As doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, como dengue, zika e chikungunya, muitas vezes apresentam sintomas semelhantes, o que pode dificultar o diagnóstico preciso. Por este motivo é importante realizar exames e evitar a automedicação.
A médica infectologista, mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), e infectologista da Vigilância Epidemiológica de Feira de Santana, Melissa Falcão, participou do Programa Acorda Cidade, na Rádio Sociedade News, na manhã desta quinta-feira (7), e explicou as diferenças entre estas doenças, além de tirar outras dúvidas dos ouvintes.
Segundo Melissa, que também é membro do Comitê de Arboviroses da Sociedade Brasileira de Infectologia e membro do Comitê de Arboviroses do Ministério da Saúde, o mosquito Aedes aegypti, em uma única picada, pode transmitir a dengue, zika e chikungunya. Entenda as diferenças dos sintomas.
“A dengue se caracteriza principalmente por muita dor no corpo, sensação de corpo quebrado, dor ao redor dos olhos, uma febre que começa subitamente, manchas no corpo que coçam, podem coçar ou não, mas normalmente vêm com coceira, além disso, pode ter enjoos, vômitos, diarreia. Quando falamos em chikungunya, a principal característica é a dor articular em várias articulações ao mesmo tempo e acaba até atrapalhando as atividades diárias de tanta dor e inchaço. Febre também acontece, dor de cabeça entre os outros sintomas gerais”, disse.
Já a zika, segundo a médica, tem como principal características a coceira e a vermelhidão no corpo. ” A vermelhidão com coceira, já começa a acontecer desde o primeiro dia. Pode vir com ou sem febre e nossa principal preocupação com a zika, mesmo com incidência menor, com menor número de casos, continua sendo com as gestantes. Apesar de serem poucos os casos, ainda pode acontecer a microcefalia, então, aquelas mulheres que pretendem engravidar ou que estiverem grávidas devem redobrar a atenção com o uso dos repelentes”, informou a médica Melissa Falcão ao portal e programa Acorda Cidade.
Tipos de dengue
Segundo Melissa Falcão, existem quatro tipos de dengue. Caso a pessoa seja infectada por um sorotipo, ela não corre o risco de ser contaminada novamente pelo mesmo tipo.
“A dengue possui quatro sorotipos, a dengue 1, 2, 3 e 4, e cada pessoa pode pegar dengue até quatro vezes, ou seja, um sorotipo por vez. Vai variando para cada infecção, e o que está circulando mais em nosso país, é o sorotipo 1 e 2, porém o 2 é o mais prevalecente e mais associado com a morte, com a gravidade, pois historicamente, todas as epidemias tipo 2, é maior do que os outros sorotipos”, destacou
Dengue Hemorrágica X Dengue Grave
De acordo com a médica infectologista, o termo “Dengue Hemorrágica” não é mais utilizado.
“Isto foi mudado pela Organização Mundial de Saúde para poder corrigir a gravidade da dengue para as suas manifestações clínicas. Então a dengue grave tanto pode incluir aquele paciente que tem uma hemorragia, que tem o sangramento, como aqueles pacientes que morrem por complicações diretas em algum órgão, como inflamação no coração, inflamação cerebral, inflamação renal, qualquer outra inflamação que não necessariamente vai levar a morte, então tem tipos de manifestação da dengue que incluem a hemorragia, mas não se limita a isso, e o termo dengue hemorrágica muitas vezes levava pacientes e profissionais de saúde a pensar que o paciente só estava se agravando quando sangrava e não é verdade”, explicou.
Explosão de casos
Sobre a explosão de casos que o Brasil está enfrentando neste ano, Melissa informou ao portal Acorda Cidade, que esse aumento significativo pode estar relacionado com as mudanças climáticas.
“Muito calor, muita água parada, são os principais fatores para se ter uma proliferação dos mosquitos da dengue, tudo isso por conta das mudanças climáticas. Quando chove, acumula água, se faz calor, aquela água acumulada esquenta e os óvulos se transformam em larvas, que já passam para a fase do mosquito adulto com uma rapidez muito maior. Outro fator importante são as variantes que circulam o Brasil, que não circulavam há muito tempo. Aqui na Bahia ainda não há uma detecção, mas já existe em São Paulo. Outro fato predominante é a coleta de lixo, é o saneamento básico, que não são fatores novos, mas que, com outras situações, acaba elevando uma proliferação muito maior”, declarou.
Estou com dengue, posso tomar anti-inflamatório?
A resposta é não. De acordo com Melissa Falcão, caso o paciente utilize algum tipo de medicamento desta classe, existe a possibilidade do sangramento se agravar.
“Quem está com dengue não pode utilizar nenhum tipo de anti-inflamatório, como diclofenaco, ibuprofeno, qualquer medicamento desta classe de anti-inflamatório. É uma classe muito utilizada para dor, para febre, caso utilize essas medicações, o risco de ter um sangramento e de agravar é maior do que não utilizar essas medicações, porque elas agem para poder fazer o efeito anti-inflamatório, ela age inibindo um mecanismo que faz uma cascata de coagulação, que coagula o sangue. Então quando acaba inibindo essa cascata de coagulação, também aumenta o risco de ter sangramento que a dengue por si só já faz”, declarou.
Como realizar o processo de hidratação corretamente?
Segundo a médica, qualquer tipo de líquido, que não seja alcoólico, pode ser utilizado no processo de hidratação.
“A gente precisa aumentar a ingestão de líquido, menos bebida alcoólica, outra recomendação é que o ideal neste momento, que seja de 60 ml por quilo, mas isso claro, que se a pessoa também não tiver problema de coração ou contraindicação para quantidade de líquido, mas, por exemplo, uma pessoa de 50 quilos, tomaria 3 litros de líquido. 1/3 poderia ser de soro para reidratação, e o restante com água e suco. O soro venoso a gente só aplica naqueles pacientes que têm a necessidade de ficar no hospital”, disse.
Contraindicação para vacina contra a dengue
Ao Acorda Cidade, Melissa Falcão informou que mulheres grávidas não podem tomar a medicação nem quem possua doença imunossupressora.
“As contraindicações para vacina da dengue são mulheres grávidas, então precisa se preocupar com aquelas adolescentes que já menstruaram, como a gente sabe que acontece a gravidez na adolescência, apesar de que não deveria, mas se elas estiverem grávidas, não podem se vacinar. Homem ou mulher que tenha baixa imunidade, que seja imunopaciente, ou seja, que tem HIV, que esteja fazendo quimioterapia, pessoas abaixo de 40 anos e acima de 60 anos ou que tenha alergia a algum desses componentes da vacina”, concluiu.
Ouça a entrevista na íntegra:
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