Saúde

Médica esclarece os benefícios e possíveis efeitos colaterais do uso da semaglutida contra a obesidade

Há critérios para indicação da medicação.

Obesidade
Foto: Reprodução/EPTV

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou no início do mês de janeiro o uso de um novo medicamento com a substância semaglutida, para tratar pacientes com sobrepeso ou obesidade no Brasil.

A semaglutida de 1 mg já era utilizada no tratamento de pacientes com diabetes melitus, com o custo de cerca de R$ 1 mil cada caneta. A substância que promete ser mais uma aliada na guerra contra a obesidade com a dosagem de 2,4 mg.

O medicamento não precisa de receita para ser comprado. No entanto, de acordo com a médica endocrinologista Ana Mayra, que atua em Feira de Santana, o uso da semaglutida deve ser feito com acompanhamento de um profissional especializado de saúde.

Em entrevista ao Acorda Cidade, a endocrinologista trouxe mais detalhes sobre os benefícios dessa nova medicação.

Endocrinologista
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

“É uma droga relativamente nova, mas que tem muitos benefícios. A semaglutida, na verdade, é um análogo do GLP 1. Originalmente, em fases de desenvolvimento da medicação, foi descoberto que reduz o açúcar. Portanto, ela foi inicialmente produzida e indicada para os pacientes que tinham diabetes melitus. Só que nos estudos de desenvolvimento da droga foi visto que esses pacientes também tinham perda de peso. E nós sabemos hoje do aumento das taxas de obesidade no mundo, tanto nos países desenvolvidos como também nos em desenvolvimento. Mais estudos foram feitos no sentido de que essa medicação fosse também utilizada para os indivíduos com obesidade ou com sobrepeso e problemas relacionados a ela. Essa medicação tem um efeito em termos de controle do açúcar e do peso proporcional à dose”, informou.

Conforme a especialista, quanto maior a dose, maior será a perda de peso. A semaglutida de 1 mg, no entanto, está relacionada ao controle do açúcar.

“Toda a aprovação desses órgãos competentes só vêm após estudos científicos sérios. E foi visto que em dose mais elevada elas controlavam o açúcar, mas também tinham um efeito muito interessante no peso, porque essa droga faz o efeito de diminuir fome e aumentar a saciedade, fazendo com que o indivíduo tenha menor vontade de comer. Também faz um efeito, a nível de trato intestinal, em que o alimento fica um pouco de tempo ali, mandando uma informação para o cérebro de que está cheio e ele também reduz o apetite através desse mecanismo intestinal. Então a dose que a Anvisa liberou agora é o que já estava, inclusive, liberada nos Estados Unidos, é uma dose até 2,4 mg. Então a dose de 1 mg é indicada para portadores de diabetes, e a de 2,4 mg é indicada para indivíduos com obesidade”, esclareceu.

Apesar dos efeitos positivos na perda de peso, o tratamento com a caneta de semaglutida também traz possíveis efeitos colaterais nos pacientes.

“É importante que se diga que toda medicação tem possibilidade de efeito colateral. E os efeitos colaterais da semaglutida são, sobretudo, relacionados ao seu mecanismo de ação no intestino. Então ela pode gerar enjoos, vômitos, alteração do ritmo intestinal, como diarreia ou intestino preso. Por esse motivo, é muito importante que nós, profissionais de saúde que lidamos com essa droga, sigamos recomendações dos resultados da pesquisa, ou seja, nós fazermos a dose sempre aumentando de uma forma bem vagarosa, como é proposto, para que exatamente esses efeitos colaterais sejam tolerados e o indivíduo consiga, usando a droga, ter os resultados que ele espera”, destacou.

De acordo com a profissional de saúde, o uso da semaglutida para controle de diabetes pode ser subcutânea, através da injeção de 1mg com a caneta, ou por via oral em cápsula de 1 mg. Já para controle do peso, com 2,4 mg, será somente por meio da caneta.

“A semaglutida oral é tomada todos os dias, mas a da caneta só deve usada a cada 7 dias, ou seja, uma vez por semana. É importante frisar isso, porque, infelizmente, a população tem sido exposta ao uso não recomendado da medicação.”

Quanto ao custo elevado da medicação, a endocrinologista avalia que a Medicina tem evoluído bastante em suas formas de tratamento, mas infelizmente, não está acessível a todas as pessoas que necessitam dela.

“A evolução da Medicina, seja do ponto de vista da medicina ou do diagnóstico, ela precisa ser viável a todos. Eu acho que todo indivíduo precisa ter acesso a isso. Infelizmente, não é isso que a gente tem, mas é o que todo profissional de saúde quer que aconteça: que a gente possa escolher para o nosso paciente, seja aquele com diabetes, seja com obesidade, a droga padrão ouro para ele, não escolhermos pelo custo, que infelizmente o valor elevado da medicação limita o uso de quem precisa da mesma.”

Ela ponderou ainda que não é qualquer paciente que deve ser exposto ao tratamento. Há critérios para indicação da medicação.

“Eu tenho hoje o critério que se usa muito, que é o Índice de Massa Corpórea (IMC), um cálculo que se faz entre peso e altura, em que nós temos um número que seja proporcional à gravidade daquele excesso de peso. Então seria indicado hoje para indivíduos que tenham um IMC acima de 27, com problemas que a gente chama de comorbidades, ou IMC acima de 30. Mas eu gostaria de ressaltar que o remédio sozinho não terá um resultado se não fizermos uma mudança do estilo de vida. Nós precisamos ter uma prática de fazer mais atividade física e termos uma orientação nutricional para que a gente possa consumir, não apenas menos calorias, que fazem perder peso, mas alimentos que sejam saudáveis ao nosso corpo. Antes de qualquer coisa, quando nós falamos de tratamento de diabetes ou obesidade, precisamos lembrar do estilo de vida que precisa ser modificado.”

Segundo a médica, existe um crescimento também da obesidade infanto-juvenil, algo que tem preocupado os especialistas.

“Eu faço pesquisa em obesidade infanto-juvenil, e realizei uma pesquisa epidemiológica em escolas públicas e privadas. Ao longo de 20 anos fiz três pesquisas para a gente ver a evolução e o que nós presenciamos e infelizmente estamos vendo é um crescimento tanto do sobrepeso quanto da obesidade. Posso dar números das nossas crianças, que é o que eu pesquiso, mas o adulto se você olhar as pesquisas que são publicadas em outras populações, não de Feira de Santana, nós temos um crescimento, e junto com ele também o crescimento das doenças relacionadas a ela, como a doença cardiovascular e a diabetes.”

Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade

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