Rachel Pinto
Dentre os muitos impactos e mudanças que a pandemia do novo coronavírus tem provocado estão também uma série de questões sobre a saúde pública e privada com aspectos positivos e negativos, que são alertas para o futuro. Entre elas, a importância do Sistema Único de Saúde (SUS). Quem faz essa análise, é o médico nefrologista, César Oliveira, que é coordenador do programa de clínica médica do Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA).
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade
Para ele é importante olhar para a capilaridade do SUS, bem como a sua universalização em todo o país, como grande diferencial.
“O SUS está presente em qualquer ponto do país onde a doença chegou e foi significativo. Mesmo com as limitações existentes para dar suporte, atender esses pacientes. O colapso visto em vários locais, no entanto, nos sinaliza sobre a redução de 35 mil leitos do SUS nos últimos dez anos e no subfinanciamento do sistema. Houve uma cobrança de preço cruel em vidas porque o sistema não estava adequado para essa missão”, declarou o médico em entrevista ao Acorda Cidade.
César Oliveira declarou também que o contexto de pandemia, traz reflexões sobre mudanças no futuro, no pós-covid e enxergando de um modelo de enfrentamento à doença para um estágio de manutenção permanente da saúde. Ele destacou que isto vai exigir, no entanto, que haja um refinanciamento desse sistema, para que ele tenha um repasse maior do que um dólar por habitante (como é atualmente).
Segundo o médico, esse refinanciamento vai exigir também que as redes do SUS sejam reorganizadas e corretamente dimensionadas. Que os profissionais estejam capacitados para enfrentamento a situações pandêmicas.
“Particularmente eu acho que não será a última vez que nós viveremos em uma pandemia e então nós precisamos ter o sistema preparado para enfrentar esse tipo de calamidade. Por outro lado, precisamos ter a ciência, cada vez mais a ciência e não a política, como norteadora dessas ações. É preciso que o sistema de saúde funcione à reboque da ciência e não a reboque da política. Porque se nós seguirmos a ciência, nós provavelmente teremos uma melhor resposta em qualquer situação desse tipo”, pontuou.
Diversificação das fontes de insumos
César Oliveira analisou ainda, que diante de realidades como a pandemia, é preciso diversificar a fonte de produção de insumos A China lidera o fornecimento dos materiais e ele afirma que essa fonte não pode ficar restrita a apenas um país e arriscada a sofrer o desabastecimento. Na opinião dele, a telemedicina também passa a ser ainda mais incorporada e a se consolidar como algo definitivo para inclusive atingir inclusive regiões mais difíceis.
O médico destaca que no fortalecimento da rede pública de saúde, é de fundamental importância que o país avance no marco legal do saneamento básico.
“Não é possível enfrentar uma pandemia com 100 milhões de pessoas sem esgotamento sanitário e com quase 20 milhões dela sem abastecimento de água. Isso não é mais possível se nós queremos ter um país com redução de agravos da saúde e se queremos ter condições de fazer enfrentamento a essas situações. Portanto, o reforço do SUS, o refinanciamento do sistema, a utilização do saneamento como instrumento de saúde a incorporação da tecnologia, a adequação da rede uma mudança de filosofia de atendimento, é o que nós esperamos para a nova política de saúde pós pandemia”, concluiu.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade.