Rachel Pinto
O médico Francisco Mota, diretor do Hospital de Campanha de Feira de Santana, fez um alerta para a população em entrevista ao Acorda Cidade na manhã desta quarta-feira (24), sobre a situação crítica em Feira de Santana nesta segunda onda de covid-19. De acordo com ele, o momento é preocupante e o Hospital de Campanha atingiu proporcionalmente a maior ocupação de sua história. Até o momento da entrevista, o médico informou que dos 18 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), 17 estão ocupados.
“Provavelmente este que está disponível deve ser ocupado até o final da manhã. Na enfermaria temos, 29 dos 35 leitos ocupados. Uma ocupação de 82% e isso nunca aconteceu antes no Hospital de Campanha. Faço o apelo para que as pessoas se cuidem, tomem cuidado. As pessoas não estão levando a sério. Não adianta abrir leito de UTI porque não teremos leito de UTI para a população inteira da Bahia e nem para a população inteira de Feira de Santana. Enquanto as pessoas não se cuidarem e terem noção do problema de saúde pública, vão continuar se contaminando”, declarou.
O médico relatou que tem ocorrido um número de admissão de pacientes muito grande no Hospital de Campanha. Segundo ele, são admitidos diariamente cerca de seis pacientes por dia. Ele frisou que o perfil dos pacientes internados é de pessoas com menos de 60 anos e que apresentam a forma mais grave da doença. O tempo médio de internamento em leitos clínicos é de 15 dias, e na UTI cerca de três semanas.
Possibilidade de ampliação de leitos
Francisco Mota afirmou que o secretário municipal de saúde, o médico Edval Gomes, está discutindo a possibilidade de ampliação de leitos para covid-19 na cidade e acertando questões jurídicas e administrativas para anunciá-los.
“Existe a possibilidade de ampliação de leitos e ontem eu estava em discussão com o secretário de Saúde, em reunião, para a gente ver a possibilidade realmente de ampliação de leitos de UTI que não seria só no Hospital de Campanha. Isso já está na mão do secretário. Ele está vendo outras possibilidades. Seria montar uma estrutura de retaguarda em alguma das Upas da cidade para poder segurar esses doentes nesse momento mais crítico da pandemia”, acrescentou.
Comportamento da população
Francisco Mota declarou que uma preocupação constante é em relação às aglomerações e a propagação dos vírus. Na opinião dele, a população está cansada das restrições, acreditando que muita gente já está imune, mas apenas 3% das pessoas foram vacinadas em Feira de Santana.
Ele analisa que as eleições contribuíram para aumentar a contaminação e muitas pessoas ao verem muita gente saindo, passaram a sair também e a se testar. O médico avalia que há um cansaço da população em geral e também dos profissionais de saúde que trabalham na linha de frente da doença. Para ele, o primeiro mau exemplo já vem do presidente da república, Jair Bolsonaro.
“Temos um péssimo exemplo do presidente da república. Isso é fato, ele sai sem máscara, não obedece nada e acredita nas suas próprias crenças. Isso para um líder de nação é lamentável. Além disso, temos o cansaço da população que cansou de ficar em casa. Por já termos a vacina a população passou a ir para rua, como se todos estivessem vacinados e a pandemia tivesse se acabado. Faço um apelo para que as pessoas evitem aglomerações. O cenário é praticamente de guerra, quem está nas unidades de saúde sabe exatamente o que eu estou falando. Podem faltar leitos clínicos e de UTI. Usem máscaras e cuidado com a higienização, principalmente das mãos. A tendência era que a doença durasse até novembro e voltamos com uma segunda onda muito mais forte do que a primeira onda. Já estamos há um ano nisso, semana que vem vai fazer um ano que tivemos o primeiro caso em Feira de Santana”, concluiu.