Laiane Cruz
O Ministério da Saúde autorizou em dezembro de 2021 a aplicação da 4ª dose da vacina Pfizer contra a covid-19 em pessoas imunossuprimidas acima de 18 anos, que já receberam as três doses do esquema vacinal primário (duas doses mais uma de reforço), a partir de 4 meses. Os órgãos de saúde avaliam também a possibilidade de estender a aplicação da dose adicional do imunizante em idosos, sobretudo aqueles que foram vacinados com duas doses da Coronavac.
De acordo com a médica infectologista Melissa Falcão, que integrou o Comitê de Combate à Covid-19 em Feira de Santana, a aplicação da 4ª dose das vacinas contra a covid ainda não deverá ser liberada na população em geral. No entanto, os grupos que se encaixam nos critérios para receber a dose adicional do imunizante devem buscar sua aplicação.
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade
“Em relação à quarta dose há muito questionamento em relação à eficácia da vacina e por que se precisa de quatro doses. Sabemos que essa vacina, que foi criada inicialmente, precisa de um reforço. A proteção cai cerca de cinco a seis meses depois, há uma baixa da imunidade, dos anticorpos produzidos, então a quarta dose é essencial para quem tem uma imunossupressão, como pessoas que fazem quimioterapia, que fizeram algum tipo de transplante e usam imunossupressor, quem usa corticoides em doses elevadas durante muito tempo e aquelas pessoas com diagnóstico de HIV. Para essas as vacinas básicas são três doses e uma de reforço. Para quem tem a imunidade normal o calendário é de duas vacinas com uma dose de reforço”, explicou a médica ao Acorda Cidade.
Segundo a especialista em saúde pública, a quarta dose para quem tem a imunidade baixa é a dose de reforço, necessária para aumentar a defesa do organismo e proteger principalmente contra a nova variante Ômicron.
“É nítida a diferença da intensidade dos sintomas para quem tomou as três doses das vacinas, e aquelas que não são vacinadas. Outra população que pode precisar da quarta dose são os idosos, principalmente aqueles que usaram a Coronavac inicialmente, que segundo os estudos, nos idosos, ela gera uma proteção pequena, sendo necessária essa terceira dose e pode ser que haja a necessidade desta quarta dose. As vacinas já estão sendo atualizadas, como a da Pfizer que já está em análise a nova formulação contra essa nova variante Ômicron, então, o ideal é que quando exista a necessidade de uma nova dose é que seja já com a formulação nova. Isso, futuramente, porque ainda não temos essa vacina da Pfizer disponível”, informou.
Melissa Falcão destacou em entrevista ao Acorda Cidade, que a vacina contra a covid-19 será anual ou semestral, como já acontece com outros tipos de vacina. E, por enquanto, a quarta dose só está sendo disponibilizada pelo Ministério da Saúde para pessoas com baixa da imunidade, sendo que alguns estados começaram a fazer uma aplicação, a nível de estudos, em idosos, imunossuprimidos e no público em geral acima de 12 anos.
“Mas para a população em geral eu não acho que seja necessário neste momento. A proteção para pessoas que não têm doenças associadas e nenhuma baixa da imunidade é suficiente com as três doses das vacinas, e isso ficou claro com esse pico que tivemos. Foram registrados muitos casos, mas sem aumento significativo de internamentos, e isso prova a eficácia da vacina, mesmo que as que temos disponíveis tenham algumas falhas. Essa continua sendo a melhor maneira que nós temos de combate à pandemia da covid. Mas, as pessoas que ainda não tomaram sua terceira dose devem correr para uma unidade de saúde e aplicar. Vemos pessoas sem vacina, com apenas uma dose ou com somente duas doses, se internando com quadro mais intensos”, reforçou a médica.
A infectologista citou ainda o exemplo de uma paciente idosa de 99 anos, que foi internada em decorrência da covid-19 e não estava vacinada. Segundo ela, a mulher não resistiu às complicações da doença e morreu.
“As pessoas que internam mesmo depois das três doses têm um risco muito menor e casos mais leves, que se não tivessem se vacinado, como é o caso de pessoas mais idosas, como vimos nessa nova onda de um retorno dos internamentos de idosos, muito mais do que os jovens, e pacientes em sua maioria sem a vacinação completa. Tenho como exemplo uma senhora de 99 anos que morava com a filha, que também era idosa, a qual não se vacinou e não permitiu que a mãe se vacinasse. As duas foram internadas com diagnóstico de covid e a mãe veio a falecer. Então, às vezes, quando a gente vai se arrepender de não ter feito uma coisa que poderia proteger uma pessoa que a gente ama tanto pode ser tarde”, alertou.
Reações à vacina
Em relação a reações provocadas pelas vacinas disponíveis atualmente contra o coronavírus, a infectologista reforçou que a quarta dose não oferece riscos para quem já tomou três doses. Essa é uma dúvida frequente de quem tem alergias a muitos medicamentos, por exemplo, mas, segundo Melissa Falcão, elas podem sim tomar a vacina.
“Essas vacinas não têm nenhuma substância de medicamentos que contra indiquem a quem tem alergia a dipirona ou anti-inflamatórios, por exemplo, não utilizarem essas vacinas. Podem ser utilizadas mesmo por quem tem histórico de alergias com frequência, mas se tiverem alguma dúvida podem passar por uma avaliação médica, que vai orientar qual a conduta correta em relação a isso, mas não devem deixar de se vacinar. Outro questionamento é por quem tomou a primeira dose da vacina e ficou com o corpo vermelho, coçando, teve uma febre, dor de cabeça. Todas as vacinas têm alguns efeitos colaterais relacionados a elas, assim como as vacinas da gripe, hepatite e todas as outras. Se depois da vacina, a pessoa teve uma dor no corpo, ficou com nariz escorrendo, febre baixa, e melhorou com dois a três dias, deve pensar que o incômodo provocado pela doença será bem maior que esses sintomas leves causados pela vacina, então mesmo que tenha tido um efeito colateral leve, deve-se tomar a segunda e terceira doses, disse a médica ao Acorda Cidade.
Pessoas que tiveram reações mais fortes como desmaios ou reação alérgica forte após a vacina devem procurar orientação médica e a própria Secretaria de Saúde tem um ambulatório que atende a esse público.
“O médico vai orientar qual outra vacina deve tomar e que não tenha aqueles componentes semelhantes e não tenha risco de reações alérgicas. Sempre é possível ajustar. Mas é quase impossível uma pessoa ter contraindicação a todos os tipos de vacinas disponíveis até o momento, isso pode ser analisado e ajustado para cada caso. As pessoas com comorbidades são as que mais devem se proteger, se tiver problema de coração, diabete, tireoide. Qualquer doença que a pessoa tenha aumenta o risco de gravidade e deve aumentar sua proteção. Aquelas pessoas que estão com receio de tomar a terceira ou quarta dose não precisam ter esse medo se já tomaram a primeira e a segunda e não tiveram nenhum efeito importante. A vacina é segura, e o risco de complicações pela doença é muito maior do que o risco pela vacina”, destacou Melissa Falcão.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade.
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