Com a Lei nº 13.435/2.017, o mês de Agosto passou a simbolizar a luta pelo incentivo à amamentação, sendo chamado de Agosto Dourado (relacionado ao padrão ouro de qualidade conferido ao aleitamento materno). O Ministério da Saúde destaca o leite materno como o meio mais importante de nutrição para bebês de até 6 meses de vida, e sinaliza que a mortalidade de crianças de até 5 anos de idade pode reduzir em cerca de 13% por conta do aleitamento materno.
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A boa notícia é que os índices de amamentação materna vêm crescendo no Brasil, segundo o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani), realizado pelo Ministério da Saúde, cujos números representam um progresso em relação aos dados históricos, com um aumento de quase 13 vezes no índice de amamentação exclusiva em crianças menores de quatro meses, e de cerca de 16 vezes em crianças menores de seis meses, desde 1986.
Contudo, o país ainda está distante das metas da Organização Mundial da Saúde (OMS) para 2030: 70% de forma exclusiva, tanto na primeira hora de vida como nos primeiros seis meses; e 80% no primeiro ano.
Falta de apoio e de informação geram insegurança: segundo Carlos Moraes, ginecologista e obstetra pela Santa Casa/SP e médico do Hospital Albert Einstein, muitas mães ainda enfrentam desafios na amamentação, apesar dos benefícios comprovados.
“Ainda que seja fundamental orientar a mulher sobre a amamentação no pré-natal, não são todos os médicos que o fazem. Somando a desinformação ao estado emocional mais vulnerável e à falta de apoio social, a mãe acaba se sentindo pressionada e acuada, comprometendo ainda mais a amamentação”, lamenta o especialista em Perinatologia pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein e membro da Febrasgo.
Considerando este cenário, especialistas reuniram 7 desinformações que invalidam a amamentação como um ato natural da maternidade, desestimulando a prática:
A fórmula infantil é tão completa quanto o leite materno – Mito: rico em anticorpos, o leite materno é o único que aumenta a imunidade da criança, ajuda a combater alergias e infecções respiratórias, além de diminuir riscos de doenças crônicas, como diabetes, obesidade e hipertensão.
Até mesmo o neurodesenvolvimento do bebê tem impacto com a amamentação: em um estudo, pesquisadores da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, concluíram que o mio-inositol, uma molécula encontrada no leite materno, está diretamente ligada à formação das conexões neurais dos bebês. “Ou seja, somente o leite materno pode prover estes benefícios à criança”, reforça Carlos Moraes.
Amamentar na primeira hora de vida é indiferente à saúde do bebê – Mito: o aleitamento materno na primeira hora de vida é fator protetor contra a mortalidade neonatal. De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), quanto mais se atrasa o início da amamentação, maior é o risco de morte no primeiro mês de vida.
“Atrasar o aleitamento materno entre 2 e 23 horas após o nascimento do bebê eleva em 40% o risco de morte nos primeiros 28 dias de vida. Já o atraso de 24 horas ou mais aumenta esse risco em 80%”, alerta Carlos Moraes.
É necessário amamentar de 3 em 3 horas – Mito: segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), não é obrigatório estabelecer um horário fixo para a amamentação: o recomendado pela instituição é que o bebê seja amamentado em livre demanda, isto é, sem restrições de horários e de duração da mamada. “Nos primeiros meses de vida, inclusive, a frequência costuma ser maior e com horários mais irregulares”.
A amamentação afeta a intimidade do casal – Depende: segundo uma revisão de estudos entre mulheres que voltaram a ter relações sexuais até 6 semanas após o parto, 58,2% delas não amamentaram, contra 38,7% das que amamentaram.
Conforme Claudia Petry, pedagoga com especialização em Sexualidade Feminina pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e membro da SBRASH; é comum que a fase da amamentação, cheia de oscilações hormonais e emocionais, afete o lado sexual da mulher, que acaba se concentrando mais no papel de mãe do que de esposa.
“Daí, cabe ao casal perceber a necessidade de nutrir e cultivar sua relação, seja com momentos de beijos e carícias, ou mesmo com um filme a dois durante o sono do bebê. Ou seja, amamentar a criança jamais será motivo de perda da intimidade, se o casal souber preservar sua conexão”, pontua Claudia Petry.
Quando congelado, o leite materno perde nutrientes – Mito: congelar o próprio leite é um hábito muito comum, principalmente quando a mulher volta a trabalhar ou mesmo em caso de ingurgitamento mamário. No entanto, o processo requer cuidados.
“O leite retirado, cuja duração é de até 15 dias, precisa ser guardado em frasco de vidro que tenha tampa de plástico. A higienização correta é feita com água fervente no recipiente por 15 minutos, seguida de secagem com pano limpo e repouso para que seque por completo, de modo natural”, explica Carlos Moraes.
Outra dica importante, segundo ele, é usar a tampa do frasco para anotar o dia e a hora que o leite foi tirado. “Ao oferecer para o bebê, o leite deve ser descongelado em banho-maria, sem ferver, apenas esquentando a ponto de tirar o gelo. Lembrando que, uma vez descongelado, o leite não deve ser congelado novamente”.
A prótese de silicone atrapalha a amamentação – Depende: de acordo com Luís Maatz, cirurgião plástico pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC/FMUSP), o silicone utilizado atualmente é composto por um material biocompatível, possui alta coesividade e sua superfície externa é mais resistente.
“O ideal é que a prótese seja colocada via inframamária (incisão embaixo das mamas), ou pela via axilar, não havendo cortes na glândula nem nos ductos mamários. Dessa forma, seja na produção do leite como no seu trajeto ao mamilo, não há contato direto com a prótese”.
Quem fez redução de mama não pode amamentar – Depende: segundo Luís Maatz, que também é cirurgião de Reconstrução Mamária no Hospital Sírio-Libanês, na maior parte dos casos, as dúvidas relacionadas à redução mamária e à amamentação surgem por conta do corte de determinados ductos mamários.
“Entretanto, a formação de novos ductos ocorre posteriormente. Quanto maior o intervalo entre a mamoplastia e o período de amamentação, maior a probabilidade de poder amamentar normalmente”, esclarece Maatz.
Por fim, para superar os desafios, é essencial que as mães recebam apoio adequado de familiares, profissionais de saúde e da sociedade como um todo. “Campanhas de conscientização, políticas públicas favoráveis e ambientes de trabalho que respeitem as necessidades das lactantes são fundamentais para promover e sustentar a prática da amamentação”, finaliza Carlos Moraes.
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