Rachel Pinto
Um misto de sensações que envolvem, medo, preocupação e nervosismo, acompanharam muitas pessoas ao logo de tantos acontecimentos nesse ano que se encerra, ano de pandemia, em que o mundo parou em torno de um vírus e que trouxe uma série de comportamentos e transtornos psicológicos. A reportagem do Acorda Cidade, entrevistou a psicóloga Laila Arapiraca e o hipnoterapeuta Hélio Silva e eles abordaram sobre o assunto.
Eles avaliaram e refletiram sobre os impactos emocionais na vida das pessoas, em 2020, a presença constante da ansiedade e como lidar com ela no dia a dia.
Para a psicóloga Laila Arapiraca, o ano de 2020, diante do cenário de pandemia da covid-19, muito efeitos psicológicos negativos surgiram para a população em geral. Ela destacou o surgimento de sintomas de estresse pós-traumático, tristeza excessiva, abuso de medicamentos, bebidas alcoólicas, cigarro, sintomas depressivos, estado confusional e muita irritabilidade.
“Ocorreram mudanças brutais na vida da população mundial. A perda de liberdade, preocupação com a situação financeira, sentimentos de fúria, tédio por ficar em isolamento social, solidão e desamparo”, disse.
Laila relatou que a pandemia provocou o aumento da procura da população por atendimento com psicólogos, principalmente on-line. Os relatos mais comuns, estão relacionados ao medo excessivo, tristeza, nervosismo e sensação de impotência.
“No meu caso, chego a atender diversas pessoas on-line, até de outros estados e também brasileiros que estão fora do país. O Brasil tem o maior número de ansiosos no mundo, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS): São 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população) que convivem com o transtorno. Muitos pacientes trazem para terapia diferentes manifestações de ansiedade após a pandemia, tais como agitação, uma necessidade extrema de buscar o tempo todo informações sobre a pandemia, dificuldades em realizar as tarefas diárias e preocupação excessiva. Vale enfatizar que a busca constante por informações sobre a pandemia mundial, faz com que muitas pessoas tenham acesso a informações infundadas, mentirosas, ocasionando assim um nível de estresse, ansiedade e tristeza. É muito importante evitar notícias polêmicas, pois o excesso de notícias pode trazer gatilhos para os quadros de ansiedade”, explicou.
A psicóloga afirmou que a ansiedade torna-se um problema patológico quando os sintomas se apresentam de forma exagerada. De acordo com ela, identificar os primeiros sinais de ansiedade é o primeiro passo para buscar ajuda e enfrentar o problema.
Foto: Arquivo Pessoal/Psicóloga Laila Arapiraca
“Quando a ansiedade passa a ser patológica, o dia a dia da pessoa começa a ser prejudicado. Começam a surgir transtornos físicos e psicológicos. Por exemplo: quando deixa de fazer algo na sua rotina, surge assim a falta de compromisso e logo em seguida a angústia, refletindo assim fisicamente corpo. A pessoa começa a sentir tontura, falta de ar, tremores, dentre outros sintomas. Por isso, devemos prestar atenção aos sintomas ansiosos, e buscar ajuda o mais rápido possível”, pontuou
Laila Arapiraca salientou que em casos de ansiedade patológica, onde há além de sintomas, psicológicos, como físicos, é fundamental a busca por um atendimento com um médico psiquiatra. É este profissional que definirá qual tratamento deve ser feito. O tratamento pode ser o acompanhamento terapêutico com um profissional de psicologia; o uso de medicamentos receitados e controlados pelo psiquiatra ou combinação dos dois fatores- medicamento e terapia.
Ano Novo e os sentimentos das pessoas
A psicóloga frisou que no período de Natal e do fim de ano, muitas pessoas tendem a ficar muito ansiosas, pois é nessa época que surgem cobranças internas e externas. Como por exemplo, o medo de não ter alcançado uma meta no trabalho, ou frustrações e carências não preenchidas ao longo do ano.
No entanto, a chegada do Ano Novo, traz também sentimentos de esperança e renovação. Diante de tudo que foi vivido em 2020, a expectativa para 2021 é que seja um ano menos desafiador e mais leve.
