A Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla é comemorada entre os dias 21 a 27 de agosto no Brasil, com o objetivo de conscientizar a sociedade sobre a necessidade de desenvolver políticas públicas e a inclusão social de crianças, jovens e adultos.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA), por exemplo, faz parte do grupo de deficiências intelectuais, que segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), atinge uma em cada 160 crianças no mundo. No Brasil, estima-se que existam cerca de 2 milhões de autistas.
Em Feira de Santana, o Instituto Família Azul oferece o diagnóstico e tratamento precoces a pessoas com TEA. A dona de casa Gabriela Matos Barros é mãe do adolescente Naimson Gabriel Barros Lima, de 14 anos, que recebe atendimento na entidade.
De acordo com ela, em entrevista ao Acorda Cidade, descobriu a deficiência intelectual do filho por meio de uma professora em uma creche em tempo integral, e após o acompanhamento no Família Azul, percebeu a diferença no comportamento do adolescente.
“Não fui eu quem descobriu, foi uma professora quando ele estudava em tempo integral em uma creche e ela viu algumas características e me sinalizou. Ela mesmo procurou e me pediu a permissão, e eu a autorizei a levar em um neuropediatra, que diagnosticou o Transtorno do Espectro Autista (TEA). A rotina é um pouco difícil, mas nada que não possamos nos adaptar. A gente tem que ter uma rotina para que a cada dia eles se desenvolvam. Hoje a gente tem o Instituto Família Azul, onde temos todas as terapias como psicopedagoga, e a gente tem que estar acompanhando e não podemos faltar”, relatou Gabriela Matos.
Segundo a dona de casa, com a fase da adolescência, os desafios aumentaram. Mas ela entende que também há muitas descobertas e aprendizados. “Ele está bem tranquilo após o acompanhamento da Família Azul, com as terapias, ele tem uma rotina semanal, e a gente tem os horários, ele tem o momento de brincar, e é tudo certinho e organizado”, contou.
Conforme a psicopedagoga Kelly Oliveira, o autismo é um distúrbio que traz algumas consequências para o desenvolvimento da criança, que podem ser motor, muitas vezes de socialização, de interação, entre outros fatores que interferem nesse processo.
“Cada dia a ciência tem mostrado uma evolução no estudo. A gente não tem ainda exames que detectem, mas geralmente o diagnóstico é puramente por observação. Então a família, que está rotineiramente com aquela criança precisa observar a forma como ela interage, se troca olhares, se a fala está vindo no tempo, se a questão motora está desenvolvendo como esperado, se a criança tem alguma restrição alimentar, se o sono tem algum problema. Os pais, que são os principais participantes desse desenvolvimento, têm que estar participando desde cedo, porque o autismo é um dos transtornos que dá sinais muito cedo, para que a gente consiga intervir neste processo”, explicou a especialista.
Ela destacou que o TEA tem uma implicação maior em meninos, mas as meninas têm as mesmas questões com as quais lidar. “E quando eles ficam grandes só vão melhorar no sentido de qualidade social, qualidade de comunicação, se eles tiveram um tempo hábil para investir na estimulação, e quando mais cedo eles tiverem em um processo de terapia, aquela criança, adolescente ou adulto terá uma vida melhor.”
A presidente do Instituto Família Azul, Cíntia Souza, informou que atualmente a entidade é referência no tratamento e no acolhimento, ao praticar uma nova forma de ver o indivíduo autista.
“Temos 7 anos de existência. Começamos com ações voltadas para conscientizar a cidade, com congressos, simpósios, e a necessidade de trazer o que é o autismo na sociedade em várias camadas sociais. Diante de todas essas motivações, fomos levados a ter uma instituição física, e iniciamos caminhada. Como somos uma instituição social, não teríamos condições de ter a equipe que temos hoje. Então todo trabalho que é feito aqui é voluntário, e temos hoje uma equipe composta de 28 a 30 especialistas, todos com público-alvo em TEA. Temos atendimento de segunda a sábado, e às vezes aos domingos também. Por ser uma equipe de voluntários, a gente recolhe deles não o que sobra, mas o que transborda, que é realmente o amor, o comprometimento enquanto seres humanos, e o que eles dão para nós é o que a vida certamente dá para eles, que é essa visão de mundo do ser humano disposto a doar para quem não tem o seu melhor, e aqui temos os melhores”, ressaltou Cíntia Souza.
Ela lamentou o fato de o Instituto não ter condições de admitir mais pessoas e também de não fazer parte da assistência municipal, por não receber verbas da prefeitura para garantir um atendimento maior na cidade.
“O Instituto hoje se torna limitado na assistência porque a equipe é voluntária e precisamos nos adequar ao tempo que eles têm. Temos uma lista de espera com 182 nomes e não temos vagas. Atendemos hoje a 120 famílias. Nós defendemos o trabalho de uma equipe multidisciplinar, e ter isso hoje é artigo de luxo para as camadas mais carentes. A gente não faz parte da rede de assistência porque a gente não recebe ajuda do governo municipal. Estamos aqui, mas pagamos o nosso aluguel, água, luz, e a gente acredita muito no respaldo de uma cobertura de assistência em uma gestão, que nós não temos, mas damos, somos o braço onde eles não conseguiram alcançar e isso nos valida como uma referência”, pontuou.
Ela acrescentou ainda que as famílias cadastradas pelo Instituto pagam uma mensalidade, no valor de R$ 200, e os recursos são revertidos para a compra de materiais que garantam um atendimento de qualidade pelos profissionais.
“Quando a gente leva a proposta para os especialistas a gente fala que não temos como pagar, mas garantimos que o que eles precisarem em sala, vamos tentar dar o suporte, de material, assistência, pois a gente tenta ter um ambiente adequado para o tratamento dessa criança, e as famílias contribuem com uma mensalidade de R$ 200 por mês, com toda a assistência de neuropediatria a psiquiatra”, concluiu.
Com informações são do repórter Ney Silva do Acorda Cidade
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