Saúde

Feira de Santana: Casos de Covid-19 aumentam 105% em 18 dias

Número de contaminados pelo coronavírus passou de 58 para 119 casos. O aumento coincide com a flexibilização do isolamento social e reabertura do comércio local.

Acorda Cidade

Nos últimos 18 dias, 61 novos casos de coronavírus foram confirmados em Feira de Santana-BA. Esse período, compreende a flexibilização do isolamento e a reabertura do comércio em 21 de abril, registrando um aumento de 105% do número de casos de pessoas que testaram positivo para a Covid-19. Esses dados são apresentados em um relatório de pesquisadores do Instituto Federal da Bahia (Ifba) e da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), e pelos voluntários do CoronaVidas.net – coletivo de pesquisadores que se uniram em diferentes frentes de trabalho para reduzir os impactos da doença com ações que vão desde a produção de protetores faciais para doar aos profissionais de saúde até os estudos em Data Science para analisar os dados da pandemia.

De acordo com o pesquisador Fábio Barreto, mestre em Tecnologias aplicáveis à Bioenergia e doutorando em Difusão do Conhecimento (Ufba/Ifba), Feira de Santana demorou 24 dias para ter os primeiros 12 casos. Para atingir 50 casos, foram necessários 46 dias, conforme dados representados no Gráfico 01. As informações indicam que o número de casos de pessoas contaminadas com o coronavírus mais que dobrou desde a flexibilização das medidas de distanciamento social em 21 de abril: “Saímos de 58 para 119 casos no intervalo de 18 dias. Os dados representam um alerta para que as medidas de isolamento social sejam intensificadas em vez de afrouxadas e podem ajudar a tomada de decisões por parte dos gestores públicos”.

Gráfico 01. Crescimento de casos de pessoas infectadas pelo coronavírus na cidade de Feira de Santana.

Segundo o professor pesquisador do IFBA, Fábio Barreto, as duas últimas semanas registraram grandes picos de novos casos conforme pode ser observado no Gráfico 02. Temos a linha verde que representa a projeção dos infectados caso tivéssemos o isolamento de até 60%. A linha azul representa a quantidade de casos diários em Feira de Santana. A grande preocupação é com a linha laranja que indica que a cidade teve um crescimento acentuado do número de casos de Covid-19 desde o dia 21/04. A flexibilização de circulação de pessoas fez com que a curva de infectados aumentasse 105%. A projeção da contaminação é muito maior se comparada com as medidas tomadas anteriormente.


Gráfico 02. Projeção dos casos de Coronavirus: Isolamento x Flexibilização do comércio

Para essa reportagem, foram considerados os documentos fornecidos a partir dos dados dos boletins epidemiológicos da Secretaria de Estado de Saúde da Bahia (Sesab), e do Comitê Gestor Municipal de Controle ao Coronavirus da Prefeitura Municipal de Feira de Santana. A coleta de dados foi realizada entre os dias 06 de março, quando Feira de Santana confirmou o primeiro caso de Covid-19, e o dia 08 de maio, Gráfico 03.

Gráfico 03. Projeção dos casos de Coronavirus: Isolamento x Flexibilização do comércio

Dos 119 casos, 111 foram resultado de transmissão comunitária/local e os outros 08 casos foram importados – pessoas que vieram de outras cidades e regiões do país. Fábio Barreto explica que embora a taxa de letalidade na cidade seja pequena – com registro de 01 óbito – não há cenário para relaxar as medidas de prevenção. “O que observamos a partir dos dados é que, além da testagem massiva para identificação de pessoas contaminadas, as medidas de distanciamento social precisam ser reafirmadas. Não é hora de afrouxar”, enfatizou Fábio Barreto. O pesquisador do IFBA fez um alerta importante: “O coronavírus tem um tempo de incubação. Precisamos considerar isso. É possível que nas próximas três semanas, ainda no mês de maio, tenhamos um número muito maior de contaminados e isso pode agravar a situação do sistema de saúde”. Os relatórios estão disponíveis na internet e podem ser acessados clicando aqui: Relatório Sesab e Relatório PMFS.

A pesquisadora em Comunicação e Saúde, Fernanda Vasques Ferreira, doutora em Comunicação pela Universidade de Brasília e professora da Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob) alertou que medidas de prevenção devem ser tomadas: “Estamos em um momento de crescimento exponencial dos casos de coronavírus no Brasil. Em Feira de Santana os dados são implacáveis e apontam crescimento vertiginoso a partir do momento em que o isolamento social foi flexibilizado. É preciso sensibilizar a imprensa, os formadores de opinião e os gestores públicos para que ações rápidas sejam tomadas no sentido de prevenir a proliferação da doença”.

Segundo a jornalista, que atua como voluntária no projeto CoronaVidas.net e coordena projeto de pesquisa sobre comunicação e saúde, a comunicação em saúde reflete as políticas públicas: “Lamentavelmente há uma correspondência do histórico entre as políticas públicas em saúde e a comunicação. A conduta histórica é a de remediar”. A pesquisadora também alerta para a quantidade de notícias falsas e de desinformação sobre o coronavírus que geram impacto negativo nas ações de prevenção: “As fake News matam pessoas. É urgente trabalharmos em rede para banir a desinformação, fortalecendo a comunicação de qualidade a partir de conteúdos informativos, campanhas que evidenciem as práticas de prevenção. É preciso ouvir os cientistas, as instituições sérias de pesquisa e preservar vidas. Nesse momento, preservar vidas passa pelo isolamento social”, sentenciou a pesquisadora.

Os pesquisadores demonstraram também uma preocupação com relação aos profissionais de saúde. Até o dia 08 de maio, 31% – porcentagem que equivale a um total de 37 pessoas – são profissionais de saúde que testaram positivo para o novo coronavírus. Essa preocupação se estende também em relação à quantidade de leitos existentes na cidade. Dados disponíveis no DATASUS indicam que a rede de saúde de Feira de Santana conta com 133 leitos de UTI. “Um aumento exponencial no número de casos de Covid-19 representa uma diminuição do achatamento da curva de casos e isso deve ser visto com muito cuidado” alertam os pesquisadores.

Pesquisa elaborada pelos professores pesquisadores: Fábio Araújo Barreto (IFBA), Fernanda Vasques Ferreira (Ufob), Leandro Brito (Ufob).

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