Saúde

Médico explica os efeitos dos medicamentos à base da cannabis e sua influência no tratamento de doenças

O médico Leopoldo Pires informou ao Acorda Cidade que todos os canabinóides podem ser encarados como possíveis medicamentos.

Uso medicinal
Foto: Pexels

O Conselho Federal de Medicina (CFM) indicou que os canabinóides são substâncias encontradas na planta cannabis que atuam em receptores específicos do cérebro e do corpo humano, e são os principais ingredientes ativos tanto nos medicamentos derivados da cannabis como de suas preparações.

Os dois mais extensivamente estudados são o Tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD). O canabidiol (CBD) é um dos 80 canabinóides presentes na planta cannabis Sativa, também conhecida como cânhamo ou maconha e não produz os efeitos psicoativos típicos da planta.

O médico Leopoldo Pires, especialista em tratamentos com derivados da cannabis medicinal e referência em prescrição de canabinóides, explicou em entrevista ao Acorda Cidade, que todos os canabinóides podem ser encarados como possíveis medicamentos.

“Falamos, principalmente, do CDB que é o canabidiol e existe uma molécula vilanizada que é o tetrahidrocanabinol (THC) que é o responsável pelos efeitos psicoativos, mas com intensos efeitos medicinais também. Existem inúmeras medicações à base das substâncias derivadas da planta”, afirmou.

Médico
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Efeito nos pacientes

Segundo o Leopoldo, os efeitos dos canabinóides nos pacientes são diversos:

Anti-inflamatório;
Analgésico;
Neuroprotetor;
Ajuda a diminuir a ansiedade;
Melhora o padrão do sono;
Melhora o tratamento de diversas doenças neurodegenerativas como Alzheimer, Esclerose Múltipla;
Contribui para o tratamento do câncer;
Combate o efeito da quimioterapia;
Diminui a dor;
Efeito antináuseas para quem passa por um câncer;

Além disso, é possível também desmamar o uso intensivo de opioides (drogas que agem no sistema nervoso) e anti-inflamatórios.

“Os efeitos são bem amplos, temos atuação no autismo, melhoria de qualidade de vida no geral, até para quem não tem nenhuma doença. É uma planta muito poderosa”, destacou.

Contraindicação para pacientes com esquizofrenia

A esquizofrenia, conforme o especialista, é um ponto bem delicado para o uso de cannabis tanto recreativamente quanto medicinalmente.

“É uma das contraindicações absolutas, ou pelo menos parciais, ao THC, por euforizar outros tipos de crises nesse paciente, mas racionalmente pode ser feito o uso do canabidiol para diminuir a ansiedade e o sono desses paciente, isoladamente, por exemplo”, esclareceu.

Regulamentação e Permissões

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) possui normas regulamentadas para o uso da medicação. No entanto, o médico observou que é importante um maior posicionamento por parte do Conselho Federal de Medicina.

“Quem precisa se posicionar talvez um pouco mais seja o Conselho Federal de Medicina, mas a gente tem um processo bem simplificado de obtenção dessas medicações. As pessoas recebem as medicações por meio de um frete, importada ou do próprio país”, indicou.

O Brasil já produz esses medicamentos, mas ainda em baixa quantidade. “Tem associações ao redor do Brasil produzindo, inclusive tem empresas que já têm a permissão para plantar, distribuir, pesquisar, fornecer, entre outras permissões concedidas pelas autoridades sanitárias”, revelou.

Custo

No mês de março, o prefeito de Salvador, Bruno Reis, sancionou uma lei para que o Sistema Único de Saúde (SUS) forneça medicamentos à base de canadibiol (CBD) ou Tetrahidrocanabinol (THC) na cidade. A lei assegura que os pacientes tenha o direito de receber medicamentos nacionais e importados de graça.

Conforme o médico Leopoldo Pires, o custo do medicamento já foi mais caro, no entanto, atualmente tem ficado cada vez mais acessível.

