Com a finalidade de alertar a sociedade, o Dia Nacional de Atenção à Disfagia é marcado nesta segunda-feira (20). A disfalgia refere-se a uma alteração na deglutição, dificultando o transporte do bolo alimentar até o estômago.
Essa alteração pode provocar diversos sintomas, como tosse, engasgos, dispnéia, falta de ar, sensação de que um bolo está parado na garganta, voz alterada após a deglutição, sensação de sufocamento durante a alimentação, além de infecções repetidas, como pneumonias aspirativas.
Causas
A fonoaudióloga, especialista em audiologia, Patrícia Nogueira explicou em entrevista ao Acorda Cidade que os engasgos com líquidos são os mais comuns. No entanto na disfagia as causas são inúmeras.
“Essas causas se dividem entre causas neurológicas como AVC, doenças neurológicas degenerativas como Alzheimer, Parkinson, demências, esclerose lateral amiotrófica, distúrbios de movimento, traumas, traumatismo cranioencefálico. Podem aparecer também na oncologia, com as doenças de cabeça e pescoço, com a retirada parcial de língua, doenças da laringe causada pelo câncer, como a laringectomia. Existem as causas iatrogênicas, como o uso, por exemplo, de medicamentos indutores de sono, com uma alimentação por via oral. Esse paciente toma o medicamento à noite, acorda ainda sonolento, vai se alimentar, com o estado de alerta diminuído, com a força de deglutição diminuída, e até mesmo com os reflexos protetores de laringe, de pulmão diminuídos”, descreveu.
A sarcopenia é outra causa. Ela está associada à idade avançada, a um estado nutricional debilitado dentre outros fatores.
“Há uma perda de massa muscular, e essa perda diminui o poder de contração daquele músculo requerendo uma força maior para deglutir e o paciente não consegue dar uma resposta muscular devido ao emagrecimento e à questão nutricional muito debilitada”, indicou.
As causas psicogênicas também devem ser citadas, porque estão associdadas ao temor de deglutir.
“É muito mais comum do que pensamos. Existindo até em alguns momentos a necessidade de colocar uma sonda de alimentação para que o paciente possa se nutrir e se hidratar até estar em um momento mais estável do tratamento psiquiátrico”, revelou.
Além disso, o envelhecimento das estrutuas relacionadas à deglutição também podem ocasionar a disfagia. “A presbifagia quando as estruturas vão perdendo os reflexos, a força, a pressão para deglutir e com isso pode acabar ocorrendo um transporte inadequado do alimento para o pulmão”.
Pacientes após a intubação orotraqueal e aqueles pacientes que estão traqueostomizados podem sofrer com a dificuldade de deglutir alimentos. Além desses, os bebês prematuros também podem ter uma disfagia neonatal.
“Nas crianças, nós geralmente observamos a disfagia associada ao diagnóstico de paralisia cerebral, por exemplo, distúrbios de movimento e síndromes neurológicas”.
Broncoaspiração
A disfalgia é um sintoma importante e que precisa ser observado, porque pode até levar à morte. Conforme a especialista Patrícia, uma pessoa pode morrer devido a broncoaspiração, que é quando um alimento, saliva, objeto ou líquido encontra um caminho errado e entra nas vias aéreas ou no pulmão.
“Em vez do alimento adotar o caminho do esôfago ele vai cair no pulmão. Dentro do pulmão só pode entrar ar, então quando entra alimento duas situações podem ocorrer: uma obstrução da respiração, uma obstrução mecânica, em que há o impedimento da passagem de ar e a pessoa pode morrer engasgada, morrer por não conseguir fazer a respiração. E pode acontecer da pessoa conseguir se defender através de uma tosse. Mas se não for uma tosse eficaz, pode cair micropartículas de alimento, ocasionando uma pneumonia. E a depender do seu estado de defesa do corpo, essa pneumonia também pode levar à morte. Além disso, temos uma questão importantíssima que é a desnutrição e desidratação do paciente que possui a disfagia, porque o transporte do alimento da boca até o estômago está comprometido”, pontuou.
Acompanhamento profissional
As alterações da deglutição são diagnosticadas e tratadas em conjunto por médicos, enfermeiros, nutricionistas e, essencialmente, fonoaudiólogos, que são os profissionais aptos ao trabalho específico da função. O acompanhamento com um fonoaudiólogo é fundamental para a análise do grau da disfagia.
