O Maio Cinza é o mês de conscientização ao combate ao câncer cerebral. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer, cerca de 11 mil pessoas por ano, no Brasil, são diagnosticadas com a doença. Apesar de ser pouco debatido, o câncer cerebral afeta o órgão responsável pelo controle de todas as funções do corpo e também pode ser classificados por tipos.
Como forma de evidenciar o Maio Cinza e a importância da detecção precoce, além de como a doença pode ser tratada em crianças e adultos, o Acorda Cidade conversou com o médico cirurgião, Israel Cardoso Marques Neto.
Neste primeiro momento, o neurocirurgião contou o objetivo do Maio Cinza, além de destacar que existem vários tipos de tumores cerebrais que podem ser classificados como primários e secundários.
“O Maio Cinza é o mês de conscientização da população em relação aos riscos, sintomas e complicações relacionados ao tumor cerebral e seus tratamentos. A importância é mostrar à sociedade que existem diversos tipos de tumores, existem tumores cerebrais que são secundários, que vem de outras partes do corpo que são as metástases e são as mais comuns. Já os tumores primários, são aqueles que nascem no cérebro. Dos tumores primários, o mais comum é o glioma e desses gliomas, o que é mais devastador, mais agressivo é o glioblastoma que é um tumor que tentamos fazer o máximo de ressecção cirúrgica possível e o tratamento complementar envolve uma quimio e radioterapia”, disse.
Diagnóstico
Assim como qualquer outra doença grave, quanto mais cedo for a sua detecção, maior a chance de tratamento e de cura ao paciente. O diagnóstico do câncer cerebral, de acordo com o médico cirurgião pode ser feito através da identificação dos sintomas apresentados, que são manifestados de forma comum, e são as dores de cabeça e crises de convulsão.
“Eles são diagnosticados a partir dos sintomas. O sintoma mais comum é a dor de cabeça seguida da crise convulsiva. Essa dor de cabeça vai piorando ao longo do tempo e pode até acordar o paciente a noite se for de maior intensidade ou acontecer com algumas mudanças de posição do corpo ou com algumas manobras que aumentem a pressão intracraniana como força para tossir, espirrar. Essa dor de cabeça que tenha essas características faz com que a gente acenda o alerta em relação a possibilidade de alguma lesão dentro do crânio que esteja causando a dor de cabeça. As pessoas devem ficar atentas, principalmente adultos que nunca tiveram crise convulsiva, que tem pela primeira vez ou que nunca tiveram uma dor de cabeça e passam a ter um comportamento diferente. As pessoas têm que ficar alertas”, relatou.
Tratamento
Dependendo dos casos, o tratamento do câncer cerebral envolve várias técnicas como também, muitos profissionais. Questionado sobre o processo em que cada paciente é envolvido ao descobrir o diagnóstico, Israel Neto também enfatizou que o apoio familiar e o acolhimento psicológico são fundamentais nesta fase de tratamento.
“O processo de tratamento deve envolver um time, ele tem que ser desde psicólogo a enfermeiro, médico oncologista, neurocirurgião, radioncologista para fazer todo o acolhimento e plano terapêutico do paciente. Nesse momento de sofrimento é importante ter uma rede de apoio familiar e de profissionais que estão envolvidos no cuidado como terapia, psicólogo, com os médicos assistentes e também existem fóruns de pacientes que já passaram por esses problemas ou que já passaram pela jornada de tratamento do câncer cerebral”.
Fatores de risco
Quando se fala em câncer, é comum o questionamento acerca da predisposição ao desenvolvimento da doença. Porém, especificamente do câncer cerebral, as evidências ainda são debatidas. De modo geral, para evitar qualquer tipo de doença, é recomendada a prática de um estilo de vida saudável.
“As evidências científicas mais robustas em relação a fatores de risco para câncer cerebral em si são controvérsias. O que a gente recomenda de um modo geral é um estilo de vida saudável, alimentação equilibrada, atividade física, um sono de qualidade, essa é a recomendação geral”, disse o neurocirurgião.
Crianças
O tumor cerebral é o segundo tipo de câncer mais comum nas crianças. As causas e sintomas também podem variar. O médico neurocirurgião também aproveitou para destacar como estes tumores se manifestam em crianças, além do risco de exposição à radiação que podem ser desenvolvedores da doença.
Conforme Israel Neto, a rede familiar precisa estar atenta aos sinais do câncer cerebral para este público.
“Quando falamos em tumores cerebrais malignos em crianças, esses são o segundo tipo mais comum de câncer em crianças, perdendo apenas para os cânceres hematológicos. Os sintomas em crianças podem variar desde irritabilidade, atraso no desenvolvimento, dor de cabeça, náusea, vômitos, alterações oculares, visuais. Os tumores mais comuns em crianças são os meduloblastomas, gliomas malignos e o astrocitoma pilocítico. O fator de risco é a exposição da cabeça da criança à radiação, então a gente deixa a mensagem especialmente para as mães quando levar as crianças no pronto socorro, ficar atentas, quando há indicação de fazer uma tomografia em caso de uma criança que caiu, bateu a cabeça, teve um trauma leve e é uma responsabilidade tanto da parte médica quanto familiar nesse quesito de evitar a radiação na cabeça da criança porque pode aumentar o risco de desenvolver tumores malignos ou benignos, os cânceres cerebrais”.
Desafios
Sobre os principais desafios que envolvem o tratamento de pacientes com tumores cerebrais, o neurocirurgião também comentou que mesmo contando com a tecnologia em procedimentos cirúrgicos, existem dificuldades de ressecção em áreas do cérebro que podem impactar na vida do paciente.
“Com toda a tecnologia que existe em relação ao tratamento do tumor cerebral, a neurocirurgia ainda tem desafios pois tem tumores que estão localizados em áreas nobres do cérebro que a gente ainda não consegue fazer a sua ressecção completa e isso tem um impacto na sobrevida global do paciente, principalmente em extensão de ressecção. Essa é uma coisa que a gente ainda precisa avançar”, destacou.
Expectativa
Assim como atualmente há um um desafio na remoção cirúrgica de parte de uma estrutura no cérebro, as pesquisas que envolvem os planejamentos operatórios podem ser uma solução para a retirada de estruturas sem causar danos ao cérebro do paciente.
Israel Neto concluiu ainda que técnicas também já foram criadas para facilitar a realização de cirurgias e retiradas de tumores do órgão.
“Existem pesquisas que não param em relação a planejamento operatório sobre como será feita uma cirurgia de um tumor, um câncer cerebral, principalmente em relação a técnicas de ressonância magnética funcional, tratografia que são técnicas, de uma forma simples para entender, que vão mostrar a relação de uma área nobre do cérebro com o tumor e até onde a gente pode ir para fazer uma retirada de modo que essa retirada seja maior possível e que cause menos danos ao cérebro com a menor possibilidade de sequelas. Temos técnicas cirúrgicas como a ressonância intraoperatória, tem a craniotomia acordada e também o uso de corantes em alguns centros mais avançados que o paciente bebe antes da cirurgia e que vai ajudar a corar a área tumoral maligna na hora da cirurgia para diferenciar o que é cérebro normal e tumor”, concluiu.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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