Gabriel Gonçalves
A anemia falciforme, doença hereditária passada dos pais para os filhos, é caracterizada pela alteração dos glóbulos vermelhos do sangue, tornando-os parecidos com uma foice, daí o nome falciforme.
Em Feira de Santana, a Associação Feirense da Pessoa com Anemia Falciforme (Afadfal) foi criada para acolher estes pacientes com o objetivo de realizar acompanhamento e tratamento. Em entrevista ao Acorda Cidade, o presidente da Associação, Fabrício Cabral do Nascimento, que também é portador da doença, explicou que o atendimento no município está ficando cada vez pior.
"Há um ano fomos expulsos do Hospital Dom Pedro de Alcântara que prestava serviço para as pessoas com anemia falciforme aqui em Feira de Santana. De lá para cá, os pacientes estão sofrendo com seus atendimentos negados nas UPAs e policlínicas do município. Muitas vezes os médicos duvidam da dor desse paciente, sai de um hospital, vai para outro, sai de uma UPA, vai para outra, tudo isso na intenção de resolver as dores, isso porque já chegou no limite e esse paciente não consegue mais ficar em casa. Tivemos uma reunião com a ex-secretária de saúde, Denise Mascarenhas, e com o diretor do Núcleo Regional Edyr Gomes que aqui em Feira de Santana, as pessoas com anemia falciforme não teriam dificuldades para o atendimento. Enquanto isso, estamos com uma ação civil-pública no Ministério Público há mais de seis meses para tentar resolver tudo isso", declarou.
Na última quarta-feira (4), uma gestante com anemia falciforme faleceu no Hospital Estadual da Criança (HEC). Segundo o diretor da Associação, ainda não se tem uma confirmação do que ocasionou a morte.
"Recebemos uma informação que na última quarta, uma gestante veio a óbito aqui no HEC, não sabemos dizer se foi por falta de atendimento, negligência, temos relatos que a paciente estava há mais de uma semana perdendo líquido e internada dentro do hospital e os médicos não fizeram logo o parto dessa paciente. Nas mulheres portadoras de anemia falciforme, geralmente os partos são considerados como de risco e por isso não podem ser realizados partos normais e os médicos não entendem. Essa paciente estava com o relatório do hematologista que dizia que ela precisava fazer cesárea, mas infelizmente perdemos uma mãe de 25 anos de idade e uma criança. A família está desolada e hoje vim aqui em nome da Associação trazer um ofício, solicitando um esclarecimento do órgão. Iremos perder vidas até quando? Cerca de três meses atrás, perdemos uma criança aqui também e não podemos continuar desta forma, as autoridades precisam tomar uma decisão", afirmou durante entrevista ao Acorda Cidade.
Segundo Fabrício, o último censo realizado no município identificava cerca de 500 pacientes ativos com anemia falciforme, mas de acordo com ele, os dados estão defasados e será necessário fazer um novo levantamento.
"Aqui em Feira no último censo que realizamos há cerca de oito anos, tínhamos cerca de 500 pacientes, mas esses dados estão defasados e precisamos de um novo levantamento para que possamos ter a real certeza de quantas pessoas existem hoje aqui em Feira com essa anemia. Cada paciente possui um tipo de sintoma. Na maioria das vezes, todas as pessoas que são portadoras, sentem dores crônicas, eu mesmo estou sentindo dor aqui, tenho duas úlceras na perna devido a doença e necessito de um acompanhamento. Preciso de uma hidratação venosa e quando essa dor não passa, buscamos as policlínicas, na época, nosso refúgio era o Dom Pedro e nós pacientes desta doença, muitas vezes temos infecção urinária, pneumonia e por isso buscamos este apelo do governo", concluiu.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade