Saúde

Profissionais de saúde debatem o uso de antibióticos e o desenvolvimento de bactérias multirresistentes

Médica infectologista destaca que os antibióticos são necessários, pois salvam muitas vidas, mas lembrou que o uso indiscriminado, e até o próprio uso adequado, está associado ao desenvolvimento de bactérias multirresistentes.

Daniela Cardoso

Foi promovido na manhã desta quinta-feira (16) o 1º seminário de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA) com o tema ‘Desafios do Controle de Iras em Serviço de Saúde’. O uso dos antibióticos, especialmente de forma indiscriminada, é um dos desafios durante o controle de surtos e infecções em tempos de bactérias multirresistentes, segundo explicou Verônica Rocha, médica infectologista. Ela destacou que os antibióticos são necessários, pois salvam muitas vidas, mas lembrou que o uso indiscriminado, e até o próprio uso adequado, está associado ao desenvolvimento de bactérias multirresistentes.

“O que seriam essas bactérias? São bactérias resistentes a classe de antibióticos, ou seja, a gente acaba perdendo várias oportunidades de antibióticos e vai reduzindo as opções disponíveis para tratar o paciente que esteja com alguma infecção. O desafio é tratar o paciente, mas usar o mínimo possível na dose correta para que consigamos debelar a infecção que esteja apresentando, sem que tenha tanto impacto sobre a flora dele. Hoje em dia a gente fala muito de microbioma, que é a nossa flora. O intestino tem a flora e são bactérias boas e importantes para o nosso equilíbrio”, explicou.

Segundo a infectologista, quando os antibióticos são utilizados para tratar uma pneumonia, por exemplo, o antibiótico não vai chegar só no pulmão onde tem a pneumonia, ele vai atuar em muitas bactérias do corpo, inclusive nas bactérias boas, que são importantes para o equilíbrio. Desse modo, segundo afirmou, acaba que as bactérias boas desenvolvem resistências a esses antibióticos.

Outro desafio, de acordo com Verônica Rocha, é criar uma conscientização nos profissionais de saúde em relação às práticas seguras para o cuidado do paciente. Entre elas, a higienização das mãos antes e depois do contato com o paciente, superfícies ao redor, além de conseguir articular em todo hospital fluxos adequados de atendimento para que os pacientes recebam os tratamentos adequados, sem que adquira uma infecção.

“O grande desafio é conseguir modificar culturas erradas, atualizar tantos profissionais e ao mesmo tempo envolve conseguir convencer gestores da importância de investir em insumos como álcool em gel adequado, em processos, em diagnósticos, descobrir essas infecções mais previamente que nos ocorrerem e conseguir prevenir”, informou.

Tipos de bactérias

A médica infectologista afirmou que a bactéria klebisiella atualmente está em todo o Brasil. Ela é resistente a diversos antibióticos e também está presente no meio veterinário. Segundo Verônica Rocha, o uso de antibióticos em animais também está associado ao ser humano, quando ele se alimenta e pode adquirir bactérias resistentes que estavam nos animais. Ela fala dos riscos das infecções causadas pelas bactérias.

“A infecção por si só ela tem riscos de morbidade, de causar alguma complicação no paciente e ter alguma sequela por conta disso e também de mortalidade. Quando a gente fala de uma bactéria resistente, a gente fala que existe muita chance do médico começar um antibiótico sem que ele funcione. Até que você descubra qual é essa bactéria, demora um tempo para esse exame sair e ter um resultado, o que pode levar à morte. Algumas dessas infecções, a klebisiella, por exemplo, em algumas UTI’s ela tem a mortalidade de 60%, ou seja, a cada 100 pacientes, 60 podem morrer ao adquirir essa bactéria”, frisou.

Higienização das mãos

A enfermeira Alessandra Queiroz, uma das palestrantes do evento, destacou que o grande desafio da infecção hospitalar está calçado em dois alicerces: o processamento dos artigos na prescrição dos antimicrobianos de forma ponderada e principalmente na cultura de higienização das mãos.

“Na realidade, para controlar qualquer caso de infecção hospitalar, qualquer surto ou qualquer eminência de infecção hospitalar, é preciso que primeiro mudemos a postura do processo de trabalho dos profissionais de saúde e o grande carro é a higienização das mãos. A gente sabe que higienizar as mãos é fundamental para o controle dessas infecções”, destacou.

Ela explicou que o termo Iras significa Infecções Relacionadas Assistência a Saúde, que antigamente era chamado de infecção hospitalar, mas que a partir de 2004 houve uma mudança. Para controlar as Iras, ela afirma que é necessária uma mudança de cultura do profissional de saúde, do próprio paciente, do acompanhante, do visitante e da população como um todo.

Visitas em hospitais

A enfermeira Alessandra Queiroz destacou os cuidados que o visitante deve ter no ambiente hospitalar. Segundo ela, o visitante não pode ir ao hospital se estiver com quadro de infecção, de febre, baixa de imunidade, alguma síndrome gripal, pois pode levar infecção comunitária para dentro do hospital, onde existem pessoas vulneráveis a esses quadros de infecção. Além disso, o visitante deve cumprir algumas normas.

“Devem lavar as mãos no contato do paciente, antes do contato e logo após. Deve evitar sair após esse contato para lugares públicos, disseminando alguns vetores que ele possa ter tido contato dentro do hospital. Tomar banho, evitar levar flores, evitar levar materiais que não seja de suma importância para o cuidado desse paciente e se há um paciente que tem alguma precaução de isolamento, esse visitante também deve se comprometer com o acesso a esse paciente de forma ponderada, utilizando as mesmas recomendações que o profissional usa, como avental, luvas, deixar a porta do quarto fechada, esse visitante deve se comportar da mesma forma”, destacou.

Com informações do repórter Paulo José do Acorda Cidade
 

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