Na área da saúde são muitos profissionais especializados em diversos segmentos. Na saúde mental, não é diferente. O psicanalista deve buscar desvendar as incompreensões e incômodos do inconsciente e que acabam afetando o comportamento das pessoas. Diferentemente da psicologia que compreende entender todas as influências das práticas humanas sob a mente. Neste dia 6 de maio, Dia do Psicanalista, data que homenageia o renomado médico neurologista e psiquiatra, Sigmund Freud, o Acorda Cidade foi conhecer o Núcleo Psicanalítico Inteiramente (NPI) em Feira de Santana.
Atuando no NPI, a psicanalista, Mirna Araújo, trouxe informações e detalhes relevantes que ajudam a compreender a função desta área da saúde que traz o funcionamento da mente humana.
“A psicanálise é um campo de estudo que busca investigar as profundezas da psique humana. Ela não busca só aliviar os sintomas, como muitas vezes vem pensando, mas a ideia principal é compreender as suas causas e ressignificar os traumas impressos ali no inconsciente. Esse inconsciente que é a nossa principal ferramenta de trabalho, é o que tem ali, profundo, recalcado e reprimido dentro dos nossos pensamentos, dentro da nossa mente e o que faz a gente ter determinados comportamentos no dia a dia”, explicou.
Durante o tratamento e sessões, as linguagens, os sonhos e as resistências de cada pessoa são interpretados profundamente. Por exemplo, ter medo de sair na rua após sofrer um trauma é algo que deve ser explorado e conversado, levando o paciente a se reestruturar, além de trazer formas de lidar com conflitos emocionais pré-existentes.
Esse é apenas o entendimento genérico deste campo, para se tornar um psicanalista muitas etapas precisam ser vencidas dentro da academia através da análise da psique.
Para o pai da psicanálise, o ‘sofá’ deve ser ocupado pelos médicos antes de darem lugares a seus pacientes.
“Não existe um analista sem divã. Na época de Freud, os analistas começaram a sua formação no divã. Logo depois, o Lacan, um grande psicanalista também, ele diz que aquele que deseja se autorizar analista é preciso que ele tenha empenho e estude. Hoje, para que as pessoas se tornem psicanalistas, nós criamos escolas, instituições de ensino. Lá na época de Freud já existia isso. Então, quando as pessoas faziam análise, elas iam buscar essas escolas para poder se juntar a pesquisar, analisar, filosofar sobre a psique humana. Hoje, é indicado que a gente busque uma instituição para poder buscar esse aprofundamento teórico. E, a partir disso, essa pessoa vai entrar num processo de análise terapêutica, porque o analista precisa passar pelo processo de conhecer a si e também pelo processo de supervisão clínica, que é o que se chama de buscar um analista de data. Freud foi o primeiro analista de data. Então, através das análises, ele ensinava a teoria, ele ensinava aquele paciente a se tornar um analista”, detalhou.
Segundo Mirna, essa formação é chamada de tripé. A análise, a supervisão e a teoria que necessitam de estudo constante para se tornar um profissional qualificado.
“É muito estudo, o tempo inteiro. Eu, por exemplo, tive dois anos de teoria clínica. Depois, mais um ano de psicanálise infantil. Hoje eu faço doutorado, que vai durar pelo menos uns três ou quatro anos. Fora outros aprofundamentos como a hipnose, grafologia, terapia familiar. Não tem como ser de fato um analista se ele não tiver um processo de estudo constante ou um processo de análise constante”.
Muitas foram as diferenças apontadas por Mirna que diferenciam psicólogos e psicanalistas. Ela começou pela área acadêmica em que os estudos não são iguais. A psicologia traz as mudanças comportamentais que afetam a mente, já a psicanálise, busca compreender a mente de dentro para fora.
“O psicólogo por si só está direcionado ao comportamento, à mudança do comportamento. É a base da psicologia em si. É o estudo do psicológico, digamos assim. A psicanálise, a formação, ela se passa pelo tripé e a ideia é fazer o paciente se compreender ao ponto de se fazer sentido. Ou seja, enquanto a psicologia está focada no comportamento, na mudança do comportamento, nós, como psicanalistas, estamos focados na mudança interna, na autocompreensão interna. É como se nós fôssemos pegar um quebra-cabeça para poder procurar as pecinhas ali e poder remontar”.
O passado é uma grande área analisada que influencia nos traumas e isolamentos que a pessoa desenvolve no presente, mas essa não é a regra. Já ouviu alguém dizer que, “você precisa curar a sua criança interior?”, basicamente é isso. São memórias atemporais que formam a consciência.
