Dia Mundial do Transtorno Bipolar

Especialistas explicam como o transtorno bipolar se manifesta e seus principais sintomas

O diagnóstico correto continua sendo a melhor maneira para lidar com a doença, a fim de realizar o tratamento adequado.

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Foto: Gino Crescoli /Pixabay

Nesta quinta-feira (30), é celebrado o Dia Mundial do Transtorno Bipolar. A data foi criada com o objetivo de aumentar a conscientização e a aceitação da doença, eliminar o estigma social, assim como promover o financiamento de pesquisas e a excelência no seu atendimento clínico.

Dados de 2019 da Organização Mundial da Saúde (OMS) já indicavam que o problema atingia cerca de 140 milhões de pessoas no mundo. Conforme o Ministério da saúde, a doença atinge mais os jovens, sobretudo entre os 15 e 25 anos. Contudo, o último estudo epidemiológico apontou para um pico tardio entre 45 e 55 anos. E com a pandemia o aumento de diagnósticos de pessoas com o transtorno de bipolaridade também se elevou bastante.

Em entrevista ao Acorda Cidade, o psicólogo do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas Gutemberg Almeida (Caps AD), Jefferson Xavier, informou que o transtorno bipolar é uma oscilação do humor muito acentuada em que o paciente, que possui essa condição psíquica, vai oscilar entre um ponto muito alto de euforia e um ponto acentuado de depressão. Até por isso, o transtorno bipolar costuma ser confundido com outras doenças mentais.

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Foto: Ney Silba/Acorda Cidade

“Devido a uma característica forte do transtorno bipolar ser o estado de depressão ele pode ser confundido com a depressão. Em alguns casos ele é confundido com a esquizofrenia e pode ser confundido também com o transtorno do impulso, mas é necessário fazer um diagnóstico diferenciado para entender de verdade o que é este transtorno e como ele se manifesta no paciente”, explicitou.

O transtorno bipolar possui duas fases bem características.

Fase de euforia

Nesta fase o indivíduo é permeado pelo desejo, pela satisfação e pelo prazer. “É quando a pessoa quer fazer tudo na hora que ela quer, com muita intensidade”, descreveu.

Sintomas característicos desta fase:

– sensação de extremo bem-estar;
– aceleração do pensamento e da fala;
– agitação e hiperatividade;
– diminuição da necessidade de sono;
– aumento da energia;
– diminuição da concentração;
– euforia ou irritabilidade;
– desinibição;
– impulsividade;
– ideias de grandiosidade e sensação de “poder”.

Fase de depressão

É a fase em que existe o sentimento de culpa. “A pessoa começa a se arrepender de ter feito algo, então após o auge, do momento da satisfação e prazer, o indivíduo vai passar por aquela fase depressiva”, pontuou o especialista ao Acorda Cidade.

Sintomas característicos desta fase:

– alterações de apetite com perda ou ganho de peso;
– humor deprimido na maior parte dos dias;
– fadiga ou perda de energia;
– apatia, perda de interesse ou prazer;
– pensamentos recorrentes de morte ou suicídio;
– agitação ou retardo psicomotor;
– sentimentos de culpa ou inutilidade;
– desânimo e cansaço mental;
– tendência ao isolamento tanto social como familiar;
– ansiedade e irritabilidade.

Além disso, a pessoa com transtorno bipolar também pode permear para a fase mista, ora eufórica, ora depressiva.

Gatilhos mentais e pandemia

A avaliação clínica é primordial para entender como o transtorno se desenvolve e as formas de lidar com ele.

“Por ser uma questão psíquica no indivíduo e por ser confundido com outros sintomas e transtornos, as pessoas não conseguiram ainda se localizar nessa situação. E com a pandemia, uma série de transtornos mentais acometem a saúde mental de muitas pessoas. Os casos já existiam, porém a procura por tratamento foi maior, decorrente do momento de isolamento, do medo, que são gatilhos para o surgimento de uma série de transtornos mentais, como o transtorno bipolar”, abordou.

O transtorno bipolar pode ser desenvolvido em qualquer fase da vida.