“É preciso do acompanhamento com um fonoaudiólogo para que ocorram medidas de avaliação do grau dessa disfagia e a entrada de medidas dessa reabilitação. Nessas sessões fonoaudiológicas o paciente é avaliado em várias deglutições de várias consistências, são utilizadas estratégias para estimular o retorno da função da deglutição e o estímulo à defesa da entrada de alimento nos pulmões”, explicou.
O tratamento desse paciente pode acontecer através do uso de bandagem elástica, eletroestimulação, laser terapia, práticas respiratórias, exercícios orofuncionais, dentre outros que vão estimular a reabilitação da função de deglutir.
“E em casos de doenças neurológicas, progressivas, é necessário estabelecer, critérios, condutas para que tragam a segurança respiratória para esse paciente, como também a segurança alimentar. Em alguns momentos mais graves é necessário escolher entre respirar e entre deglutir. O fonoaudiólogo é uma peça-chave para o tratamento da disfagia”, reiterou.
Dicas para evitar a disfagia
- Alimentação equilibrada;
- Prática de exercícios físicos;
- Estimular reflexos protetores da laringe, como a tosse, o pigarro;
- Deglutir com atenção;
- Redobre a atenção com alimentos esfarelados e secos;
- Mastigue devagar.
“Enquanto está se alimentando, precisa estar em uma postura ereta, sentada. Se ocorrer o desejo de tossir, nós não podemos em nenhum momento inibir a tosse, nem o pigarro, porque esses são os reflexos protetores. Se ocorre de evitar esse reflexo você pode fazer um agravo no pulmão. Precisamos também deglutir com maior atenção, com pressão. Com a pressão que seja suficiente para estimular o fechamento e os reflexos protetores de defesa, fechamento da entrada do pulmão, para que o alimento possa passar para o esôfago com segurança. É preciso atenção com alimentos secos ou alimentos tipo mel que aderem a mucosa e em caso de engasgos são muito difíceis de se livrar”, alertou.
Mastigação rápida o mau hábito da modernidade
A mastigação rápida é muito comum no mundo moderno, que cobra mais rapidez e mais agilidade em tudo, no entanto se a saúde for prioridade é importante repensar essa prática.
“Estamos em um tempo em que a mastigação rápida, e os alimentos são deglutidos inteiros, isso é uma prática muito danosa, nós precisamos investir mais no tempo mastigatório. Isso é muito importante para que depois, quando esse bolo alimentar estiver mais homogêneo possamos deglutir com maior degurança e trazer para esse momento da deglutição uma maior atenção, uma maior conscientização desse processo de deglutir para que a gente possa se reconhecer melhor nesse processo de deglutição e saber se os sintomas sentidos são por causa de uma prática inadequada que levou ao engasgo ou porque são sintomas de doença”, abordou.
Quando procurar um profissional?
Um profisisonal deve ser procurado para avaliar a deglutição quando os engasgos e pneumonias são frequentes, quando existe perda de peso com o temor de deglutir e tosse ao se alimentar.
“Principalmente o idoso, nós temos muitos casos de presbifagia, envelhecimento da deglutição, que chegam ao internamento. Eu atendo muito casos que chegam ao internamento nos quais a pessoa foi internada por conta de uma infeccção urinária. E quando fomos analisar, a infecção urinária foi por falta de líquidos, líquidos esses que o paciente recusa sistematicamente porque ele tem temor de deglutir por se engasgar. A disfagia gerou um processo de doença que não está relacionado diretamente com a causa da infecção urinária, mas teve um papel importante para o internamento ocorrer”, destacou.
É importante ter um olhar consciente sobre a disfagia
- Tossir enquanto come não é normal
- Tossir e engasgar quando toma um comprimido não é normal
“Precisamos estar atentos ao engasgo e a tosse no momento da alimentação, porque isso não é normal. Não deixe de procurar tratamento. Aguardo sinceramente que possam ser agentes multiplicadores, que possam observar seus idosos, pessoas que estão se alimentando e engasgando e dizer a essas pessoas que procurem treinamento. Porque as causas de complicações por disfagia são graves e podemos evitá-las”, concluiu.
Com informações da jornalista e produtora do Acorda Cidade Maylla Nunes.
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