No dia 27 de outubro, é celebrado o Dia Nacional de Luta pelos Direitos das Pessoas com Doença Falciforme. Em Feira de Santana, cerca de 600 pessoas estão cadastradas para receber o tratamento através do serviço de referência do município.
No entanto, conforme o presidente da Associação Feirense de Pessoas com Doença falciforme, Fabrício Cabral do Nascimento, o número de pacientes acometidos pode ser maior.
Em entrevista ao Acorda Cidade, ele informou que a doença falciforme é hereditária e possui tratamento através do Sistema Único de Saúde (SUS).
“A doença falciforme é hereditária, que não tem cura, tem tratamento, e dentro do SUS hoje vem com o transplante de medula óssea, que traz a cura para o paciente, mas não é todo mundo que tem a indicação de fazer o TMO. É uma doença que causa complicações para os seus pacientes, atinge mais a população negra em cerca de 95% dos casos, é invisível e traz sequelas e questões psicológicas. Então é uma doença que complica o paciente e agrava o quadro, levando a óbito”, afirmou Fabrício Cabral.
Ele relatou que pensando em ajudar os pacientes que possuem a doença no município, foi criada a Associação Feirense.
“A Associação foi criada em 2012 a partir de um sonho do primeiro presidente que não se encontra mais com a gente, o Amaury José da Silva, ele faleceu no ano de 2013, e tinha esse sonho de formar uma Associação, um grupo para lutar pelos direitos das pessoas com a doença falciforme”, contou.
Em relação ao número de pessoas cadastradas com a doença, Fabrício Cabral contou que em Feira os registros estão defasados.
“Infelizmente a gente tem uma contagem defasada dentro do município de Feira de Santana sobre a quantidade de pessoas com a doença falciforme. A Associação vem há mais de dois anos solicitando um censo da Secretaria de Saúde, porque a gente precisa ter um número exato de quantas pessoas existem. A gente sabe que dentro do serviço de referência existem quase 600 pessoas que fazem esse tratamento, que estão cadastrados dentro do serviço de referência, mas a gente sabe que esse número é maior, porque tem pessoas que fazem esse tratamento em clínicas particulares e tem pessoas que não sabem que têm a doença, outras fazem o tratamento em Salvador, então a gente sabe que este número não é exato, a gente necessita de um novo censo, mas pelo olhar da Associação, a gente deve ter entre 800 a 900 pessoas com a doença falciforme”, alertou Fabrício Cabral.
Conforme o presidente da Associação, o tratamento é complexo devido à gravidade da doença.
“A anemia falciforme se agrava em cada paciente de uma maneira diferente, então tem paciente que tem úlcera de perna, outros têm problemas de necrose, tem paciente que teve AVC [Acidente Vascular Cerebral], outros têm pedra na vesícula, então a doença não é exata e se manifesta em cada um de uma forma diferente e isso complica a situação do paciente, porque também tem a questão da oxigenação, das crises que levam o paciente a se debilitar, se internar, então por isso é importante a urgência e emergência para esse paciente que tem a doença falciforme”, informou.
O ajudante de Pedreiro José Carlos Pereira dos Santos, de 54 anos, contou ao Acorda Cidade que foi diagnosticado com a doença falciforme em 1995, quando caiu de um andaime e foi internado na Casa de Saúde Santana.
“Eu tinha muita dor e ali foi diagnosticado que eu tinha a doença falciforme e fui enviado para o Hemoba, em Salvador. Eu sentia muita dor no corpo inteiro, mas como eu não tinha conhecimento do que era, pensei que era só da queda, mas uma médica descobriu que eu tinha a doença”, disse.
Ele relatou que no início da descoberta teve muita dificuldade de realizar o tratamento, pois em Feira não havia tantos profissionais com conhecimento da doença.
“Eu tive muita dificuldade, porque aqui em Feira não existia o tratamento, muitos médicos não tinham o conhecimento. Eu ia para Salvador, e como não tinha conhecimento nem parentes na capital na época, era muito difícil chegar até o Hemoba. É muito difícil viver com a anemia falciforme, faltam médicos, assistência social, muitas vezes a gente que trabalha como ajudante de pedreiro sofre muitas dores, porque quando pega um piso, sentes dores na coluna, dores no joelho, nas articulações e somos tratados como preguiçosos, que não queremos trabalhar, e ainda tinha a discriminação nos postos de saúde e dentro dos hospitais porque não tinham conhecimento”, contou.
Ele destacou que atualmente, devido à luta encampada pela Associação, os pacientes têm acesso ao tratamento na cidade. “E o Dia de Luta é muito importante porque incentiva muitas pessoas que ainda não conhecem, tem pessoas que ainda não tem o diagnóstico”, frisou.
Com informações do repórter Paulo José do Acorda Cidade
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