o centro pela primeira vez caiu muito. Outro fator que contribuiu para isso foi a suspensão do transporte intermunicipal, já que a Unacon atende não só a população de Feira de Santana, mas uma média de 70 municípios baianos.

A diminuição na triagem (primeira etapa no atendimento) atingiu os pacientes novos, que ainda estão na fase de diagnóstico. De acordo com o médico Leonardo Queiroz, diretor da Unacon, houve uma redução na busca pelo atendimento da triagem no mês de abril, mas a situação vem se normalizando nos últimos dois meses – maio e junho. “Inclusive fizemos uma busca ativa para conscientizar as pessoas e isso teve resultados bem positivos. Quem já estava em tratamento, continuou”, destacou o médico.

O médico oncologista e cirurgião de cabeça e pescoço, Leonardo Rios, comentou sobre essa situação e informou que fez um levantamento do número de pacientes que deveriam buscar o diagnóstico nessa área e percebeu que houve uma redução do número de pacientes que fazem o primeiro atendimento.

Foto: Arquivo Pessoal | Médico oncologista e cirurgião de cabeça e pescoço, Leonardo Rios

“Cerca de 45 pacientes passam em consulta pela primeira vez, todos os meses aqui na nossa unidade. Infelizmente por conta da pandemia, esse número teve uma redução de mais de 50% em pacientes novos e atualmente, cerca de 22 pacientes, estão sendo atendidos. Cabe ressaltar que os piores meses desse último semestre foram justamente abril e maio que a gente atendeu entre 15 e 16 pacientes, respectivamente. Houve uma grande redução no número dos pacientes triados e atendidos pela primeira vez na nossa unidade e isso é muito preocupante”, destacou em entrevista ao Acorda Cidade.

O médico informou também que o número de diagnósticos de câncer pode ter reduzido também em razão das pessoas estarem com medo procurar unidades de saúde, clínicas e o atendimento ambulatorial com medo de serem contaminadas pela covid-19. Ele afirmou que mesmo aqueles que desejam procurar o atendimento estão encontrando dificuldades na marcação.

“Porque muitos postos de saúde reduziram o atendimento, principalmente de consultas marcadas. Houve uma grande redução, houve também uma redução do atendimento dos dentistas, por exemplo, que eles fazem um papel fundamental no combate ao câncer e então devido a redução dos horários, a todas as diretrizes de mitigação dessa pandemia houve uma grande redução também daqueles pacientes que querem marcar consulta , mas não conseguem. Aqueles que conseguem passar em um médico e o médico encaminha para o cirurgião de cabeça e pescoço, por exemplo, eles encontram outra dificuldade quando são de outras cidades por causa da suspensão do transporte municipal”, relatou.

O médico disse ao Acorda Cidade que o atraso em um diagnóstico de câncer pode trazer consequências graves para o paciente, principalmente quanto às chances de cura. De acordo com ele, quanto mais cedo o diagnóstico, mais rápido é o tratamento e as sequelas são menores.

Julho Verde

Sobre as ações do Julho Verde e do dia 27 de julho que marca o Dia Mundial de Conscientização de Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço, ele disse que este ano a data será divulgada através dos diversos meios de comunicação e das redes sociais. O objetivo é informar e chamar a atenção da população a perceber os sintomas e a procurar o tratamento.

Ele ressaltou que as pessoas devem ficar alertas a sintomas como feridas na boca que não cicatrizam por mais de 21 dias, manchas esbranquiçadas, rouquidão e nódulos no pescoço.

“Nós tratamos dos cânceres de boca, de garganta e nós sabemos que existe um comportamento muito distinto de uma pessoa para outra e então da mesma forma que um paciente pode ter um câncer de boca extremamente agressivo, este mesmo tipo de câncer de boca em outra pessoa, pode ter um comportamento mais tranquilo, um crescimento mais lento, uma forma menos agressiva. Vai depender muito do estado nutricional da pessoa, a capacidade que o organismo tem de resistir ao crescimento daquele tumor e existe uma interação muito grande entre a doença e a pessoa na qual a doença está instalada e é difícil dar uma resposta de qual seria o câncer mais perigoso. O câncer mais perigoso na minha opinião é aquele câncer mais avançado, que a gente sabe que quanto maior o é o tumor, maior disseminação. O câncer mais perigoso é aquele que tem o diagnóstico mais tardio. Sintomas como feridas na boca que não cicatrizam saía de sangue, nódulos no pescoço que permaneçam por mais 21 dias devem ser investigados. Pode até não ser câncer, mas a recomendação é que o médico seja procurado”, finalizou.

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade.

 

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