Saúde

Fiocruz debate indicadores da pandemia de covid-19 no país e no mundo

Existem mais de 116 painéis sobre a doença no mundo.

Acorda Cidade

As diferentes formas da evolução da pandemia do novo coronavírus no Brasil mostram cada vez mais a necessidade de ampliar a divulgação das informações sobre a doença no país. A avaliação do sanitarista e pesquisador Christovam Barcellos, do Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), foi feita ontem (17) durante o seminário virtual Painéis de Indicadores sobre a Pandemia de Covid-19, organizado pela Fiocruz.

Conforme um levantamento do Observatório existem mais de 116 painéis sobre a doença no mundo. Eles disponibilizam os dados sobre a pandemia, mas não cobrem toda a necessidade de transparência e clareza de informações de que a sociedade precisa. O pesquisador lembrou que no início da pandemia na Europa houve uma percepção de que a evolução da covid-19 seria semelhante em todos os países, mas isso não ocorreu. Na Europa houve um crescimento rápido dos casos e, em seguida, redução consistente do número de mortes. Isso, no entanto, não ocorre no México e no Brasil, onde há estabilização em alta dos casos.

“Faz a gente pensar quais são as particularidades da pandemia no Brasil. Tem uma diversidade de clima gigantesca, uma desigualdade social gigantesca que é conhecida por todo mundo. Alguns fatores de risco também podem explicar a gravidade no Brasil, como a alta prevalência de hipertensão, a tuberculose e outros fatores”, disse.

De acordo com o sanitarista, as informações sobre a doença em comunidades e em áreas periféricas precisam ser aprofundadas. Parte disso, indicou, já vem sendo respondido por iniciativas próprias desses locais que se organizaram diante da sensação de falta de dados. “O nível de letalidade levantado por um grupo da Fiocruz com participação intensa de pessoas dessas comunidades, nessas áreas de favelas é de 13%, muito superior ao valor médio do restante da cidade”, revelou, acrescentando que os dados dessas iniciativas se juntam aos das administrações municipais e dos estados.

A Fiocruz está desenvolvendo uma pesquisa com o acompanhamento de agentes comunitários de saúde. “Os profissionais de saúde estão muito expostos ao vírus. É o setor da sociedade mais exposto ao vírus e é fundamental que a gente garanta as melhores condições de trabalho desses profissionais. O trabalho que está sendo feito monitora não só a saúde dos agentes comunitários, como as condições de trabalho deles”, afirmou o diretor do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação (Icict/Fiocruz), Rodrigo Murtinho, para quem o estudo tem sido importante e está sendo ampliado para acompanhar outros profissionais da área de saúde.

Casos e mortes
Segundo Barcellos, ter o número de casos confirmados e de mortes nos painéis é importante para ver a dinâmica da pandemia em cada país, mas insuficiente para a tomada de decisões dos gestores, que precisam de informações complementares. Um exemplo é a Itália, onde há dados do número de recuperados e quantos desse grupo ainda estão com sintomas, ainda em terapia intensiva e em isolamento domiciliar. “Isso, do ponto de vista operacional do SUS é um indicador muitíssimo importante. Não basta a gente ficar com foco em hospital, sem prestar atenção em quem está sendo acompanhado em sua casa”, contou, recomendando que o mesmo seja feito no Brasil.

“O SUS é ainda uma grande esperança da gente de salvar muitas vidas e tem alguns aspectos muito particulares que queremos identificar para exatamente como tomar decisões e gerir de maneira adequadas os recursos do SUS, apesar de todas as limitações que temos atualmente no Brasil com esse sistema”, completou.

Vacina

O pesquisador da Fiocruz e um dos coordenadores do encontro, Carlos Machado, chamou atenção para o fato de que apesar dos esforços para concluir os testes e fases da vacina até dezembro, ainda há como prever quando haverá uma vacina de fato. “A gente deve trabalhar com a ideia de uma pandemia ou de um desastre que está em curso e não se sabe ainda quando vai terminar. Isso nos obriga a pensar no futuro e como fazer ajustes também nestes momentos”, observou.

“Parto do princípio que alguns ajustes a gente vai ter que fazer. É como trocar o pneu com o carro andando. Não vai ter condições de parar o carro para trocar o pneu”.

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