Prevenção e Combate à Surdez

Otorrinolaringologista faz alerta sobre os cuidados com a audição

O especialista também lembrou sobre os 'zumbidos' que são ouvidos ao sair de um local muito barulhento, e falou sobre o uso de cotonetes.

Surdez
Foto: USP Imagens/Divulgação

Nesta sexta-feira, 10 de novembro, é celebrado o Dia Nacional de Prevenção e Combate à Surdez, uma data comemorativa que foi instituída pela Portaria de Consolidação, como símbolo de luta cujo propósito é educar, conscientizar e prevenir a população brasileira para os problemas advindos da surdez.

A surdez é o nome dado à impossibilidade ou à dificuldade de ouvir. De acordo com o Ministério da Saúde, a audição é constituída por um sistema de canais que conduz o som até o ouvido interno, onde essas ondas são transformadas em estímulos elétricos e enviadas ao cérebro, órgão responsável pelo reconhecimento daquilo que se ouve.

A reportagem do Acorda Cidade conversou com o médico otorrinolaringologista, Sandro Torres, que destacou a importância da prevenção no combate à surdez.

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Médico Sandro Torres | Foto: Paulo José/Acorda Cidade

“A audição é um sentido muito nobre e que requer um cuidado muito intenso e muito apurado. Então, quando uma pessoa tem alguma perda de audição, quanto precoce seja feito o tratamento ou a detecção, melhor o resultado final. Por que isso? Porque as células da audição tem uma sensibilidade muito grande e o córtex auditivo, que é a região do cérebro, que decodifica, que recebe a audição e faz com que a gente entenda o que a gente ouve, ele também precisa ser estimulado frequentemente, constantemente, se não ele entra em desuso e assim como acontece com o músculo, ele começa a atrofiar, a perder suas conexões. Então, se a pessoa fica muito tempo com privação de audição, a tendência é quando ela desejar reabilitar, desejar corrigir, ela não consiga um resultado muito bom porque aquela região que estava sendo estimulada, ficou muito tempo em desuso e aí perdeu sua função e algumas vezes isso não é recuperável, por isso que a detecção precoce e o tratamento precoce da surdez ou da perda auditiva”, informou.

O que pode provocar a perda da audição?

De acordo com o especialista, exposição ao barulho, além de medicamentos tóxicos, são primordiais para este acontecimento.

“A audição é muito sensível, então diversos fatores podem provocar perda de audição. A pessoa pode nascer sem audição por problemas genéticos, problemas durante a gestação, problemas advindos do parto mesmo, pode ter alguma lesão, algum trauma. A pessoa também pode adquirir, pode nascer com uma audição boa e adquirir problemas que podem ser provocados por exposição a barulho, exposição a medicamentos tóxicos para o ouvido, exposição a poluentes, sobretudo aqueles inseticidas, organofosforados, que são aqueles agrotóxicos que eram usados durante muito tempo na lavoura. A gasolina também, diesel, a exposição constante dos produtos pode provocar uma toxicidade para o ouvido, infecções que podem provocar surdez, então uma série de fatores podem levar a um prejuízo na audição”, afirmou.

O uso do fone de ouvido pode ser prejudicial?

Ao Acorda Cidade, o médico Sandro Torres explicou que a constante utilização não pode causar problemas para a audição, mas o que pode prejudicar, são os decibéis deste som emitidos pelos fones de ouvido.

“Nós vimos na internet diariamente publicações sobre os benefícios ou malefícios do fone de ouvido, desses earphones. Então, veja, o importante e o que prejudica não é o aparelho que você vai colocar no ouvido. Isso pouco importa, o que determina se vai haver alguma lesão ou não é a intensidade do som que você imprime naquele aparelho. Então, se a pessoa usa um fone de ouvido com um som, com uma intensidade sonora abaixo de 80 decibéis, não tem nenhum risco para a audição, então ele pode passar o dia inteiro ouvindo o fone, que não tem nenhum problema para a audição. Porém, se ele coloca o som em um volume acima de 80 decibéis, a partir de 85 decibéis já começa a haver algum risco de lesão. O que a gente orienta, é uma máxima que a gente usa, é o seguinte, o fone de ouvido deve estar em um volume que não impeça você de ouvir o som ambiente, não mascare o som ambiente. Quando você está com fone de ouvido e consegue ouvir as pessoas estão próximas a você, aquele volume está adequado. Quando você coloca um fone no ouvido e ele impede que você ouça o som ambiente, isso indica que o som está muito elevado, e aí sim existe risco de lesar a audição”, explicou.

