Uma pesquisa elaborada pelo Datafolha neste ano apontou que um terço dos brasileiros, relatam ter problemas frequentemente ou sempre com ansiedade, sono e alimentação.
A ideia da pesquisa, foi realizar um levantamento para trazer o contraste entre a percepção de saúde dos brasileiros com relatos de sintomas, em especial no campo da saúde mental.
A reportagem do Acorda Cidade conversou com o psicólogo e psicanalista Carlos Henrique Kruschewsky, que destacou as diferenças entre doenças mental e emocional.
“As duas formas de dizer, falam sobre adoecimentos no campo da psique, o limite entre uma coisa e outra não é muito bem estabelecido, são duas formas de dizer sobre a mesma coisa. Na maior parte das vezes, o conceito mais correto é doença mental, e aí a gente tem todo o catálogo de adoecimentos, catálogo de doenças, o CID ou DSM para descrever todo tipo de psicodiagnóstico. Já as doenças emocionais causam uma série de sintomas e sinais desagradáveis, às vezes inclusive psicossomáticas, elas trazem algum tipo de adoecimento do próprio corpo e que se desenvolvem, que se deixar acontecer sem tratamento, acaba deflagrando no psicodiagnóstico”, afirmou.
De acordo com o psicanalista, os adoecimentos do campo do psiquismo já existem há muito tempo, porém após a pandemia, os casos aumentaram.
“As doenças do campo psicodiagnósticos estão aí há muito tempo, são estudados há muito tempo, mas o que a gente percebe, é que depois do período de pandemia, tudo isso piorou bastante porque as relações foram desgastadas, o modo de produção capitalista também traz muito adoecimento. A gente vem vendo que transtornos de ansiedade, transtornos de esgotamento, eles estão acontecendo com muito mais frequência ultimamente, e a gente tem um agravante, a gente vivencia um período histórico onde o jovem vivencia um contexto muito sem esperança. Gerações passadas eram vendidas como: ‘se estudasse, se formasse’ se falasse inglês’ você teria uma chance na vida’ e hoje tudo isso não existe mais, hoje você se forma, hoje você tem um diploma e você não tem garantia nenhuma, você fala inglês, você fala espanhol, você fala alemão, fala mandarim e você não tem garantia nenhuma, então existe um processo muito de desesperança acontecendo”, relatou.
Comparado com as mulheres, os homens procuram ajuda com pouca frequência, segundo Carlos Kruschewsky.
“O público feminino vem buscar ajuda com muito mais frequência, seja ela em condição de ajuda psicológica, com uma equipe de psiquiatria e de psicologia ou qualquer tipo de ajuda, as mulheres não possuem dificuldades de pedir ajuda. O homem vai no médico quando não tem mais jeito, porque tudo isso é fruto de um processo cultural, do machismo sobretudo. O homem acha que ele vai dar conta sozinho, que aquele adoecimento é uma frescura, que depressão não acontece, que isso é uma mentira, então há uma dificuldade cultural, social de vir a lugares como este, pedir ajuda no campo psicológico”, destacou o psicólogo em entrevista ao Acorda Cidade.
Ansiedade e síndrome do pânico podem estar entrelaçados ao modo de produção que aquele ser humano vem desenvolvendo.
“A gente tem um processo que é do modo de produção que a gente vem tendo hoje. Ninguém mais para de trabalhar, antes você tinha uma carga horária de trabalho, você sabia que horas você entrava, você sabia que horas você saía, hoje em dia você não sabe mais porque hoje você sai do trabalho, mas seu WhatsApp não para de te notificar hora nenhuma. Se você está no Home Office, agora você perdeu até o ambiente de casa para descansar, qualquer um, inclusive os chefes, sabem lhe achar com estalar de dedos, este modo de produção que vai transformando o ser humano em uma máquina”, destacou ao Acorda Cidade.
Segundo o psicanalista, quando os primeiros sintomas surgirem, é momento de pedir ajuda.
“O processo de adoecimento às vezes é sutil, mas se você não escuta o inconsciente, ele começa a gritar. Tem gente que tem um bocado de sinal e sintoma que surge por conta de transtornos, de ansiedade, de estresse, de esgotamento, o sujeito começa com uma dor de cabeça, começa com uma dor muscular, ele não cuida e deflagra uma enxaqueca. Toda vez que vai trabalhar tem enxaqueca, precisar ir embora do trabalho, e aí tem dificuldades para acordar ou dorme demais ou para de comer ou passa a comer demais, e isso tem alguma coisa errada acontecendo e é bom escutar o que é que o inconsciente está trazendo para poder pedir ajuda”, informou.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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