Semana do Sono

Especialistas reforçam benefícios de cultivar bons hábitos para evitar distúrbios do sono ao longo da vida

De acordo com Carolina Grinfeld, hábitos ruins adquiridos ao longo da vida e problemas relacionados ao estresse podem dificultar uma boa noite de sono e prejudicar a produção do hormônio do sono, chamado melatonina.

Laiane Cruz

Atualizada às 21:15

Foi encerrada nesta quinta-feira (24) a Semana do Sono 2022, com palestras virtuais e orientações gratuitas ao público em geral sobre as causas e riscos trazidos pelos distúrbios do sono à saúde. E quem não acompanhou as lives ao vivo ainda têm a chance de assistir a todo o conteúdo através das páginas oficiais que divulgaram o evento no Instagram.

De acordo com a médica otorrinolaringologista e médica do sono Carolina Grinfeld, as lives e palestras estão disponíveis nas páginas do Instagram @dra.carolgrinfeld, @hotorrinos, @absono e @ligabaianadosono. Ela explicou que, por conta da pandemia, o evento foi realizado de forma online em todo o Brasil.

“A Semana do Sono aconteceu em todo o território nacional em várias cidades e nosso objetivo realmente foi alertar a toda a população sobre os distúrbios do sono, pois muitas vezes o sono é negligenciado, as pessoas dormem pouco, são privadas de dormir pela correria do dia e dia, e não se alertam para o que os distúrbios do sono podem gerar na vida do paciente. Esse ano ainda foi online. Nos anos anteriores fizemos esse evento em Feira de Santana, de forma presencial. Mas desde a pandemia, nós fazemos através de lives, vídeos publicados no Instagram e no site da Semana do Sono. A participação é livre”, explicou a especialista.

Foto: Maylla Nunes/Acorda Cidade

De acordo com Carolina Grinfeld, hábitos ruins adquiridos ao longo da vida e problemas relacionados ao estresse podem dificultar uma boa noite de sono e prejudicar a produção do hormônio do sono, chamado melatonina.

“A melatonina é um hormônio que todos nós produzimos. No período da manhã temos o pico do cortisol, que é o que te mantém alerta. Ao final do dia, esse cortisol tem que reduzir, descer o nível, para que você passe a produzir a melatonina. Só que para ela ser produzida, a gente precisa da escuridão. E por que na pandemia muitas pessoas tiveram problemas para dormir? Porque o cortisol também é o hormônio do estresse, e quando você está estressado, esse hormônio não baixa no final do dia, para que você produza o hormônio do sono. Hábitos ruins também levam a problemas no sono. Muitas vezes as pessoas ficam no celular à noite toda, vendo assuntos ruins, redes sociais, e realmente vão ficar sem dormir. Muitas vezes não é a falta de melatonina que faz a pessoa ficar acordada. Ou fica vendo séries, ou em redes sociais, e isso tudo vai deixar a pessoa com mais estímulos, sendo que à noite a gente precisa de escuridão, relaxamento. A higiene do sono é importante”, orientou a otorrino e médica do sono.

Carolina Grinfeld ressaltou que o uso excessivo do celular, que produz um estímulo luminoso, gera ansiedade e isso propicia um sono de má qualidade. Outro hábito que deve ser observado é o de tirar longos cochilos durante o dia, pois essa atitude também pode impedir uma boa noite de sono.

“O correto é as pessoas deixarem o celular na sala, pois o estímulo luminoso que o celular transmite, a ansiedade de acordar à noite e ficar olhando que horas são, realmente faz com se tenha um sono de qualidade ruim. Já o cochilo é super bem vindo, mas de 30 minutos no máximo. Quando a pessoa troca o dia pela noite, se dorme a tarde toda, não pode esperar que à noite tenha sono. É um hábito ruim. É um padrão alterado, e a pessoa precisa se reeducar a dormir à noite. Pessoas que cochilam o dia inteiro não é normal e é preciso investigar a origem dessa sonolência diurna. Esse paciente tem indicação de fazer uma polissonografia, que é um exame que o paciente dorme na clínica, para investigar o sono. Não é normal cochilar em qualquer lugar”, alertou.

A especialista também falou sobre o sono das pessoas idosas, que segundo ela, também sofre alterações ao longo do tempo.

“Com o decorrer da idade, com o envelhecimento, as pessoas vão tendo uma produção menor de melatonina, então às vezes é necessário repor. Só que a melatonina é um hormônio e muitas vezes a gente vê pessoas fazendo uso indiscriminado, porque está sem dormir direito e compra sem prescrição médica. Mas por ser um hormônio tem absorção hepática, então pode gerar problemas no fígado, pode aumentar o número de pesadelos, e a pessoa pode ficar no dia seguinte sonolenta e prostrada. Se a pessoa acha que está tendo uma qualidade do sono ruim deve procurar um especialista para investigar realmente se tem algum distúrbio e tratar de forma correta. No caso dos idosos, o padrão de sono tende a mudar com o decorrer do desenvolvimento. O idoso tende a ser mais matutino, ele dorme mais cedo e acorda mais cedo, e tem uma possibilidade maior de chochilos durante o dia”, explicou.

A cirurgiã dentista e dentista do sono Eliane Martins, que também participou da Semana do Sono com palestras e orientações ao público, ressaltou sobre o aumento do número de pacientes em seu consultório com queixas relacionadas ao bruxismo, que também se configura em um distúrbio do sono.

Foto: Maylla Nunes/Acorda Cidade

“É muito importante alertar a população sobre o sono. Sabemos que estamos ainda em uma pandemia, e há muita ansiedade, muito problema, falta de emprego, e isso afeta o sono. Chamamos a atenção dos nossos pacientes para adquirirem hábitos, rotinas em sua vida pessoal. É impossível alguém estar na frente da televisão, assistindo programas e filmes de muita ação e achar que ao desligar aquele botão, o nosso cérebro também vai ser desligado. Então nesses momentos o cérebro está entendendo que precisa ficar ativo. Aquela luz que vem de todos os eletroportáteis, como celulares, notebooks e televisão, impedem a liberação da melatonina, que é um hormônio próprio do nosso organismo. Sem dormir bem, acordamos no dia seguinte com aquela sensação de sonolência diurna, não consegue produzir, não é gerado todos os hormônios necessários, que são do sono, a própria insônia gera irritabilidade, e no caso específico da odontologia tivemos muitas queixas durante esse período de pandemia de bruxismo, que é um distúrbio de movimento, onde acontece o apertamento de dentes, levando a fraturas dentárias e de restaurações”, esclareceu a dentista.

Eliane Martins reforçou que o bruxismo não é normal, pois só devemos tocar os dentes no momento da mastigação, no ato fonético, quando se está pronunciando alguma palavra. E normalmente quando estamos com os lábios cerrados, não tem que existir o toque dental, que excessivo, é uma parafunção.

“O bruximo é patológico, precisa ser tratado. Então muitas crianças apresentam isso, já está relacionado à ansiedade. Porque no momento, não são só os adultos que apresentam a ansiedade de uma vida moderna. O tratamento para o adulto é a colocação de placas. O desgaste e o ranger dos dentes costuma ser alto, e a pessoa acorda com um cansaço na musculatura e isso repercute muitas vezes em dor de cabeça. É importante saber que não existe uma causa pra isso, é uma doença multifatorial. Pessoas com doenças neurológicas, por exemplo, portadores de Parkinson, apresentam bruxismo, fatores associados ao álcool, tabagismo, refluxo, fatores genéticos, mas principalmente depressão e estresse”, informou. 

 

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