Ouvir é uma das primeiras reações que os seres humanos têm quando chegam ao mundo. Desde pequeninos, as pessoas aprendem a reagir através do que se escuta. Quando há um bebê em casa, as pessoas já alertam ‘não faz barulho para não acordar o neném’, porque sabem que a sensibilidade dos ouvidos é maior e os barulhos podem assustá-los em um mundo de sons que está se aprendendo a reconhecer.
Para falar mais sobre a saúde do ouvir, o médico otorrinolaringologista, Sandro Torres, falou ao Acorda Cidade sobre a importância da audição no desenvolvimento cognitivo das pessoas, em especial, das crianças.
“A audição é a porta de entrada para as informações sensoriais, então a Organização Mundial da Saúde sempre publicou e agora em 2022 atualizou os dados de que a maior privação cognitiva é a audição. Então, a falta de audição, não necessariamente a surdez, mas a dificuldade auditiva, leva a diminuição das recepções e conexões sensoriais cognitivas, fazendo com que a pessoa tenha menor interação social, raciocínio e isto está associado a outros fatores, como a precipitação de demência, de depressão e inclusive uma evolução mais rápida do alzheimer. Então, veja que a audição, nós dizemos que ela não está no ouvido, ela começa no ouvido e finaliza no cérebro. A gente escuta com os ouvidos, mas ouve com o cérebro”, explicou.
Para alertar os pais e responsáveis, o doutor pontuou alguns sinais que podem indicar um déficit na audição das crianças. Perceber algum tipo de irregularidade auditiva neste grupo pode ser complicado, porque elas podem possuir maiores dificuldades de indicar o que está ocorrendo.
“A criança não relata essa queixa com frequência, então o que observamos é uma irritabilidade, é uma criança que não responde muito bem aos pais, eles acham que ela é desatenta; é uma criança que tem dificuldade de reprodução dos fonemas, das palavras, ela tem um atraso da linguagem; é aquela que bota a mão nos ouvidos para poder melhorar a sua recepção; ela pode ser confundida com autistas, então são sintomas que mostram que a criança está precisando de uma avaliação auditiva”, alertou.
Segundo o médico, há dois tipos de perda auditiva clássica que são as condutivas, aquelas provocadas por dificuldade de chegada do som até a cóclea que é o órgão auditivo e nesses casos a pessoa tende a falar baixo porque escuta a sua própria voz muito alta e não ouve os sons ambientes. Isso porque a cóclea está em perfeito estado. A outra deficiência é para aquelas que têm uma perda sensório neural, por isso, pode falar gritando. Essa é bastante comum em idosos.
Quando a pessoa tem um pouco de surdez e fala baixinho, isso também pode indicar que um problema no tímpano ou nos ossinhos da audição, podendo ocorrer alguma irregularidade dentro do ouvido médio, com alguma lesão, secreção ou líquidos nesses casos.
A Triagem Auditiva Neonatal (Tanu) é uma estratégia universal da medicina para diagnosticar as alterações auditivas logo nos primeiros meses do bebê. Por isso é de extrema importância para a saúde e bem-estar das crianças, realizar o teste da orelhinha, logo nas primeiras 24 horas de vida. O doutor deu mais detalhes sobre o diagnóstico.
“A partir daí, se ela não passar no teste da orelhinha, ela vai ser investigada de uma forma mais sistemática. Quando a criança nasce, passa no teste da orelhinha e a partir daí passa a ter dificuldade auditiva, os pais devem ter muita atenção para os sinais de desenvolvimento auditivo. Existe uma cartilha dada pelo fonoaudiólogo explicando que logo nos primeiros nove meses de vida, as crianças podem começar a ter reações, indicações de virar a cabeça de um lado para o outro procurando a fonte sonora; se assustando com os barulhos; aquela criança que qualquer batida de porta se assusta com os barulhos e chora. Então, esses são sinais vitais de que a criança ouve. Quando ela faz o oposto, o mundo pode estar acabando dentro de casa e ela fica quietinha lá, isso é um sinal de que não ouve bem”, ressaltou.
