Prevenção

No Dia Mundial do Câncer, patologistas alertam para risco da descoberta tardia de tumores de evolução rápida na pandemia

Durante a pandemia de covid-19, é importante não negligenciar os sinais do corpo e a rotina de exames

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Nesta quinta, dia 4, é celebrado o World Cancer Day, uma iniciativa global de conscientização sobre o câncer liderada pela União Internacional de Controle do Câncer (UICC). Com o tema “Eu sou. Eu vou”, a proposta é engajar todas as vozes da sociedade no combate à doença que, anualmente, acomete 19,3 milhões de pessoas no mundo e causa 9,9 milhões de mortes.

Os dados são do levantamento Globocan 2018, do Agência Internacional para Pesquisa do Câncer (IARC), da Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com o IARC, levando em conta as mudanças demográficas e casos políticas mais eficazes de prevenção do câncer não sejam adotadas, a estimativa é que, nas próximas duas décadas, a incidência anual da doença salte de 19,3 milhões para 30,2 milhões e o número de mortes pule de 9,9 milhões para 16,3 milhões.

Paralelamente ao cenário de aumento global da incidência do câncer, observou-se no início de 2020, um aumento de novos casos de câncer diagnosticados no Brasil. De acordo com a Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), nos primeiros 5 meses da pandemia, esse número caiu bruscamente, diminuindo em 70% a procura dos pacientes aos serviços de saúde público e privado. Esses números refletem uma interrupção no diagnóstico e tratamento de um número significativo de pacientes. Esses dados são corroborados pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica, que registrou igual queda nos procedimentos cirúrgicos no mesmo período.

“A demanda reprimida que observamos no ano passado já causa impacto, principalmente, no SUS. O câncer está chegando mais avançado aos serviços de referência e nosso receio é que, além desta epidemia de casos avançados, tenhamos uma aglomeração de atendimento, causando um colapso no sistema de saúde, comenta Kátia Moreira Leite, presidente da SBP e professora da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).

COMO AMENIZAR O IMPACTO DA COVID-19 NO DIAGNÓSTICO DE CÂNCER?

Quando o câncer é diagnosticado precocemente, a chance de cura supera os 90%. Ao se perder a oportunidade de descobrir a doença em fase inicial, o manejo se torna mais agressivo, com mais efeitos colaterais, menor eficácia no controle da doença e com maior impacto financeiro no sistema de saúde.

 A médica patologista e presidente da SBP, Kátia Moreira Leite, chama a atenção para três tipos de câncer que, não diagnosticados no momento ideal, costumam evoluir rapidamente para a doença com maior extensão local ou metastática, mudando o desfecho do paciente. Os principais seria o câncer colorretal (intestino grosso e reto), de bexiga e de células germinativas do testículo.

Câncer colorretal 

Um câncer que pode ser evitado com a realização do exame de colonoscopia, pois ele possibilita a retirada de pólipos que poderiam evoluir para um tumor maligno. É recomendado a partir dos 50 anos ou a partir dos 40 anos caso haja histórico de câncer na família. Por ser uma avaliação que exige sedação em ambiente hospitalar, foi um procedimento impactado pela pandemia de COVID-19, com alguns serviços com volume reduzido ou até fechados. De acordo com o levantamento SEER, do National Cancer Institute, dos Estados Unidos, quando a doença está restrita ao intestino grosso as chances de cura superam os 90,2%. Por sua vez, quando há metástase o percentual cai para 14,3%.

O câncer colorretal, com mais de 40 mil novos casos previstos para 2021, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca) é o segundo tumor maligno, excluindo o câncer de pele não melanoma, mais comum em homens e mulheres, atrás apenas, respectivamente, de câncer de próstata e mama. Embora multifatorial, há uma forte ligação entre hábitos alimentares e incidência desta doença.

Recomenda-se a adoção de uma dieta que contemple o consumo de frutas e hortaliças, assim como evitar o consumo de alimentos processados e de bebidas alcoólicas, refrigerantes e outras bebidas açucaradas. Moderação também é a palavra-chave em relação à carne vermelha e alimentos calóricos e/ou gordurosos. Os demais fatores de risco são sedentarismo, obesidade e tabagismo.

A hereditariedade representa entre 5% a 10% dos casos, sendo a síndrome de Lynch a mais prevalente. Há também a polipose adenomatosa familiar, que se caracteriza por um grande número de pólipos muito mais precocemente, cuja intervenção deve ser mais agressiva.

Câncer de testículo 

Com  1,8 casos para cada 100 mil homens, o câncer de testículo ocupa a 20ª colocação entre os tumores malignos mais comuns na população masculina mundial. No entanto, com 71 mil novos casos registrados em homens entre 15 e 34 anos, o câncer de testículo é o segundo lugar em incidência no mundo, quando considerados todos os homens até 34 anos, ficando atrás apenas da leucemia, que é o câncer pediátrico mais comum.

Embora haja 1,8 casos para cada 100 mil no mundo, essa taxa sobe para 6,2 casos para cada 100 mil homens na Europa. Na América Latina e Caribe, a prevalência é de 4,4 casos. Com apenas 0,28 caso, a África apresenta a menor prevalência. De acordo com o Globocan 2018, com 3,7 mil novos casos anuais, o Brasil registra a terceira maior incidência da América Latina de câncer de testículo, atrás do Chile, com 9,7 casos para cada 100 mil chilenos e do México, que teve 4,6 mil homens diagnosticados no ano passado.

Um fator que dificulta o diagnóstico precoce no Brasil é o fato de ser muito comum o homem associar qualquer alteração no testículo com alguma doença venérea ou trauma recente. “É fundamental diagnosticar o câncer de testículo precocemente. O diagnóstico precoce possibilita taxas de cura próximas a 100% e eventualmente, a metastatização ocorre muito rapidamente, colocando em risco a vida do paciente”, alerta Kátia Moreira Leite.

O principal alerta é a criptorquidia, condição na qual o testículo não desceu para o escroto. Homens que fizeram cirurgia para corrigir esta condição têm risco aumentado de desenvolver câncer testicular.

Câncer de bexiga 

Em suas fases iniciais, as chances de cura de carcinomas de bexiga são maiores que 95%. Quando a doença evolui para o estadio infiltrativo, mas permanece restrita à bexiga, essas taxas caem a 34%. Quando há metástase à distância, no entanto, apenas 5% dos pacientes vivem mais de cinco anos após o tratamento.

“O diagnóstico precoce e assertivo é fundamental para o desfecho do paciente. A cirurgia é a modalidade de tratamento mais importante para estes tumores, com ótimos resultados para doença inicial. Há também protocolos de quimioterapia neoadjuvante (antes da cirurgia), indicada para alguns casos, mas depende de função renal e outros aspectos clínicos do paciente. Pode haver também indicação de tratamento conservador multimodal, com inclusão da radioterapia”, explica a médica patologista Kátia Moreira Leite.

Dor, dificuldade para urinar, infecções urinárias e sangue e/ou espuma na urina são sinais de alerta de câncer de bexiga e de outras doenças do sistema urinário. O diagnóstico do câncer de bexiga é realizado por exames de urina e de imagem, como tomografia computadorizada, seguido por uma abordagem cirúrgica, a cistoscopia e o exame histopatológico, fundamental na caracterização do grau de invasão tumoral, que é determinante para o tratamento.   

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