“O nosso principal foco é encorajar o paciente a se expressar livremente, a expressar seus pensamentos, seus sentimentos de forma livre. Para que nós possamos compreender o paciente ele tem que dizer o que ele diz, ele esconde muito do que ele não diz, e o terapeuta, o analista, o psicanalista está exatamente para poder escutar aquilo que o paciente não disse, traduzir e ajudar aquele paciente no processo de interpretação. Então tem muito dos processos inconscientes na fala desse paciente que busca a psicanálise”.
São falas, sonhos, esquecimentos, contradições, repressões que serão conversadas abertamente com o propósito de ajudar o paciente a se compreender e nesta conversa, o psicanalista será o grande detetive da ação.
“O psicanalista não foca, como eu disse ali no passado, ele foca em um presente que traz traços do passado. E tudo que tiver traços desse aprendizado, traços desse passado que vem refletir no presente, a psicanálise vai penetrar. Então, por exemplo, uma angústia, uma fobia, outro dia mesmo eu estava lendo um caso de uma pessoa que tinha fobia de máscaras, um caso até do próprio Freud. E esse sujeito, ele foi encontrar no processo de sonhos, quando ele sonhava com máscaras, ele tinha muito medo de máscaras, uma rememoração e uma lembrança de um passado de que com três anos ele tinha perdido a própria mãe e ele estava presente e por ver a mãe ali sem expressão gerou nele uma fixação na ideia de que aquela falta de expressão dava medo, dava angústia, e aí o inconsciente dele criou uma fobia, um medo”.
Além de fobia, depressão, ansiedade, angústias, problemas em relacionamentos entre casais, interpessoais ou dentro de ambientes de trabalho, eles estão relacionados aos processos de aprendizado na psicanálise.
Um exemplo interessante apontado pela psicanalista foi o acompanhamento de pacientes com o TDAH, Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade pela psicanálise.
“O transtorno não é tratado pela psicanálise, entretanto este sujeito na sua infância passou por processos de ser muitas vezes reprimido, ser xingado, diminuído e esses traumas que foram construídos em sua infância por conta daquele transtorno, muitas vezes reforçam a ideia e o comportamento de que ele não pode lidar com aquilo e aí a psicanálise entra, então toda a condição onde há um aprendizado embutido para que aquele comportamento exista a psicanálise”, ressaltou.
Apesar de distintas, a psicanálise e a psicologia podem se complementar na compreensão e no tratamento de diversos transtornos mentais. Um paciente que recebe alta de terapias comportamentais com o psicólogo, pode sim, necessitar do trabalho de psicanalista.
“Na psicologia, o psicólogo está autorizado a dar alta ao paciente. Na psicanálise, nós permitimos que o paciente se dê alta quando ele entende que está nesse processo de caminhar, de fato, sozinho. Então, há essa divergência”, explicou.
Mesmo com a dispensa, o paciente pode almejar sanar algumas inquietações e traumas que ainda ficaram e pode buscar isso através do autoconhecimento que somente o aprofundamento da psicanálise pode permitir, reforçando o olhar de dentro para fora.
“A psicanálise trabalha esse entendimento e trabalha esse processo de perdão, de autoperdão, de perdoar o outro familiar que estava envolvido para um melhor convívio, inclusive social. A psicologia vem, sim, trabalhar essa questão das técnicas comportamentais do sujeito para lidar com seus conflitos, para lidar com suas demandas, e a psicanálise vem como um preenchimento de autoconhecimento, entender quais são suas faltas, quais são suas necessidade, facilitando o processo de amor-próprio, de autoestima, de evolução da autoestima, e de uma convivência social melhor”, acrescentou.
Dentro da área de formação, os psicanalistas podem escolher direcionar o seu atendimento a mulheres, homens, crianças, adolescentes, casal, grupo, família, trabalho, ou, por exemplo, com palestras através da psicoeducação, com intervenções escolares e hospitalares.
“O psicanalista vai direcionar, ele é focado na clínica, então o foco dele é clínico, o foco dele é atender, o foco dele é psicoeducar. Existem alguns psicanalistas que vão se denominar freudianos, lacanianos, integrativos, contemporâneos, então vai depender da linha de estudo. Os psicanalistas, em geral, hoje vão se denominar mais contemporâneos, mais integrativos, que é onde se misturam diversos conceitos das áreas terapêuticas para poder agregar o atendimento analítico. Mas em foco a abordagem e o direcionamento que o psicanalista está relacionado aos atendimentos clínicos e há alguns momentos de palestras, reuniões, atendimentos, grupos, casal e por aí por diante”, finalizou
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade
Siga o Acorda Cidade no Google Notícias e receba os principais destaques do dia. Participe também dos nossos grupos no WhatsApp e Telegram