“Este transtorno tem 90% de prevalência genética e pode ser desencadeado em qualquer fase da vida. Existem crianças que têm e que possuem os sintomas bem acentuados do transtorno, adolescentes, ou na fase adulta. Não tem um tempo determinado que ele vai se apresentar, mas quando ele se apresenta, geralmente, demora para ser diagnosticado por existir uma cultura de ignorância da família, da sociedade, em entender a condição psíquica desse indivíduo. Pela demora em ser diagnosticado ele também demora a ter um tratamento adequado”, destacou.

Agravamento da doença

Existem vários fatores que podem contribuir para o agravamento da doença mental. “O contexto em que a pessoa está inserida, o modelo de vida que ela está aplicada, as atividade que ela faz, os hábitos que ela se expõe, e a forma que acontece, nos momentos de crise, o enfrentamento e o cuidado”, apontou o psicólogo.

Ideação suicida e a importância do diagnóstico

Em fases latentes da doença, o diagnóstico demorado ou negligenciado pode colocar a vida da pessoa com transtorno em risco. Assim como também a vida de pessoas próximas.

“O paciente pode ser extremamanete agressivo, e na fase de depressão, há um índice de 15% que cometem suicídio, porque é um pico muito alto de depressão, e a pessoa se sente tão desamparada que para ela a alternativa para acabar com esse sofrimento é a morte”, explicou.

O transtorno bipolar acomete pessoas no mundo todo e com a pandemia isso ganhou mais evidência. “Falar sobre isso ajuda a trazer um novo olhar para a saúde mental e é importante, porque podemos diagnosticar, cuidar e tratar esse paciente”.

O Caps AD apresenta muitas desistências e também uma procura grande por atendimento. E dentre as pessoas que buscam atendimento na Caps, há, aproximadamente, acima de 4.000 pessoas com algum transtorno, conforme informou Jefferson Xavier ao Acorda Cidade.

“Como a clínica do Caps AD é muito dinâmica, a gente tem uma procura muito grande e também uma desistência muito grande desses pacientes pelo tratamento e muitos desses pacientes que são dependentes químicos, já trazem um desencadear de outros transtornos. E muitos podem enveredar pelo vício, que é uma condição que também é um sintoma da doença”, concluiu.

Tratamento medicamentoso

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Foto: Ney Silba/Acorda Cidade

O médico psiquiatra do Caps AD, Igor Teixeira Brito, esclareceu ao Acorda Cidade que o tratamento com remédio é obrigatório para o paciente com transtorno de bipolaridade.

“A gente não consegue dar uma boa qualidade de vida para a pessoa com transtorno bipolar sem que ela faça o uso de medicamentos”, sinalizou.

O transtorno bipolar, assim como também abordado pelo psicólogo Jefferson, pode deixar a pessoa feliz demais ou triste demais, mas nem a tristeza e nem a alegria são naturais.

“Dentre esses medicamentos temos o estabilizador de humor. Usamos o estabilizador para mantermos essas pessoas com humor constante que não oscile. E também combinamos com outros medicamentos a depender da fase em que ela se encontre”, contou.

Foto: Ney Silba/Acorda Cidade

Desistências

Na fase da euforia, quando a pessoa está com uma alegria que não é natural, a pessoa pensa que não precisa de tratamento, indicou o psiquiatra.

“A pessoa se sente bem a ponto de achar que não tem um problema, que não tem uma doença, a ponto de achar que não precisa de um remédio. Por isso, no diagnóstico do transtorno bipolar é preciso também a psicoeducação. Deve ser feito tanto pelo médico quanto pelo psicólogo e no caso da pessoa ser assistida em um serviço multifuncional como o Caps é dever de todo profissional está trabalhando isso com o paciente, sobre a necessidade de tomar as medicações, de ter bons hábitos de vida, alimentares, atividade física, evitar o uso de substâncias psicoativas”, elencou.

Ao ser confirmado o diagnóstico, a pessoa com o transtorno afetivo bipolar fará o tratamento pelo resto da vida.

“As medicações podem variar, os tipos de remédios, as doses, mas pela experiência que a gente tem, a gente sabe que a pessoa precisará fazer o tratamento pela vida toda, inclusive fazer o uso das medicações”, concluiu o psiquiatra Igor Brito.

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Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade.

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