“A tendência é que fique cada vez mais acessível, a gente precisa regulamentar no Brasil para produzir aqui, coletar imposto aqui, dá direitos ao nosso povo através da cannabis e baratear. Atualmente a gente consegue que os nossos paciente tenham um gasto mensal médio de R$100,00 a R$150,00 ainda é caro, mas pode melhorar muito”, destacou.

Liberação em farmácias

Através das redes privadas também é possível comprar os medicamentos prescritos em farmácias.

“É um pouco mais caro porém nas redes privadas já é possível encontrar, basta o médico transcrever que o paciente consegue comprar. Também consegue através de importação tutelada pela Anvisa. Mas além disso, no Brasil, o prefeito de Salvador Bruno Reis sancionou a lei do vereador André Fraga para ter cannabis medicinal pelo Sus. Então, eu já me coloco a disposição de forma técnica para auxiliar os médicos e ensiná-los a não mais obter pela via particular, mas também pelas farmácias vivas e quem sabe um dia plantar no quintal da unidade de saúde para extrair a medicação”, pontuou.

Popularizar a medicação para a população é necessário. “O nosso Brasil é pobre, e nós podemos trazer esse potencial da planta para trazer novas perspectivas ao povo, inclusive gostaria que isso expandisse para Feira de Santana, não só para Salvador”, observou.

Acessibilidade

O especialista em tratamentos com derivados da cannabis medicinal ressaltou ao Acorda Cidade que uma lei precisa ser criada, porque senão a medicação continuará à margem da lei e da clandestinidade.

“A gente precisa que as mídias, os políticos, as autoridades voltem os olhos para isso. Esse é um assunto discutido no mundo todo e é impossível ignorar hoje em dia”.

A falta de recursos dificulta tratamento de muitos pacientes. “A gente tem várias filas de espera para atendimentos sociais e outros tipos de trabalho para tentar facilitar esse acesso, mas infelizmente não tem como fazer para todo mundo se não tiver um apoio maciço das autoridades”, reiterou.

Tratamentos

O medicamento com canabidiol pode funcionar em tratamentos diversos.

“O medicamento funciona muito bem para muita coisa, epilepsia, autismo, alzheimer, doenças crônicas. A gente tem casos muito graves de ansiedade e insônia, os chamados transtornos de ansiedade generalizada e pós-traumático, fibromialgia, câncer, doenças neurodegenerativas, parkinson, atrofias musculares, paralisia cerebral, convulsões não só da epilepsia podem ser controladas, o campo de doenças e condições são muito grandes”, elencou.

Uso desportivo

O medicamento também é indicado para o uso desportivo e para maior qualidade de vida. “Há relatos de melhor foco e concentração. Então o uso dessas substâncias pode ser muito benéfico”.

Interações com outros sistemas do corpo humano

O canabidiol interage com o sistema endocanabinoide por meio do receptor CB2, oferecendo os efeitos benéficos desejados para variados tratamentos.

“O sistema endocanabinoide se conecta ao sistema nervoso e a diversos órgãos. É um sistema de receptores e de ligantes endógenos, que conseguem modular várias funções do corpo, como a questão do humor, ansiedade, sono, dor, inflamação, neuroproteção, entre tantas outras. Esses sistema se conecta do sistema nervoso central, cérebro, sistema imune periférico, pulmão, rins, coração, pele, entre tantos outros órgãos. Há realmente uma integração de todos os outros sistemas estudados na medicina”, informou o médico ao Acorda Cidade.

O tratamento diferencia-se da cura. “As medicações podem ser usadas para o tratamento eficaz, mas não usamos o termo cura. Nos casos em que não conseguimos, podemos criar qualidade de vida. Por exemplo, em um câncer metastático não tem por que criar falsa esperança de que aquilo vai melhorar com a cannabis, mas podemos reduzir as dores da pessoa, melhorar o sono, as náuseas e o humor. Oferecendo qualidade de vida, de uso racional, com alta evidência científica sempre”, frisou.

Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade

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