Gabriel Gonçalves
100% do pulmão comprometido, 30 dias internado. Essa é mais uma história de vida e de vitória para Wilson Gonçalves de 39 anos, que foi diagnosticado com Covid-19 e precisou ser internado no Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA), em Feira de Santana.
Não tendo a necessidade de ser entubado, Wilson passou grande parte do internamento usando a Ventilação Não Invasiva (VNI) com Helmet, equipamento que pode ser utilizado associado a um ventilador mecânico.
Em entrevista ao Acorda Cidade, Wilson explicou que um dos momentos mais difíceis durante o internamento, foi sentir a falta da presença física da família, principalmente dentro da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde o acesso era exclusivamente para equipe médica.
Foto: Arquivo Pessoal
"Eu fui internado no dia 27 de maio e tive alta no dia 26 de junho, e posso afirmar que foi um período difícil porque ali, eu estava longe da minha família, ficamos em um local isolado onde não conhecia ninguém e ainda tive a possibilidade de ser entubado, mas graças a Deus, não precisou. Eu não tenho o que falar sobre aquela equipe médica, porque realmente o atendimento é coisa de primeiro mundo, nem parece ser um hospital público da cidade. Todos são nota 10, desde a entrada na forma do acolhimento, até o momento da saída, me atenderam super bem", relatou.
Para Wilson, o novo instrumento utilizado pela equipe médica, o 'Prontuário Afetivo', traz ânimo, principalmente por lembrar que o mundo fora daquele ambiente existia e o aguardava.
Foto: Arquivo Pessoal
"Esse prontuário afetivo foi muito importante e eu não sabia que seria para todos os pacientes que estavam internados. Eu só tinha a visualização ali do meu, então foi algo que realmente ajudou bastante em nossa recuperação porque eram frases, mensagens baseadas em nossa família, do que a gente gosta de fazer e isso fez a família estar mais próxima do paciente. Foi um instrumento muito importante que a equipe criou e eu só soube que os outros pacientes também tinham, quando fui ao sanitário e vi também nos outros leitos. Hoje me sinto outra pessoa, porque só em estar fora do hospital, é tudo, por mais que estejamos ali sendo bem tratados, mas o importante mesmo é estar ao lado da nossa família, do lado da minha esposa e não tem dinheiro nesse mundo que pague", destacou.
Foto: Arquivo Pessoal
Wilson Gonçalves, ainda segue em fase de reabilitação, realizando fisioterapia para retornar as atividades laborais.
"Atualmente eu estou em processo de reabilitação, fisioterapia motora e fisioterapia pulmonar, mas com fé em Deus, logo estarei reabilitado para voltar a trabalhar normalmente. Eu tive um agravante, fiquei com 100% do meu pulmão comprometido, mas com a ajuda dos médicos e de Deus, com muitas orações, eu consegui me salvar e estou aqui para contar essa história, confesso que ainda não estou 100%, mas luto para retomar minha vida normalmente", afirmou ao Acorda Cidade.
De acordo com a coordenadora do departamento de psicologia do HGCA, Camila Lopes, a ideia inicial do Prontuário Afetivo, foi criada em Brasília, apresentando resultados positivos, e por este motivo, também foi introduzida na unidade do HGCA.
"Essa ideia foi criada por uma médica lá de Brasília e vem se espalhando por todo o país e aqui no Clériston, tivemos essa parceria com o grupo de humanização, com a parte da gerência da UTI e nossos serviços de psicologia. Já temos mais de um mês com esse projeto implantado aqui e esse prontuário está sendo colocado em todos os leitos dos pacientes", explicou.
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade
Para Camila Lopes, o objetivo do projeto está atendendo as expectativas, pois através das mensagens expostas no prontuário, o paciente se sente mais confortável, mesmo estando em um leito de hospital.
"Esse projeto tem como objetivo trazer mais informações pessoais dos pacientes, então a gente coloca o apelido, profissão, o que esse paciente gosta de comer, qual o time ele torce, são questões pessoais, fazendo com que possamos trazer uma pessoa por trás do paciente, uma pessoa por trás da doença. A equipe está sendo bem parceira, chamamos os pacientes pelo apelido, colocamos uma música que ele goste e a equipe vem aderindo o prontuário afetivo, utilizando-o para criar vínculo com todos os pacientes", informou a coordenadora ao Acorda Cidade.
Segundo Camila Lopes, o projeto não possui tempo determinado. Enquanto durar o período de pandemia os prontuários serão utilizados e possivelmente, podem se tornar equipamento fixo nos leitos.
"Em média, são 100 leitos aqui no HGCA e muitos destes pacientes infelizmente não estão contactando, não estão respondendo, outros sim, mas isso é variável. Provavelmente, enquanto durar a pandemia, estaremos utilizando esse projeto que não tem tempo determinado e talvez até mesmo depois que passar esse período, possamos continuar", disse.
Com uma equipe de psicólogos ampliada, a coordenadora destacou que o serviço que vem sendo prestado no HGCA, está sendo muito necessário nesse momento de pandemia, principalmente com o atendimento direto ao paciente.
"A gente teve um aumento muito importante com o serviço de psicologia, principalmente com a parceria com a diretoria geral que tem confiado bastante em nosso trabalho. A psicologia está sendo bem percebida como necessária nesse período de pandemia, porque o cuidado com o paciente deve ser integral. O paciente não é dividido em mente e corpo, é uma coisa só, ele precisa ser tratado dessa forma. Nós fazemos o atendimento, uma avaliação psicológica de todos os pacientes do hospital, acompanhamos os familiares, os pacientes sejam de qualquer leito, aqueles que estão na UTI, semi-intensiva, emergência, leito clínico, então hoje temos um acompanhamento de forma geral em toda a unidade hospitalar", concluiu.
Com informações do repórter Ney Silva e Maylla Nunes do Acorda Cidade