Vacina Covid-19

Obstetra orienta uso da vacina contra a covid-19 a partir do segundo trimestre da gestação

O médico relatou que a vacina pode ser aplicada em qualquer fase da gestação, mas destacou que pode ser contra-indicada no primeiro trimestre da gravidez, quando há a formação do bebê.

Gabriel Gonçalves

Atualizada às 20:40

Na última terça-feira (27), o Ministério da Saúde decidiu incluir as grávidas e puérperas (mulheres no período pós-parto) no grupo prioritário para receber a vacina contra a covid-19.

Contente com esta informação, a enfermeira obstétrica e que está gestante, Gleice Pereira, informou à reportagem do Acorda Cidade que receber esta notícia foi como visualizar um luz no fim do túnel, pois é um passo importante no controle da infecção contra a covid-19.

"Trata-se de um grupo que ainda foi pouco estudado e temos poucas referências sobre como o vírus pode atingir o organismo materno, principalmente no bebê. Então não temos dados relevantes sobre esses impactos e a notícia de que esse grupo foi inserido na prioridade é muito gratificante, até porque é importante a gente lembrar que, infelizmente, o Brasil é o país com maior número de mortes maternas, então a população precisa manter os cuidados e ter uma atenção especial voltada para esse grupo", disse.

Para Gleice, as prioridades estabelecidas dentro do Plano Nacional de Imunização têm como fator positivo avançar de forma gradual no combate contra a Covid-19. Ainda segundo ela, o Brasil é experiente em vacinação, mas ela está acontecendo de maneira lenta.

"O ideal seria que nós já tivéssemos vacinas para todos, porque a gente só vai conseguir conter esse avanço com a imunização em massa. Infelizmente, ainda não é uma realidade do nosso país, então precisamos nos adaptar com o que a gente tem e estas prioridades, vejo como um fator positivo porque é através dela que vamos conseguir avançar de forma gradual nesse processo. Mas eu não consigo entender como o Brasil, um país experiente em vacinação, está avançando de maneira tão lenta, e estes profissionais de saúde que estão na linha de frente são as pessoas com maiores vulnerabilidades de serem infectadas com o vírus, e a partir daí, como estamos vendo agora, sendo estabelecidos outros grupos como forma de prioridade", disse.

Foto: Arquivo Pessoal

De acordo com a enfermeira obstétrica e que também realiza atendimentos de acupuntura, é necessário que as gestantes e puérperas mantenham total prevenção, principalmente as mulheres que estão no processo de pós-parto e naturalmente recebem visitas.

"É necessário permanecer com o distanciamento social, o uso de máscaras, álcool em gel, medidas que já fazem parte do nosso cotidiano para que o risco de contaminação pela covid-19 seja cada vez mais reduzido. A gestação por si só já deixa as mulheres mais vulneráveis, causando algum tipo de distúrbio, o que pode gerar o potencial risco para a trombose, então é necessário ter todo esse cuidado e é bom lembrar que a mulher que está nesse período gestacional precisa manter as consultas de pré-natal, porque o que estamos vendo são gestantes com medo de se expor em consultas e não realizando esses exames. Mas o pré-natal precisa ser mantido, pois são nestes exames que são rastreados qualquer tipo de patologia", afirmou.

Gleice explicou que não chegou a presenciar casos de gestantes acometidas pelo coronavírus, mas explicou que colegas profissionais já relataram situações de relatos tristes.

"Assim que teve início a pandemia aqui na cidade, eu solicitei afastamento da maternidade onde trabalhava, porque meu filho e meu esposo fazem parte do grupo de risco. Nesse período ainda não estava grávida, mas logo depois eu descobri a minha gestação e parei com os atendimentos, tanto relacionado com a obstetrícia, quanto com a acupuntura. Durante todo esse período eu estou em casa, mas tenho colegas que já presenciaram casos de gestantes com covid-19 e que infelizmente não são relatos bons, então eu deixo aqui uma mensagem para as mamães e futuras mamães, que não deixem de tomar a vacina, assim que tiver disponível, procurem nas Unidades de Saúde, onde são aplicadas, pois só com a vacinação é que vamos conseguir vencer a luta contra este vírus", concluiu.

O obstetra e ginecologista, também diretor do Hospital de Campanha, Francisco Mota, informou à reportagem do Acorda Cidade que esta decisão do Ministério da Saúde é de grande importância. Ele relatou que pode ser aplicada em qualquer fase da gestação, mas destacou que pode ser contra-indicada no primeiro trimestre da gravidez, quando há a formação do bebê.

"Essa é uma excelente decisão do Ministério, principalmente quando se trata da vacina CoronaVac, que está sendo produzida e envazada no Butantan. Ela é muito semelhante à vacina da gripe, portanto é uma vacina que provavelmente tem um risco muito pequeno ou inexistente em gestantes. A vacina da gripe é indicada para tomar em qualquer período da gestação, então a vacina da Covid-19 também é indicada desta forma, mas é claro que nós, enquanto obstetras, orientamos para que nossas pacientes tomem a partir do segundo trimestre da gestação porque o período anterior ainda é de formação. Suponhamos que esta vacina não está ainda completamente estudada para ser usada na gestação, a paciente recebe a dose no primeiro trimestre e esse bebê tem uma má formação, com isso a mãe pode acreditar que tenha tido a interferência da vacina", explicou.

Para o médico Francisco Mota, a imunização contra a covid-19 pode influenciar de maneira positiva nesta gestante, caso seja acometida pela doença, no terceiro trimestre de gestação, quando a respiração é comprometida pelo tamanho do útero.

Foto: Acorda Cidade (Arquivo) | Foto registrada antes da pandemia

"No terceiro trimestre de gestação, essa paciente tem um comprometimento da respiração, porque o útero está grande e ele pressiona o diafragma, que é o principal músculo da respiração, então a paciente já possui certa dificuldade de respirar. Se a gente faz essa imunização, ela pode correr riscos naturalmente, mas quando não há imunização, o risco pode ser maior com doenças mais graves, assim como as pacientes puérperas, as chances de se ter uma trombose são muito maiores. Para que se tenha uma ideia, em julho do ano passado, um estudo mostrava por volta de 75% das mortes em gestantes puérperas que ocorriam no Brasil, eu não tenho dados atualizados, mas é possível que com o uso da vacina em gestantes, vai diminuir esses casos de trombose, principalmente nestas pacientes pós-parto", afirmou.

Uma das medidas de prevenção, principalmente no período pós-parto, é evitar receber visitas. De acordo com o obstetra Francisco Mota, essa falta do distanciamento social pode provocar a contaminação da Covid-19.

"Eu costumo enfatizar com a equipe do Hospital da Mulher e com relação às pacientes puérperas, que ao dar alta a estas pessoas, a gente sabe que é uma cultura do nosso país de visitar um bebê, mas salientamos para estas pacientes que evitem receber visitas por pelo menos 45 dias, mostrem o bebê através de videochamadas, mas evitem o contato, porque aumenta o risco de se pegar a covid-19 e de forma grave", concluiu.

Com informações da produtora Maylla Nunes do Acorda Cidade

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