Acorda Cidade
A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou em abril de 2019 um guia sobre atividade física, comportamento sedentário e sono para crianças menores de 5 anos. Segundo o documento, crianças com mais de 2 anos não deveriam ficar mais de uma hora em contato com celulares, tablets e TVs. Durante o primeiro ano de vida, o contato com as telas não deve nem existir, de acordo com as recomendações. As sugestões independem do sexo.
Em vez disso, o guia recomenda melhorar práticas de atividade física, reduzir o sedentarismo e adequar o tempo de sono de crianças pequenas para contribuir com a redução do risco de desenvolvimento de obesidade infantil e doenças crônicas, além de trazer benefícios para a saúde mental e o bem-estar.
Segundo o documento, a dependência ou o uso problemático e interativo das mídias causa problemas mentais, aumento da ansiedade, violência, cyberbullying, transtornos de sono e alimentação, sedentarismo, problemas auditivos por uso de headphones, problemas visuais, problemas posturais e lesões de esforço repetitivo (LER).
As medidas vão ao encontro das orientações disponibilizadas pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), em 2016. De acordo com a entidade, o tempo de tela para crianças entre 2 e 5 anos deve ser de, no máximo, uma hora por dia, enquanto a exposição às telas deve ser desencorajada ou até proibida antes de 2 anos. O documento foi inspirado em estudos e recomendações internacionais e adaptado à realidade nacional.
Segundo a SBP, o ideal é equilibrar as horas de atividade online com atividades esportivas, brincadeiras, exercícios ao ar livre ou em contato direto com a natureza. Nos últimos anos surgiu uma série de brinquedos educativos e pedagógicos para os pequenos. Um dos mais famosos é a boneca Baby Alive, que simula necessidades diárias de um bebê e estimula a responsabilidade para com o outro. Brinquedos como esse desenvolvem a criatividade e habilidades socioemocionais.
O papel dos pais também é fundamental nesse processo. São eles os responsáveis por orientar os filhos sobre os riscos e os limites da exposição aos dispositivos tecnológicos. Para adolescentes, é ainda necessário conversar sobre privacidade e segurança e informar sobre os riscos de uma exposição exacerbada na internet. Os pediatras também incentivam os pais e cuidadores a monitorar os sites, programas, aplicativos e vídeos que crianças e adolescentes acessam.
Cenário brasileiro
De acordo com pesquisa feita pela Revista Crescer, com 2.044 pais de crianças de 0 a 8 anos, em agosto de 2018, as crianças brasileiras excedem muito o tempo recomendado pela OMS e SBP. Segundo a pesquisa, 47% das crianças passam mais de três horas por dia em frente à tela da televisão ou de smartphones. Contrariando todas as orientações, 40% delas já tinham um dispositivo tecnológico antes de 2 anos.
O Tic Kids Online – Brasil, de 2015, realizado pelo Comitê Gestor da Internet (CGI) e pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade de Informação (Cetic.br), também mapeou o perfil das crianças e adolescentes com acesso à internet no país. Mas, nesse caso, o levantamento foi feito com pessoas com idades de 9 a 17 anos. Nessa faixa etária, oito em cada dez revelaram usar a internet com frequência, o que representa 23,7 milhões de jovens em todo o Brasil.
O trabalho detectou questões preocupantes sobre a qualidade das interações digitais. Um total de 20% de crianças e adolescentes disseram já terem sido tratadas de forma ofensiva na internet. Desses, 21% dos adolescentes deixaram de comer ou dormir por causa da internet, 17% procuraram informações sobre formas de emagrecer, 10% buscaram formas para machucar a si mesmo, 8% relataram contato com formas de experimentar ou usar drogas e 7% declararam ter tido acesso a maneiras de cometer suicídio.