Uso de cotonetes é incorreto?

De acordo com o médico otorrinolaringologista, o mais indicado é que é a pessoa ao sair do banho, possa fazer a limpeza do ouvido com a ponta do dedo enrolada na toalha.

“O cotonete, infelizmente, tem a dimensão muito propícia para se usar no ouvido. Porém, é um erro cultural que existe, sobretudo no Brasil, do uso dessas hastes flexíveis que, na maioria das vezes, empurra a cera. Ao invés de tirar a cera, de remover a cera, a pessoa sem querer empurram, como se fosse uma bucha de canhão. A pessoa estava empurrando a cera, e, boa parte das vezes, impacta, forma uma rolha de cerume e a pessoa fica com audição ruim e precisa fazer algum procedimento de remoção dessa cera para poder voltar à audição. Além disso, quando a pessoa consegue, tem êxito em remover a cera, geralmente ela remove a cera em excesso. Então o ouvido fica sem cera nenhuma. E o ouvido sem cera provoca um risco maior de infecções, um risco maior de traumas, porque a cera não é sujeira e não é nenhuma impureza. A cera é um óleo cheio de enzimas, que o ouvido produz, para a defesa do organismo. A cera, por ser oleosa, ela diminui o impacto, diminui o atrito de objetos que entrem no ouvido, o bocal de caneta, algum inseto que seja introduzido, que entre no ouvido, a cera diminui esse impacto porque ela faz com que escorregue. Além disso, as enzimas que ela tem na sua composição, elas diminuem a população bacteriana dentro do ouvido e de fungos também. Então, quando o ouvido está sem cera nenhuma, ele fica mais vulnerável a infecções. Então não recomendamos que use os cotonetes de jeito nenhum. A recomendação é que seja limpo durante o banho, só com a toalha, com o dedo mesmo, porque onde a toalha e o dedo chegarem, é porque está na parte externa do ouvido, e aí não tem nenhum problema”, enfatizou.

O otorrinolaringologista Sandro Torres aproveitou para destacar os perigos de exposição ao barulho intenso em ambientes de trabalho e shows.

“Atualmente na indústria já existe um protocolo e uma medicina do trabalho bem qualificada que impede a exposição dos trabalhadores a ruídos intensos sem uso do EPI, que é o Equipamento de Proteção Individual. Qualquer som acima de 80 decibéis prejudica a audição. Por isso que no carnaval vocês observam o pessoal da prefeitura com um decibelímetro para medir e impedir que os sons tenham uma intensidade muito alta porque estava havendo muita lesão auditiva e as pessoas trabalhavam próximas do trio. Mas não só trio, não só festa, não só paredões. Igreja também. Igreja, sobretudo Igreja Evangélica, que tem o hábito de ter banda dentro da igreja. Aquele ambiente da igreja é fechado, o som reverbera e aumenta muito a intensidade sonora. Então o cuidado que tem que se ter não é com a qualidade do som. Não é se é som de igreja, se é um cântico de igreja, se é um cântico gregoriano ou se é um paredão de um arrocha, um paredão de música de baixo nível. Não é isso que importa. O que importa é a intensidade sonora. Então existe uma regra que quanto maior a intensidade sonora, menor o tempo que você pode se expor”, disse.

O especialista também lembrou sobre os ‘zumbidos’ que são ouvidos ao sair de um local muito barulhento.

“Aquela pessoa que vai para a boate, vai para uma festa, vai para um ambiente com um som muito intenso e quando sai daquele ambiente fica com um zoom no ouvido, todo mundo já passou por essa situação. Esse zoom que a pessoa sente no ouvido é uma perda auditiva temporária. Se a pessoa fizer naquele momento um exame de audição, vai apontar uma perda. Mas com o descanso, com o repouso, a tendência é a audição voltar, a não ser que a pessoa tenha alguma outra predisposição. Porém, quando a pessoa é, por exemplo, um trabalhador da indústria que não usa equipamento de proteção individual, aquele indivíduo se acostuma com o som do trabalho, porque é um som que está ali todos os dias, ele trabalha durante anos, e ele começa a não perceber a lesão auditiva. Ele não percebe esse zoom que a pessoa sente quando vai pra uma boate, vai pra um show. Mas, ele começa a ter uma lesão e quando percebe, a lesão já está mais intensa, e aí dificulta o tratamento”, concluiu.

Com informações do repórter Paulo José do Acorda Cidade

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