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Acolhimento da ansiedade
Laila Arapiraca observou que é importante reconhecer e acolher a ansiedade. Além de buscar a ajuda profissional, é necessário atentar para a saúde mental de forma a olhar para si e respeitar a dor e os sentimentos do outro.
O hipinoterapeuta Hélio Silva, analisou que a pandemia da covid-19, potencializou bastante os sintomas da ansiedade e normalmente quem desenvolve a ansiedade tem o seu cérebro reagindo a pensamentos negativos, por conta de preocupações excessivas, com o futuro. De acordo com ele, muitas crianças também são acometidas por este transtorno. Algumas delas desenvolvem problemas de memória, no desenvolvimento afetivo e social e défict de atenção.
“Quando uma pessoa, fica desempregada por exemplo, ou quando chega o fim de um relacionamento, gera uma grande preocupação. Muitas vezes elas são tomadas por sensações negativas que afetam a sua autoestima e o cérebro nesse caso fica criando e revivendo imagens de eventos que levam sensações e sentimentos negativos. Existem inúmeros impactos na vida das pessoas , tanto financeiros, como sociais e emocionais. As pessoas com ansiedade podem estagnar a sua vida profissional, diminur as atividades produtivas e até mesmo perderem empregos. Inúmeras pessoas em estado avançado de ansiedade não conseguem ter uma vida normal e às vezes não conseguem nem sair de casa, ficam desmotivadas com a vida e por conta disso também têm um baixo desempenho nos relacionamentos afetivos . Quando diminuem a autoestima, podem evoluir também para um quadro de depressão”, destacou.
O hipinoterapeuta também deu alguns exemplos de quando a ansiedade se apresenta de forma patológica. Segundo ele, é natural a pessoa que está desempregada ter ansiedade. Mas, a pessoa estar empregada e ficar com medo de perder o emprego, isto já se configura uma ansiedade patológica. Quando se apresenta por diversas fobias, ansiedade generalizada e transtorno do pânico. Nesses casos é preciso cuidados médicos e psicoterapêuticos.
Foto: Arquivo Pessoal/Hipnoterapeuta Hélio Silva
“Quem for acometido por esses transtornos deve procurar um serviço médico, para cuidar dos sintomas e paralelo a isso, buscar o tratamento, medicamentoso. Além de buscar uma terapia, alguma forma de terapia, para tratar as causas dos sintomas. Existem várias técnicas de hipnose, por exemplo que são fáceis de aplicar, podendo ser usadas em quadros de ansiedade. Uma delas é a autohipinose, em que a pessoa aprende a entrar no estado de transe e relaxamento com o objetivo de acessar imagens negativas e ressignificar, ou substituir essas imagens por imagens positivas. Existe também uma técnica de relaxamento corporal, induzido pela hipnose que faz com que a pessoa vivencie o presente, evitando pensar excessivamente no futuro. Outra técnica localiza no corpo, os sinais de ansiedade e utiliza o próprio corpo para aliviar para o sofrimento. Existe ainda a dessensibilização sistemática para a ansiedade, originada de fobias”, explicou.
Cuidar da saúde de modo geral
Hélio Silva enfatizou que para controlar a ansidedade, é importante cuidar da saúde de modo geral. Da saúde mental, física, espiritual e financeira. Cultivar hábitos saudáveis como alimentação adequada, fazer exercícios físicos, ter um sono reparador, praticar a gratidão, sempre que possível e cuidar da vida afetiva, através de bons relacionamentos.
Dicas para reduzir a ansiedade
Hélio Silva apresentou uma dica para amenizar a ansiedade que consiste na utilização da visão periférica. e na concentração de um ponto fixo.
A pessoa se concentra em um ponto fixo em sua frente, no alto, seja na parede ou em qualquer outro lugar e isso expande a visão para enxergar o todo. Todo o ambiente, sem tirar o olho daquele ponto e isso ajuda muito a conter a ansiedade. Outra técnica é se concentrar na respiração, contando quatro segundos na inspiração e fazendo uma parada de quatro segundos. Depois respirar contando também 4 segundos. Fazendo isso, em pouco tempo terá resultados surpreendentes”, finalizou.
