Rachel Pinto
O surto de gripe que acontece em Feira de Santana, além de lotar as unidades de saúde tem causado preocupação no setor farmacêutico. Isto porque já começam a faltar medicamentos antigripais e até alguns analgésicos e antitérmicos considerados comuns.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
A farmacêutica Tarcila de Sousa Lima, contou ao Acorda Cidade que o surto de influenza está fazendo os clientes procurarem os medicamentos para gripe, assim como xaropes e os chás. Com o aumento da procura, estes produtos estão faltando nas prateleiras e o setor está se esforçando para buscá-los nas distribuidoras e laboratórios.
Segundo ela, o medicamento Tamiflu que é um antiviral usado no tratamento da gripe também é muito difícil de encontrar e as farmácias estão concorrendo com o Serviço Único de Saúde (SUS) para conseguir comprar.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
“De certa forma a falta prejudica porque têm pessoas que não utilizam o SUS e quem não utiliza o SUS e quer realmente comprar nas farmácias, infelizmente não vai encontrar o produto”, disse.
Ela informou que esta dificuldade no mercado de medicamentos antigripais trouxe também reajustes. Além disso, os laboratórios tiveram que se adaptar para aumentar a produção.
“Alguns medicamentos sofreram reajuste e a gente sentiu na compra, justamente por conta dessa dificuldade. Outro fator que é importante a gente falar é que não é comum nessa época ter susto de gripe, então a produção desses produtos geralmente em dezembro e janeiro é baixa e teve que se fazer uma adaptação e manter o estoque em alta em um período que não é comum. Isso tudo traz fatores como aumento de preço, falta do medicamento e consequentemente esse cenário que a gente está vivendo. Tanto a indústria como a farmácia, distribuidoras estão se esforçando para atender a demanda e então provavelmente aos poucos isso vá se equilibrando, a produção se equalizando à necessidade dos pacientes e clientes”, disse.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
Tarcila pontuou também que é importante que as pessoas fiquem atentas com relação a automedicação, pois o uso indiscriminado de medicamentos pode trazer problemas sérios para a saúde.
“Em relação a automedicação a gente tem duas situações: por exemplo, tratar o sintoma da gripe que é através dos antitérmicos, antialérgicos, os descongestionantes, nesse caso eu oriento que procure realmente a orientação farmacêutica para que possa fazer o tratamento paliativo. No caso dos antivirais é importante que passe por uma avaliação médica para verificar a necessidade do real uso do Tamiflu, por exemplo. Esse medicamento tem como função reduzir a carga viral e é mais indicado em pessoas que estão desenvolvendo a síndrome respiratória aguda. Pessoas que são imunodecifientes, estão em tratamento de quimioterapia precisam de um cuidado maior e geralmente os médicos acabam prescrevendo”, explicou.
A farmacêutica destacou que outro produto que está sendo bastante vendido é o soro para limpeza do nariz. Por ser antisséptico, ele tem o papel de higienizar as vias aéreas superiores e ajuda a prevenir contaminação por vírus respiratórios.
Ela fez ainda um apelo, pedindo que as pessoas se conscientizem para continuarem usando máscaras.
“Peço a população que se conscientize, que utilize as máscaras, principalmente para ir às farmácias e hospitais. Os clientes estão vindo às farmácias sem utilizar e estamos em um cenário que não dá para brincar. Vamos contribuir para que as coisas se controlem e a gente volte a nossa realidade normal o mais rápido possível”, comentou.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
Suely da Fonseca Alves que também atua como profissional farmacêutica, analisou o cenário de falta de medicamentos antigripais em Feira de Santana e para ela esta situação nunca foi vista antes.
“A falta de medicamento tem sido uma coisa fora do normal. Paracetamol, dipirona, ibuprofeno não são medicamentos que faltam, eles sempre a gente tem na loja. Só que devido ao surto de gripe não estamos tendo a dipirona solução e já não estamos tendo o ibuprofeno. Algumas pessoas têm alergia a paracetamol, ibuprofeno e aí ficamos sem opção para o paciente. Xaropes de adulto já estão faltando há alguns dias, conseguimos uma quantidade, mas se continuar esse surto de gripe não sabemos se vamos ter para poder suprir a necessidade. Falta o xarope infantil também. Existe um xarope chamado Percof que os médicos prescreveram muito no período da covid e nesse período e não tem no mercado. A nossa preocupação é que existem diabéticos, pessoas que são imunossupressoras, que não podem tomar todo medicamento e as opções que nós temos estão em falta”, relatou.
Suely acrescentou que outro item que é procurado e aumentou absurdamente de preço foi a vitamina C. Medicamentos antigripais comuns estão com o estoque muito baixo e os chás sumiram das prateleiras.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
“São medicamentos que são corriqueiros e não faltam em farmácias. A orientação que nós damos na situação de falta é que como normalmente vem a prescrição médica, eu como farmacêutica, avalio aquela prescrição, pergunto se a pessoa tem alergia a algum medicamento, se é diabética, se está grávida, se é imunossupressora ou se é uma pessoa transplantada e temos que ter todo esse cuidado. Aí vejo a troca dentro dos padrões estabelecidos que não irá prejudicar o cliente. O cliente avalia se vai querer ou não”, frisou.
Há quinze anos trabalhando em farmácias como balconista e há dois como farmacêutica, Suely fica surpresa de vivenciar esta situação no setor. Ela alertou que é preciso que as pessoas tomem cuidado com a automedicação.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
“A automedicação tem sido um problema. Há pessoas tomando dipirona, paracetamol para não pegarem gripe. Problemas renais podem ser agravado por exemplo, por uso indiscriminado de medicamento, sem contar que existem as interações de medicamento com alimentos, outros medicamentos e tudo isso tem que ter cuidado na hora da compra e da liberação. Nunca vi falta de paracetamol, dipirona, ibuprofreno, antigripais. Temos que ter muito cuidado pois a diferença entre o medicamento e o veneno é a dose e nesses casos acredito que as crianças são as mais prejudicadas, assim como gestantes e idosos. É preciso cuidado, estudo, anamnese, todos os detalhes”, ressaltou.
Débora Letícia de Almeida Soares, proprietária de uma farmácia em Feira de Santana avaliou que a falta de medicamentos no mercado prejudica assim como os clientes, os donos de farmácias.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
“Quando o cliente vem até a farmácia como meio de comprar e não encontra os medicamentos, a gente acaba não ajudando o cliente para que concretize a sua compra e nesse cenário de superlotação das unidades de saúde e a falta da medicação é um fator muito ruim, principalmente para a gente que é comerciante. Quando a gente faz pedidos eletrônicos os fornecedores relatam a falta da matéria prima e como hoje o setor farmacêutico tem crescido demais, acredito que a distribuição é pouca diante do setor que tem crescido bastante. A gente não sabe até quando será essa falta. Tem a pandemia, a gripe e a todo momento vemos os medicamentos essenciais e o mercado em si não estava preparado para comportar toda essa situação”, concluiu.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade.
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