Percebendo esses sinais é imprescindível buscar o otorrino o mais breve possível para diagnosticar e tentar corrigir as alterações na audição.
Já a perda auditiva em adolescentes, além da surdez, a consciência e o emocional também podem ser bastante afetadas, explicou Sandro. A irritabilidade, o isolamento, as mudanças de comportamento e o baixo rendimento escolar também podem ser percebidos.
Os adultos não são casos de maiores preocupações, porque conforme o médico, eles tendem a buscar tratamento assim que percebem alguma alteração significativa. Já os idosos são bastante complicados, porque eles podem esconder a deficiência e começar a se isolar socialmente. Portanto, é a deficiência auditiva ligado ao etarismo, preconceito contra o envelhecimento que eles podem passar e internalizar algumas ações como forma de proteção.
Além disso, Sandro Torres pontuou ao Acorda Cidade, as formas de tratamentos que podem depender conforme os diagnósticos recebidos.
“Hoje em dia a gente diz que só fica surdo quem quer. A depender do diagnóstico, existe uma qualidade de tratamento curativa ou reparadora. Mais de 80% dos casos de perda auditiva em crianças são perdas reversíveis; são secreções no ouvido chamadas de otite secretoras, são rolhas de cera nos ouvidos, são otites externas, então são situações que com tratamento medicamentoso aquilo se reverte. Eventualmente algumas cirurgias podem ser feitas por determinadas patologias e em algumas situações a correção com aparelho auditivo restabelece plenamente a audição, a ponto da pessoa não ter mais essa privação e não ter esse dissabor de perder a capacidade cognitiva por conta de uma situação remediável”, ressaltou.
Ainda segundo o médico, muitos diagnósticos equivocados de ansiedade e depressão em crianças e adolescentes podem levar a piores problemas na qualidade de vida delas, sendo que em muitos casos, o isolamento pode ser decorrente de uma perda de audição e por vergonha ou o não entendimento, elas podem apresentar mudanças sociais.
Os impactos da perda auditiva podem ainda afetar o convívio na escola. Pensando nisso, o médico explica que algumas instituições têm pedido o exame de audição logo no início do ano letivo.
“A criança começa o ano e lá para terceira ou quarta unidade que o professor consegue identificar que aquela criança está com alguma deficiência auditiva. E a gente pode perder o ano todo. Então, conseguir evitar precocemente é fundamental”, recomendou.
Para aquelas que estão de férias, aproveitando as praias, piscinas, banhos prolongados no verão e por descuido deixam a água entrar no ouvido, fato que é muito comum para qualquer idade, o médico indica que as pessoas não tenham atos heroicos. O recomendável inicialmente é buscar o otorrinolaringologista para uma avaliação.
“Não coloque água quente, álcool, urina como acontece eventualmente, não coloque leite do peito, não machuque alho dentro no ouvido. Não faça nenhuma medida, porque isso pode não ser só ineficaz, pode ser prejudicial e piorar. Geralmente quando a água entra no ouvido naturalmente, ele deve entrar e sair, se ela não saiu, existe algum obstáculo para que ela não saia e este obstáculo precisa ser tratado. Pode ser um pouquinho de cera, de descamação do ouvido, em caso de idosos, pelagem acumulada no ouvido e se você tomar medidas desesperadas pode piorar a situação e provocar otite, dor e desconforto”, explicou.
Na era digital, alertar sobre o uso excessivo de fones de ouvido, principalmente por períodos prolongados podem ser prejudiciais para a saúde auditiva das crianças, por isso, dosar o tempo de uso desses aparelhos e regular a altura do som é fundamental. Todo cuidado também é pouco na hora de higienização com cotonetes. Limpe superficialmente por fora, retirando o excesso de cera, mas não é indicado colocá-los dentro dos ouvidos.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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